Arcebispo do Rio rezará missa de Natal na igreja da Penha
Dom Orani Tempesta trocará a Catedral Metropolitana pelo santuário na Missa da Aurora. "Renasceu ali a esperança de tempos melhores", diz
“Um dos objetivos de celebrarmos a missa na Igreja da Penha é dizer que demos alguns passos, mas precisamos dar outros”
Durante anos, a Igreja da Penha foi o único reduto de paz no cenário acidentado composto pelo Complexo do Alemão e Vila Cruzeiro. Hoje, os 382 degraus parecem menos distantes do bairro que leva o seu nome. A quantidade de visitantes aumentou significativamente. É o início do que pode ser o renascimento da região. Por esse motivo, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, decidiu quebrar uma tradição e celebrar ali – e não na Catedral Metropolitana – a Missa da Aurora, a primeira da manhã do dia 25.
“A manhã supõe vida nova, ressurreição. Renasceu na Igreja da Penha a esperança de tempos melhores. Estaremos lá para mostrar que por mais que tenhamos problemas, dificuldade e violência, continuamos acreditando no amor”, disse dom Orani ao site de VEJA.
Do alto da igreja da Penha avista-se nitidamente a Serra da Misericórdia, por onde os bandidos da Vila Cruzeiro fugiram para escapar do confronto com os policiais. E o complexo de favelas se impõe na paisagem, mostrando o quanto ainda falta ser feito. “Um dos objetivos de celebrarmos a missa na Igreja da Penha é dizer que demos alguns passos, mas precisamos dar outros. E, olhando para o alto, reforçarmos a nossa responsabilidade com essa cidade bonita, que será ainda mais bonita quanto mais paz tiver”.
O guardião do santuário, padre Serafim Fernandes, emociona-se com a ida do arcebispo para rezar a missa de Natal. Com a fala embargada, diz que é uma felicidade recebê-lo, principalmente na data em que se comemora o nascimento de Cristo.
O padre é uma espécie de metonímia da igreja da Penha. Mesmo nos momentos mais difíceis da invasão, manteve-se firme para receber os que buscavam uma palavra reconfortante. Esteve 24 horas a orar, em meio aos traficantes que usavam os arredores da igreja como posto de observação e, depois, entre os policiais que fiscalizavam a área. Nada o desviou de sua missão de fazer daquele santuário um lugar de encontro. “A igreja nunca foi abandonada. Permaneci aqui noite e dia. É o meu dever e também é uma atitude de solidariedade com a população”, explica.
É para essas pessoas que dom Orani pregará neste Natal. A ideia do arcebispo é falar do que gostaria que acontecesse de agora em diante. Ele sabe que nada será automático, mas defende que todos os fiéis mantenham-se no caminho de uma sociedade mais justa. Para dom Orani, este será um momento de reflexão e mudança. “As pessoas têm de acreditar que o ser humano pode ser novo. O Natal, a cada ano, é a nova oportunidade de fazer o novo. Talvez este ano seja um pouco mais, por causa dos acontecimentos. Se aproveitarmos bem isso, poderemos fazer diferente.”