Kirk Douglas completa 100 anos: ‘Só interpretei fdp’
Seu primeiro papel em Hollywood foi em 1946, quando já tinha 30 anos, no filme, 'O Tempo Não Apaga', de Lewis Milestone
Filho de um imigrante judeu analfabeto, Issur Danielovitch foi, durante muito tempo, ninguém. Mas era predestinado. Estudou, fez-se ator. E virou Kirk Douglas. Tudo isso foi há muito tempo atrás e, nesta sexta, Kirk Douglas completa 100 anos. Cem! Ele próprio credita a longevidade à sua alma gêmea, Anne, a mulher com quem está casado há 63 anos. Nesta sexta-feira tão especial em que Kirk Douglas se torna centenário, Anne e ele – ela, aos 97 anos – estarão no centro de uma recepção para 200 convidados, que está sendo preparada pelo filho, Michael Douglas, e a nora, Catherine Zeta Jones, em Hollywood.
Seu primeiro papel em Hollywood foi em 1946, quando já tinha 30 anos. O filme, O Tempo Não Apaga, de Lewis Milestone. Barbara Stanwyck, grande estrela, era a protagonista. Martha Ives, sua personagem, era uma mulher poderosa casada com um policial bêbado, Kirk. Do passado dela, surgia Van Heflin. Conta a lenda hollywoodiana que Barbara não teria prestado nenhuma atenção a seu coadjuvante.
Mas, ao vê-lo atuar, ela deve ter percebido alguma coisa. Cumprimentou-o. O jovem Kirk teria retrucado – “É tarde, miss Barbara.” Pode ser só lenda. Ficaram amigos.
Nos anos e décadas seguintes, a estrela de Kirk Douglas subiu. Papéis cada vez maiores, estelares. E ele se tornou seu produtor. Mas tudo se fez passo a passo. A extensa carreira inclui o trabalho com grandes diretores, em diferentes gêneros.
Podem-se agrupar os grandes filmes de Kirk em cada e em todos. Foi Ulisses para o italiano Mario Camerini, Van Gogh para Vincente Minnelli, Doc Holiday para John Sturges e Spartacus para Stanley Kubrick. No noir, destacou-se com Fuga ao Passado, de Jacques Tourneur. Boxe? O Invencível, de Mark Robson. Comédia? Quem É o Infiel, de Joseph L. Mankiewicz.
Os grandes filmes
Drama? A Montanha dos Sete Abutres, de Billy Wilder, como jornalista inescrupuloso; Assim Estava Escrito e A Cidade dos Desiludidos, ambos de Minnelli, sobre os bastidores de Hollywood, e ainda outro de Minnelli, Sede de Viver, no qual foi (impressionante semelhança) Van Gogh. Épico? Spartacus, de Kubrick.
Guerra? Glória Feita de Sangue, de Kubrick, e A Primeira Vitória, de Otto Preminger, dois dos maiores filmes já feitos. Ficção científica? Nimitz – De Volta ao Inferno, de Don Taylor, que mistura guerra na história do porta-aviões que entra numa fenda do tempo e pode mudar a guerra em Pearl Harbour, 1941. Melodrama? O Nono Mandamento, de Richard Quine, em que explica a Kim Novak como faz a barba, por causa da famosa covinha. Westerns? Homem Sem Rumo, de King Vidor; Sem Lei Sem Alma e Duelo de Titãs, de John Sturges; O Duelo, de Lamont Johnson; Ninho de Cobras, de Mankiewicz. Ele até dirigiu um – Ambição Acima da Lei, sobre xerife que persegue pistoleiro para construir carreira política como ‘O homem que matou o facínora’. Lembra o clássico de John Ford, não? A surpresa – em Berlim, ao receber o Urso de Ouro de carreira, Kirk Douglas surpreendeu meio mundo. Seu filme preferido é Sua Última Façanha, sobre um caubói moderno, direção de David Miller e roteiro de Dalton Trumbo. E ele também disse: “Só interpretei fdp, e a maioria não se redimia. Só isso diz alguma coisa sobre o estado do mundo.” Recentemente, durante o processo eleitoral nos EUA, Kirk disse que poderia interpretar Donald Trump. Afinal, mais um FDP…
(Com Estadão Conteúdo)