Por que Timochenko não ganhou o Nobel da Paz?
Timochenko, criminoso convicto, ainda não provou que é merecedor de reconhecimento internacional
Apesar de a negociação do acordo de paz da Colômbia ter sido principalmente entre duas pessoas, o presidente Juan Manuel Santos e o guerrilheiro Rodrigo Londoño, o Timochenko, só o primeiro levou o Nobel da Paz. Até a ex-refém, Ingrid Betancourt, achou isso estranho. “É difícil para mim dizer isso, mas eu tenho que ser justa, mesmo que eles tenham sido meus sequestradores. Eu acho que é verdade que eles se transformaram”, disse.
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A princípio, o fato de que Timochenko integra uma organização terrorista, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) não seria um problema. Em 1994, o palestino Yasser Arafat, então líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) foi um dos ganhadores do Nobel da Paz. A OLP, até 1991, era considerada como organização terrorista pelos Estados Unidos.
Mas há vários motivos para que Timochenko não tenha recebido a honraria. O principal deles é a sua biografia.
Timochenko coleciona crimes tão graves quanto homicídios múltiplos, sequestro extorsivo, rebelião, terrorismo, dano contra propriedade alheia, agressões e furtos qualificados. Mais de uma centena de ordens de captura foram emitidas contra o terrorista que acumula mais de uma dezena de condenações que vão de dez a 57 anos de prisão cada uma. “Atribuir um prêmio de paz a alguém amplamente acusado de crimes graves poderia polarizar ainda mais o país”, disse a VEJA o cientista político americano Michael Weintraub, da Universidade dos Andes, em Bogotá.
Como o acordo não foi ratificado pela população, haveria ainda o risco de Timochenko retomar suas práticas nefastas, o que mancharia o Nobel.
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Outro motivo para não dar a ele essa alegria é estratégico. Ao premiar Santos, o comitê do Nobel mandou uma mensagem de que é necessário fazer mais concessões ao presidente para que ele poder conciliar as posições da guerrilha com as da oposição.
Se o prêmio fosse dado a Timochenko, isso lhe daria uma força extra, que poderia voltar-se contra as negociações. “Do jeito que ficou, as Farc estão paralisadas. Elas terão de aceitar as condições de Uribe ou voltar a buscar refúgio na Venezuela”, diz o cientista político colombiano Vicente Torrijos, da Universidade do Rosário, em Bogotá.