Às 12h30 do dia 13 de agosto, o senador Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência da República, pousou em Natal (RN) para uma rodada de viagens pelo Nordeste, na época considerado o plano de voo ideal para subir nas pesquisas. Informações desencontradas sobre o paradeiro do adversário Eduardo Campos chegavam à cúpula da campanha do PSDB. Minutos depois, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, confirmou a notícia: Campos havia morrido em um acidente aéreo na cidade de Santos (SP). Aéco trancou-se em um quarto. “Podia ter sido eu”, disse o tucano aos assessores mais próximos. Afirmou que não tinha preparado a própria família para tragédias como a que abateu o ex-governador de Pernambuco. E telefonou para a filha Gabriela e para a mulher, Letícia. O filho Bernardo, prematuro, havia recebido alta na mesma semana e provocado uma rápida interrupção na maratona de viagens do tucano. A morte de Eduardo Campos mudaria completamente a campanha presidencial.
Nas últimas semanas de campanha, Aécio voltou a recorrer ao Nordeste. Entre uma cidade e outra da região metropolitana de Belo Horizonte, telefonou para correligionários e pediu que espalhassem em estados nordestinos que ele havia pedido novamente a bênção de Padre Cícero para vencer as eleições. Em seguida, já municiado com as recentes pesquisas que apontavam seu crescimento, disse ao site de VEJA que o curso daquela campanha presidencial tinha saído do controle pelo “imponderável” e que ele não havia errado em sua estratégia eleitoral. Comemorou o crescimento em colégios eleitorais estratégicos, como Minas Gerais e São Paulo e confidenciou: as pesquisas internas do PSDB apontavam empate técnico na véspera do primeiro turno. O ânimo dos primeiros dias de campanha havia voltado.
Políticos que acompanharam de perto a construção da candidatura do senador Aécio Neves à Presidência da República contam que o mineiro havia feito os primeiros gestos concretos em fevereiro do ano passado: afagou o senador paulista Aloysio Nunes Ferreira com a liderança do PSDB na Casa, e assegurou uma das vice-presidências do partido para o ex-governador Alberto Goldman. Às vésperas de ser confirmado como presidente nacional do PSDB, em maio do ano passado, terminava de construir as principais pontes com o grupo ligado ao ex-governador José Serra. Nas últimas duas eleições presidenciais, os próprios tucanos reconheceram que disputas internas desmobilizaram a sigla e ajudaram a minar as chances de derrotar o PT.
Bem avaliado como governador de Minas Gerais por dois mandatos e com o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Aécio ganhou o aval do partido para ser o nome tucano a concorrer ao cargo mais alto da República. Mas, se a candidatura de Aécio foi costurada livre das recorrentes disputas internas em eleições passadas, um conjunto de fatores externos colocou em risco a passagem do PSDB para o segundo turno: a trágica morte de Eduardo Campos (PSB) em agosto levou a ex-senadora Marina Silva (PSB) ao páreo em um momento de forte comoção no país. Mais: o candidato tucano ao governo de Minas Gerais, Pimenta da Veiga, enfrenta uma campanha complicadíssima no segundo maior colégio eleitoral brasileiro, terra natal de Aécio.
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No início do ano, quando ainda arrematava as linhas finais que utilizaria na campanha presidencial, Aécio tinha metas claras para abrir vantagem de pelo menos 3 milhões de votos em Minas Gerais, seu reduto político, e ser o protagonista da oposição ao PT. As intenções de votos em solo mineiro, entretanto, demoraram a aparecer. Depois de uma infrutífera imersão ao Nordeste, onde não era – e continua não sendo – conhecido pelo eleitorado, Aécio decidiu apostar as fichas no seu estado. A cada pesquisa em setembro, o tucano encampava uma subida lenta, porém contínua. Com isso, chegou a 26% na véspera da eleição, ultrapassando Marina pela primeira vez. E os votos de Minas Gerais devem levá-lo ao segundo turno.
Aos primeiros indícios de que havia voltado a ser competitivo, com chances de ultrapassar Marina Silva e disputar o segundo turno com a petista Dilma Rousseff, Aécio se dedicou a uma espécie de imersão mineira. Visitou as principais cidades do estado e lugares onde tradicionalmente não costuma ir, como a favela Pedreira Prado Lopes, em Belo Horizonte. Enquanto caminhava de favela em favela a dois dias das eleições, recebeu o novo tracking (pesquisas internas): havia ultrapassado Marina Silva e estava na segunda colocação, embora ainda na margem de erro. No último dia de campanha, tentou os últimos votos novamente em comunidades mais carentes e, ao avistar simpatizantes petistas durante o trajeto de uma de suas carreatas, se recusou a mudar de rota. Seguiu adiante.
Ainda que nos últimos dias o clima na campanha do tucano tenha sido de euforia com a possibilidade concreta de chegar ao segundo turno – se o quadro não fosse revertido, ele seria o primeiro tucano a não disputar o turno em 20 anos -, os quatro meses de disputa eleitoral foram de altos e baixos, conforme descrição dos próprios correligionários. Publicamente, Aécio sempre disse que chegaria ao segundo turno, mas teve de administrar contratempos como o desânimo de aliados – alguns evitaram aparecer ao lado do candidato para não comprometer suas candidaturas nos estados -, queda na arrecadação de recursos após cair para a terceira colocação e a notícia de que construiu um aeroporto, quando era governador, na terras de familiares – ele afirma que a área é pública.
Nos últimos dias de campanha, já com indicações de levantamentos internos de que chegaria empatado com Marina Silva às vésperas das urnas, retirou o peso das críticas a Marina Silva. A estratégia, apoiada por caciques como Fernando Henrique Cardoso, é interpretada como um sinal claro de abertura de uma possível aliança no segundo turno.
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VEJA Mercado
A divisão entre indicados de Lula e Bolsonaro no Copom e entrevista com Alexandre Schwartsman
As bolsa europeias e os futuros americanos são negociados em baixa na manhã desta quinta-feira, 9. Agora é oficial: o Copom mudou a rota da política monetária brasileira. O comitê projetava na reunião passada um corte de 0,5 ponto percentual na taxa Selic agora em maio. Não rolou. O Banco Central cortou os juros em 0,25 ponto percentual, para 10,50% ao ano. A decisão já era esperada pelo mercado e escancarou a divisão entre os membros do comitê. Os diretores e o presidente indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro são maioria e votaram por um corte de 0,25 ponto percentual na Selic. Os quatro indicados pelo governo Lula defenderam um corte maior de 0,5 ponto percentual. O comunicado do Copom diz que o cenário externo de mostra mais adverso e exige mais cautela no combate à inflação. O Brasil vai importar 1 milhão de toneladas de arroz por causa da destruição de safras no Rio Grande do Sul. Empresas como GM, Gerdau e Renner tiveram suas operações prejudicadas. O governo anunciou 1,7 bilhão de reais em obras para prevenção de desastres naturais. Diego Gimenes entrevista Alexandre Schwartsman, economista, colunista de VEJA e ex-diretor do Banco Central.
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