Comemoração do golpe de 64 termina em tumulto
Militantes de partidos de esquerda tentaram impedir um evento fechado, organizada por militares da reserva
Uma comemoração pela passagem dos 48 anos do golpe militar de 1964, organizada por militares da reserva, terminou em confusão e pancadaria no Centro do Rio de Janeiro. Cerca de 350 manifestantes – entre eles militantes do PT, do PCdoB, do PSOL e de outros partidos de esquerda – bloquearam o acesso ao Clube Militar, e tentaram impedir a saída dos participantes do evento – um painel intitulado “1964 – A Verdade”. A Polícia Militar foi chamada para garantir a segurança dos convidados.
Empunhando cartazes que denunciavam perseguições, tortura e mortes ocorridas durante o regime militar, os militantes xingavam os militares de “porcos”, “assassinos”, covardes”. A PM usou gás de pimenta e bombas de efeito moral, e os manifestantes revidaram com ovos. Foi organizado um corredor para permitir que os militares deixassem o evento em segurança. Miriam Caetano, de 33 anos, foi ferida na barriga. Três pessoas foram detidas.
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Segundo testemunhas, a confusão começou quando um dos militares pegou o celular de um manifestante, que reagiu. Começou um empurra-empurra, e o estudante de Ciências Sociais Antônio Canha, de 20 anos, foi atingido pela descarga de uma pistola Taser. A escadaria do Clube Militar recebeu um banho de tinta vermelha – alusiva ao “sangue dos mortos pela ditadura”.
O Clube Militar fica no final da Avenida Rio Branco, próximo à Cinelândia, uma das regiões mais movimentadas da cidade. A manifestação fechou a via por dez minutos, provocando um nó no trânsito, que normalmente já é lento na direção Centro-Zona Sul na hora do rush vespertino. A Rio Branco só foi liberada por volta das 19h.
A manifestação foi convocada através do Facebook, por um autointitulado “Grupo Organizador do Ato Contra a Comemoração do Golpe de 64”, que defende a “instauração imediata da Comissão da Verdade com o único propósito de se tornarem públicas as violações de Direitos Humanos que foram cometidas na ditadura militar”. O panfleto que circulou pelas redes sociais defende que “os torturadores da ditadura militar sejam desmascarados de uma vez por todas”, e convoca para o ato “em memória dos torturados e desaparecidos de outrora homenageando única e exclusivamente a verdade”. Até a manhã desta quinta-feira, três mil pessoas haviam confirmado presença.
Partidos – Os diretórios do PT e PSOL no Rio de Janeiro informaram não ter participado da convocação da manifestação. O presidente do PT do município do Rio, Alberes Lima, disse que, em sua opinião, a manifestação “não leva a lugar algum”.
A deputada estadual Janira Rocha, presidente do diretório estadual do PSOL, disse que o partido é “contrário a qualquer atitude antidemocrática”, e que soube do ato na tarde desta quinta-feira. “Lamentamos o clima pesado. Mesmo com as posições estando acirradas, com grau mínimo de interlocução, é possível fazer a manifestação de forma tranquila”, disse Janira.
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