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Biógrafa questiona tese de que Marilyn cometeu suicídio

Lois Banner, autora de 'Marilyn: The Passion and The Paradox', defende que a atriz tinha mais motivos para viver do que para morrer, há exatos 50 anos

Por Mariana Zylberkan
5 ago 2012, 08h22

“Marilyn nunca foi uma criação alheia, ela construiu a própria carreira. E também não era a dicotomia que insistem em pintar: uma criança carente por um lado e uma deusa do sexo por outro. Ela tinha inúmeras facetas, podia ser a rainha do glamour a la Marlene Dietrich, uma palhaça, uma atriz dramática, uma pessoa mística e uma intelectual que adorava ler. Talvez Marilyn seja a mulher com maior capacidade de liderança da história desde Cleópatra” (Lois Banner)

Há exatos 50 anos, Marilyn Monroe era encontrada morta sobre a cama, em sua casa na Califórnia. A versão oficial da história diz que a atriz, um ícone do cinema americano, se suicidou ao ingerir uma alta quantidade de barbitúricos. Alguns autores que se dedicaram a contar a história de Marilyn, porém, contestam essa teoria. É o caso da pesquisadora Lois Banner, que acaba de lançar nos Estados Unidos a biografia Marilyn: The Passion and The Paradox. Especializada em história do gênero, a professora da University Southern California defende no livro que Marilyn tinha mais motivos para viver do que para morrer naquele 5 de agosto de 1962. “Ela havia acabado de assinar um contrato que lhe garantia 1 milhão de dólares por filme; Frank Sinatra e Joe DiMaggio planejavam pedi-la em casamento e ela tinha planos de se mudar para Nova York. O suicídio pode ter sido acidental.”

A explicação para tanto mistério em torno da morte da atriz pode estar na sua relação conturbada com os Kennedy. O caso de Marilyn com John F. Kennedy, presidente dos Estados Unidos na ocasião, era notório, mas o affair com Robert F. Kennedy, seu irmão, nunca foi provado. “Meu palpite é de que há 90% de chance de Robert ter visitado Marilyn no dia de sua morte. Eunice Murray, empregada da atriz, confirma essa versão. Mas os Kennedy abafaram qualquer pista que ligasse os irmãos a Marilyn nas semanas e dias que antecederam sua morte.”

Em Marilyn: The Passion and The Paradox (Marilyn: A Paixão e o Paradoxo, em tradução livre), livro sem previsão de lançamento no país, a autora ainda estabelece relação entre a atriz e o movimento feminista que nasceria nos anos 1960. E também com a liberação sexual que marcou aquela década. “Ela estava sempre pronta para brindar os fãs da ala masculina com poses sexy, e via sua sensualidade como forma de conquistar independência e poder sobre homens.”

Leia a seguir a entrevista concedida pela biógrafa Lois Banner ao site de VEJA.

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Marilyn Monroe de fato se matou? Marilyn não tinha nenhum motivo para cometer suicídio, essa é a questão. Havia acabado de assinar um contrato que ia lhe render 1 milhão de dólares por filme; Frank Sinatra e Joe DiMaggio (jogador de beisebol) planejavam pedi-la em casamento, e ela tinha planos de se mudar para Nova York. A atriz estava com raiva dos Kennedy, mas não ficava se lamentando por causa disso. O suicídio pode ter sido acidental – o que não é incomum para pessoas quem vive intensos altos e baixos emocionais -, mas a quantidade de drogas encontrada em seu corpo deixa uma série de dúvidas. Marilyn tinha cerca de 50 pílulas ao redor quando morreu, e alguns autores garantem que ela havia ingerido ainda mais do que isso. Por outro lado, não foram encontrados vestígios de bebida alcoólica em seu organismo.

Como se deu seu envolvimento com as drogas? Ela tomava analgésicos à base de ópio para amenizar a dor causada pela endometriose de que sofria. Os barbitúricos eram para controlar a ansiedade e ajudá-la a dormir. Marilyn também ingeria anfetaminas para cortar os efeitos dos barbitúricos e colocá-la em pé diante dos afazeres do dia a dia. Naquela época, essas drogas eram amplamente administradas em Hollywood e costumavam ser vistas como pílulas mágicas, capazes de curar qualquer doença. Ninguém tinha conhecimento do efeito devastador que poderiam provocar ao longo do tempo. Os médicos distribuíam e os medicamentos eram compartilhados como balas em reuniões. As pessoas iam a festas e presenteavam o anfitrião com barbitúricos, anfetaminas e opiácios, assim como alguém leva uma garrafa de bebida à casa de um amigo. Por sofrer muito de ansiedade e insônia, Marilyn tomou vários desses remédios. Ela lutava para manter o vício sob controle e era capaz de passar longos períodos limpa, mas sempre voltava para as drogas. Se ao menos existissem antidepressivos, talvez ainda estivesse viva.

