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Biografias não-autorizadas: liberdade à vista

Por Luiz De França
17 ago 2009, 17h21

No mercado editorial brasileiro, em que mais de 200 milhões de livros são vendidos por ano, algumas obras biográficas desaparecem das prateleiras das livrarias e bancas de revistas em menos de vinte e quatro horas. Não porque foram um fenômeno de vendas, e sim porque foram retiradas do mercado a mando da Justiça – confira aqui alguns casos polêmicos envolvendo biografias. A onda de proibição de biografias não-autorizadas, que tem dado prejuízo financeiro às editoras e cerceado a liberdade de expressão dos autores, pode estar com os dias contatos graças a um projeto de lei (PL) do deputado federal Antônio Palocci (PT-SP) que trata do assunto.

O projeto já recebeu parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados, mas foi retirado da pauta de votação da comissão por duas vezes por falta de consenso. Se aprovado, seguirá para o Senado.

“O projeto vai resguardar o direito dos brasileiros a terem acesso aos seus personagens”, diz Sônia Machado Jardim, presidente do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel) e diretora da Editora Record. “Não pretendemos que sejam publicadas inverdades nem calúnias, mas que detalhes que revelem traços verídicos de personalidades públicas, que ajudem a compreender sua trajetória de vida, possam ser públicos”, acrescenta.

Chega de proibição – O PL, de número 3378/08, pretende alterar o artigo 20 do Código Civil Brasileiro de 2002. O texto substitutivo diz que a ausência de autorização não impedirá a divulgação de imagens, escritos e informações com finalidade biográfica de pessoa cuja trajetória pessoal, artística ou profissional tenha dimensão pública ou esteja inserida em acontecimentos de interesse da coletividade.

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Segundo análise do Observatório do Livro e da Leitura, o PL também contempla as obras audiovisuais adaptadas de livros biográficos para TV e cinema, sem necessidade de autorização. Segundo Roberto Feith, diretor-presidente da Editora Objetiva, a intenção é separar a pessoa pública da privada e fazer com que o direito à privacidade e à imagem seja reduzido gradativamente à medida em que as pessoas se tornem públicas.

Herdeiros – De acordo com os editores, a maioria das ações judiciais contra as editoras é impetrada pelos herdeiros dos biografados. No Brasil, os direitos sucessórios são estendidos até o neto, podendo incluir o bisneto, conforme o entendimento jurídico. “Muitas vezes eles nem questionam a veracidade do fato, estão mais preocupados em ganhar dinheiro”, afirma Feith.

“A indústria do herdeiro está ficando cada dia mais intolerável”, declara o escritor Ruy Castro, que viu o seu livro Estrela Solitária � Um Brasileiro Chamado Garrincha alvo de ação judicial por parte das filhas do jogador. “Uma semana antes de o livro sair, em novembro de 1995, um dos advogados das filhas ligou para a editora, comunicando que ia iniciar o processo. Mas disse que ‘tinha acordo’: se a editora pagasse 1 milhão de reais”, conta. Segundo Castro, a Companhia das Letras não aceitou a “chantagem”. A consequência foi a proibição da venda e a reimpressão do livro por 11 meses. O processo se arrastou até 2006, quando houve acordo entre as partes.

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Na opinião do diretor-geral da multinacional Editora Planeta – que publicou Roberto Carlos em Detalhes (Planeta, 2006) e foi obrigado a retirá-lo do mercado após decisão judicial -, o Brasil é o país com a legislação mais conservadora em que a empresa atua. “Em qualquer outro país, se o biografado sente que sofreu algum prejuízo de imagem, ele tem todo o direito de reclamar”, explica. “Mas os livros nunca são recolhidos por decisões judiciais, como acontece aqui.”

Biografias problemáticas

Biografias problemáticas

Algumas obras que foram parar na Justiça

Tabela
Tabela
Obra e autor (editora) Ano Biografado O que aconteceu
Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César Araújo (Planeta) 2006 O cantor Roberto Carlos O livro foi recolhido das livrarias em abril de 2007, depois de o cantor entrar na Justiça alegando que a obra invadia sua privacidade
Estrela solitária, de Ruy Castro (Companhia das Letras) 2005 O jogador de futebol Garrincha O livro foi recolhido das livrarias e só voltou ao mercado 11 meses depois, após acordo com as filhas do jogador
Em Busca da Luz, de Luiz Carlos Maciel e Maria Luiza Ocampo (Record) 2002 Atriz Dorinha Duval, a primeira Cuca do Sítio do Picapau Amarelo, que revela por que matou o marido, em 1980 O enteado da atriz pediu o recolhimento da obra alegando que fatos de sua infância foram expostos sem autorização. A Justiça negou o pedido
Apenas Uma Garotinha, Eduardo Belo e Ana Cláudia Landi (Planeta) 2005 A cantora Cássia Eller Uma amiga e um tio da cantora alegam que foram prejudicados por detalhes do livro. O caso ainda corre na Justiça
Na Toca dos Leões, de Fernando Morais (Planeta) 2005 A vida de Washington Olivetto, Javier Llussá Ciuret e Gabriel Zellmeister, os fundadores da agência de publicidade W/Brasil O deputado federal Ronaldo Caiado � citado na obra � pediu o recolhimento do livro. A Justiça não atendeu ao pedido
O Mago, de Fernando Morais (Planeta) 2008 O escritor Paulo Coelho A Justiça obrigou a editora a pagar 50.000 reais ao ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer por dano de imagem dele, mas negou o pedido o recolhimento do livro
A Vida e a Literatura de João Guimarães Rosa, de Alaor Barbosa (LGE Editora) 2008 O escritor João Guimarães Rosa A Justiça proibiu a venda e determinou a apreensão da obra, atendendo a pedido da filha do escritor, Vilma Guimarães Rosa
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