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Courtney Barnett é dona do próprio nariz — e da própria carreira

Com sua empreitada, a jovem artista atualizou o velho e surrado mote punk “faça você mesmo”. Ela fez, mas de uma maneira mais profissional e comprometida

Por Diego Braga Norte Atualizado em 17 nov 2016, 13h01 - Publicado em 17 nov 2016, 12h15

A australiana Courtney Barnett tinha apenas 24 anos e já tinha tentado, sem sucesso, a difícil carreira musical com duas bandas. Nenhuma delas emplacou. Foi então que, em 2011, emprestou dinheiro da avó para lançar seu primeiro EP independente, Avant Gardener. Quando recebeu os CDs, ela começou a desenhar um logo nas embalagens de papel para “parecer mais profissional” — nascia assim uma gravadora e o êxito de uma jovem artista.

Contando “com uma pequena ajuda dos amigos”, Courtney fundou a Milk! Records para que o público interessado comprasse músicas, discos e merchandising diretamente dos artistas. Deu certo. “Eu realmente não sabia como começar a trabalhar com a indústria musical, não sabia como gravar e distribuir um disco, então criei minha própria gravadora”, disse Courtney em entrevista exclusiva a VEJA em São Paulo, onde ela se apresentou nesta quarta-feira. Nesta quinta, ela canta no Rio.

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Com sua empreitada, a australiana atualizou o velho e surrado mote punk “faça você mesmo”. “Nós não sabíamos em quem confiar, onde procurar ajuda, então fomos fazendo da maneira que achávamos que era certo. Funcionou.” Cortando a pressão das gravadoras, os contratos comerciais minuciosos e os palpites — muitas vezes contraproducentes — de produtores profissionais, Courtney conseguiu ter plena liberdade artística para criar e fazer suas músicas como bem lhe convinha. “Eu não tenho todas aquelas pessoas me dizendo o que eu devo e não devo fazer e também não tenho ninguém que dependa do meu sucesso, me pressionando. Hoje, eu trabalho com uma equipe maior, mas há mais liberdade, nós nos entendemos bem.”

Ainda que Courtney seja uma representante da geração Y (os tais millennials), ela não se identifica com os típicos “queridinhos” do Vale do Silício — jovens empreendedores que criam com sucesso suas próprias empresas e negócios. “Para mim, é muito mais simples, é apenas um caminho para fazer o que eu gosto, não tenho grandes expectativas de ganhar milhões, apenas o suficiente para me manter produzindo.” Hoje, a Milk! Records, sediada na pequena Preston, próximo de Melbourne, representa oito artistas e, assim como sua proprietária, está de portas abertas para o futuro. “É muito mais gratificante criar seu próprio espaço e gerenciar seu próprio trabalho, sem se preocupar com ninguém”.

O show — Norteado pelo seu primeiro e até agora único álbum, Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit, lançado em 2015, o show de Cortney Barnett em São Paulo foi bem parecido com a personalidade da artista; simples, objetivo e sincero. O disco, aclamado pela crítica especializada como um dos melhores álbuns de rock do ano passado, é recheado de faixas vibrantes, sem floreios virtuosísticos, e algumas boas baladas.

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Em um palco sem adornos e pirotecnias, Courtney, que canta e toca guitarra, estava acompanhada por um baixista (Andrew “Bones” Sloane), e um baterista (Dave Mudie). O entrosado power trio entregou pouco mais de uma hora de ótimas músicas e entusiasmo; eles realmente estavam gostando de tocar para a plateia brasileira, que retribuiu cantando junto os principais hits: Elevator Operator, Debbie Downer, Aqua Produnda!, Pedestrian at Best e Nobody Really Cares If You Don’t Go to the Party.

Courtney é ótima letrista, uma bem-vinda representante daquela escola dos poucos artistas que conseguem contar uma boa história em uma letra. Como em Elevator Operator, que narra as peripécias de Oliver Paul, um jovem de 20 anos de idade que se preocupa por estar ficando careca e gosta de lugares altos para “imaginar que está jogando Sim City”. Se no show não dá para captar ou entender todas as suas letras, pelo menos dá para sacar as suas rimas espertas e ágeis, como em Pedestrian at Best: “I must confess, I’ve made a mess / of what should be a small success / But I digress, at least I’ve tried my very best, I guess”.

As baladas, como a belíssima Depreston (palavra que junta “depression” com Preston, sua cidade) e Kim’s Caravan servem para dar um descanso ao público (e talvez também à banda) e funcionam como interlúdios líricos entre as músicas mais dançantes e o rock ‘n’ roll. O hit Nobody Really Cares If You Don’t Go to the Party, que ganhou um esperto vídeo gravado despretensiosamente nas ruas de Londres (abaixo), fechou o show em ótimo astral. Tímida em sua relação com o público, Courtney falou pouco. Saiu do palco com um breve agradecimento e um aceno, sem a mínima vocação para popstar, mas com a certeza de ter feito o que mais gosta: música de boa qualidade. E precisa mais?

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Vídeo: Nobody Really Cares If You Don’t Go to the Party
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=2ZOGlFdReMM?rel=0%5D

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