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João Maia, fotógrafo: `Não quero ser visto como o ceguinho`

Com deficiência visual desde os 28 anos, João Maia é especializado em registrar imagens de esportes paralímpicos

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 dez 2018, 09h33 - Publicado em 7 set 2016, 17h02

As referências ainda estavam frescas na memória: havia chovido e seguramente se formariam lâminas de água em alguns pontos da pista de atletismo. O sol já ardia novamente e o contraste seria perfeito. Câmera bem próximo do chão, pouca distância do elemento principal, ângulo correto, bastava respirar e esperar que o atleta passasse pelo quadro e garantir o clique com sua imagem em movimento refletida no espelho de água. Um registro que beira o trivial, não fosse o autor da imagem praticamente cego.

João Maia, 41 anos, piauiense de Bom Jesus, será o primeiro fotógrafo com deficiência visual a cobrir um evento olímpico, a Paralimpíada do Rio, a partir da quarta-feira 7. Há vinte anos morando em São Paulo, João trabalhava como carteiro e enxergava perfeitamente até os 28 anos, quando uma doença autoimune, a uveíte bilateral, o fez perder a visão, paulatinamente. “Sou cego de um olho e com o outro só enxergo vultos, borrões. Na pista eu sou cego.” João descobriu o esporte e começou a praticar arremesso de peso e lançamento de dardo e disco. Ganhou uma bolsa de estudos, formou-se em história e por pouco não representou o Brasil nos Jogos como atleta.

https://www.youtube.com/watch?v=_KuJ-Uy5zwQ

A paixão do piauiense pelas lentes vem da adolescência, época em que fazia cursos por correspondência no seu estado natal. “Estudei muito, me especializei. A fotografia é para todos.” Ao lado de um colega cadeirante, João foi descoberto enquanto fotografava um evento paralímpico nacional, em 2015, e recebeu convite para integrar o time de fotógrafos da Superação 2016, um projeto artístico que dará origem a uma exposição sobre os Jogos.

João vive sozinho em um apartamento modesto no bairro do Brás e passa o dia todo ouvindo uma voz feminina: seu celular e computador são configurados com um programa de voz que lê todos os comandos. Com incrível destreza, o fotógrafo responde a mensagens, e-mails, envia seus arquivos de foto e trabalha normalmente.

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A habilidade tecnológica é uma das razões do seu sucesso. Ele costuma fotografar com uma câmera profissional tradicional, Canon D70, mas na Rio 2016 estará armado apenas com seu iPhone falante. “Com a câmera, fotografo totalmente cego, não tenho ajuda nem como fazer ajustes manuais, é tudo no automático. No celular, uso a câmera como qualquer pessoa.” O aplicativo nativo do smartphone avisa se João está gravando um vídeo, tirando uma foto, com ou sem flash, e até a distância entre ele e seu fotografado. “Não quero ser visto como o ceguinho, o coitadinho, mas como fotógrafo.”

Antes de clicar a foto do atleta com a imagem refletida no espelho de água, João lembrou de uma imagem que tinha visto quase daquele jeito. Pediu a um amigo que o levasse para perto do acúmulo de água, praticamente se deitou no chão e fez vários cliques com seu smartphone a cada vulto que passava à sua frente, até chegar à imagem que queria. “Além de ter sido atleta, o que ajuda na hora de pensar numa foto, converso com todos, de todos os esportes, e eles me dizem que momento é importante, onde será a maior ação, o maior esforço. Faço a composição na minha cabeça e clico.”

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