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Aguinaldo Silva reclama da intromissão de ministra

Iriny Lopes pediu formalmente à TV Globo para incluir punição de agressor na trama de Fina Estampa. Autor diz que cena já estava escrita

Por Adriana Caitano
6 out 2011, 17h07

Depois de tentar tirar do ar a propaganda em que Gisele Bündchen aparece de sutiã e calcinha dando más notícias ao marido e de apoiar os metroviários que querem o fim da famosa dupla Valéria e Janete, do Zorra Total, a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, quer agora decidir os rumos da novela Fina Estampa, da TV Globo. Na quarta, ela enviou um ofício à emissora sugerindo que a personagem Celeste (Dira Paes) denuncie o marido Baltazar (Alexandre Nero) na próxima vez que for agredida por ele.

Sem saber o que o autor Aguinaldo Silva reservava para o futuro dos personagens, Iriny demonstrou preocupação com o fato de Celeste não ter coragem de registrar ocorrência contra Baltazar. No documento, ela indica que a dona de casa vivida por Dira Paes procure o serviço da Rede de Atendimento à Mulher, divulgando a central coordenada por sua pasta.

Citando a Lei Maria da Penha, que prevê a prisão de homens que agridem mulheres, a ministra ressalta o merchandising social feito pela TV Globo nas novelas. “Acredito que a ficção tenha força para alertar a sociedade contra esse mal que aflige milhares de mulheres, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro”, afirma Iriny. “A secretaria tem com a emissora uma relação bastante cordial e por isso nos sentimos à vontade para encaminhar o ofício, após iniciarmos conversações”.

Reação – Ao ser informado pelo site de VEJA sobre o ofício elaborado por Iriny Lopes, o autor da novela Fina Estampa, Aguinaldo Silva, reagiu com humor. “Mas ela chegou bem atrasada, porque a cena da prisão do Baltazar já está escrita há três semanas”, comentou, aos risos. “A ministra pode ficar tranquila porque, antes do oficio dela chegar, a situação da Lei Maria da Penha já estava contemplada no meu texto”.

Segundo Aguinaldo, o personagem vivido por Alexandre Nero vai “dar uma surra monumental” na mulher e, só aí, vai ser finalmente denunciado por Celeste. “Evidentemente que a gente quer denunciar o problema. Mas a trama tem 180 capítulos, precisa de um processo”, destaca. “Tenho que mostrar que o homem é violento, que a mulher tem medo dele, que pensa nas consequências de uma denúncia e que só reage depois de ultrapassados os limites. Mostramos o problema em todas as etapas e isso faz as pessoas refletirem sobre o assunto”.

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O autor preferiu não comentar as intromissões anteriores da ministra, mas não gostou nada dos palpites de Iriny em seu trabalho. “Ela está fazendo o papel dela com uma certa impaciência. Procurar saber o que vai acontecer na novela é uma interferência no trabalho criativo que não lhe cabe”, critica.

Aguinaldo ainda avisa: “Por mais que a ministra esteja apressada, a cena só vai ao ar daqui a três semanas. Ela pode confiar em mim, sou um feminista, até mais do que ela, que só chegou ao front agora”.

Liberdade – Na carta em resposta à ministra, o diretor da Central Globo de Comunicação, Luis Erlanger, foi mais ameno ao afirmar que ela estava em sintonia com a produção global, já que os capítulosnos quais o agressor é punido já haviam sido feitos. Erlanger destaca também que a emissora procura causar reflexão nos telespectadores ao citar ocasiões inspiradas na vida real. “Com certeza a ficção e a liberdade de expressão estarão em consonância com que se espera”, disse.

Apesar de evitar criticar a atitude de Iriny, o diretor deixa implícito que os autores são livres para exercer sua criatividade e, portanto, não serão induzidos a modificar as tramas. “Nesta segunda-feira mesmo passamos a divulgar um aviso ao término dos nossos programas de teledramaturgia ressaltando que são obras coletivas de ficção baseadas na livre criação artística sem compromisso com a realidade”, ressaltou.

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Reincidência – A ministra começou a fazer ingerências em produções televisivas na última semana. A intromissão começou com a propaganda da marca de lingerie Hope em que Gisele põe as curvas à mostra para acalmar os ânimos do marido. “A peça promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas”, reclamava Iriny.

Nesta quarta, ela manifestou apoio ao sindicato dos metroviários de São Paulo, que se irritou com as cenas em que Janete (Thalita Carauta) sofre assédio dentro do metrô e é encorajada pela transexual Valéria (Rodrigo Sant’Anna) a aceitar a investida. “Parabenizamos a iniciativa [dos metroviários] e endossamos a necessidade de ações como esta que visam desconstruir discursos de uma cultura que, até camuflada no humor, perpetua a violência simbólica contra as mulheres”, afirmou a ministra.

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