Robert Kennedy realmente esteve na casa de Marilyn no dia em que ela morreu? Meu palpite é de que há 90% de chance de Robert Keneddy ter visitado Marilyn no dia de sua morte. Eunice Murray, empregada da atriz, confirma essa versão. São muito claras, porém, as evidências de que os Kennedy abafaram qualquer pista que ligasse os irmãos a Marilyn nas semanas e dias que antecederam a sua morte.

Por que o envolvimento da atriz com os irmãos Kennedy é um grande segredo até hoje? O envolvimento com John F. Kennedy realmente aconteceu, sem sombras de dúvida, mas o caso com Robert F. Kennedy nunca foi provado. A família Kennedy se esforçou para manter as aventuras sexuais dos irmãos em absoluto segredo. Qualquer evidência foi destruída na época.

Por que ela tinha tanta dificuldade de manter relacionamentos estáveis? Ela teve muitos casos e transou com vários homens, assim como fizeram muitas mulheres naquela época e fazem tantas atualmente. Seu primeiro marido, o policial James Dougherty, era truculento e pouco esperto. O segundo, Joe DiMaggio batia nela. O terceiro, o dramaturgo Arthur Miller, era alguém muito difícil de conviver e não combinava nem um pouco com uma mulher sensível como Marilyn. Frank Sinatra, com quem teve um affaire, era tão maníaco-depressivo quanto ela. Marilyn só aceitou todos esses casamentos destrutivos por causa de sua criação. Ela cresceu nos anos 1950 e conviveu com famílias devotadas à união dos casais, por isso a ideia de que o casamento poderia resolver qualquer tipo de problema era algo enraizado em seus valores. Ela cometeu diversos erros na vida pessoal, o que inclui o envolvimento com os irmãos Kennedy, mas outras mulheres também cometeram equívocos semelhantes.

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Marilyn era bissexual? Marilyn se sentia atraída por mulheres e escreveu sobre isso em sua autobiografia. Ela teve um caso com sua primeira instrutora de interpretação, Natasha Lytess. Houve outras mulheres, mas seus nomes nunca foram revelados. Na verdade, ela gostava de se sentir íntima das pessoas, apenas para estabelecer contato físico e se sentir melhor, como uma criança assustada.

Qual foi o método utilizado para escrever a biografia? Eu pesquisei profundamente a estrutura psicológica de Marilyn Monroe. A partir de conversas com amigos e funcionários, pude ter acesso ao lado de sua personalidade cheio de energia e disposição, e assim fugir ao que fizeram outras biografias, que exaltam suas fases depressivas. Marilyn nunca foi uma criação alheia, ela construiu a própria carreira. E também não era a dicotomia que insistem em pintar: uma criança carente por um lado e uma deusa do sexo por outro. Ela tinha inúmeras facetas, podia ser a rainha do glamour a la Marlene Dietrich, uma palhaça, uma atriz dramática, uma pessoa mística e uma intelectual que adorava ler. Talvez Marilyn seja a mulher com maior capacidade de liderança da história desde Cleópatra.

Qual é a relação de Marilyn com o movimento feminista? Marilyn nunca se enxergou como uma feminista pelo simples fato de não ter existido nenhum movimento nesse sentido até 1960, dois anos antes de sua morte. Mas ela sempre se apresentou como uma mulher de negócios, criou e administrou a própria produtora, que tinha metade do quadro de funcionários formada por mulheres. Além disso, Marilyn sempre criticou o esquema patriarcal que vigorava em Hollywood, que a tratava como uma prostituta. Ela se considerava uma peça importante na revolução sexual ainda incipiente nos Estados Unidos – e realmente foi. Ela estava sempre pronta para brindar seus fãs da ala masculina com poses sexy e via a sua sensualidade como uma forma de conquistar independência e poder sobre os homens. Mas a principal relação de Marilyn com o feminismo se daria no movimento pós-feminista conhecido como girl power.

Como os abusos sexuais sofridos na infância moldaram a sua personalidade? Sei de dois casos de abuso sexual, um sofrido aos 7 anos e o outro aos 11. Em ambos, ela foi vítima de integrantes mais velhos das família adotivas com as quais conviveu. Os efeitos desses abusos se traduziram no seu vício em sexo e no seu transtorno dissociativo de identidade. É difícil saber ao certo se essas sequelas derivam do mal causado pelos abusos sexuais que sofreu ou do fato dela ter mudado constantemente de lares adotivos ao longo de toda a infância. No fim, ela viveu com onze famílias diferentes.

Qual foi seu papel na liberação sexual dos anos 1960? Marilyn foi uma precursora da liberação sexual dos anos 1960. Eu não sei ao certo se ela aprovou ter as fotos em que aparece nua publicadas na revista Playboy, em 1953, mas exibiu o corpo impunemente nos filmes e odiava a postura rígida de Hollywood diante da nudez.

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