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Atividade paranormal made in Brasil

O Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, no Recife, é um dos centros de parapsicologia mais antigos do país

Por Branca Nunes
29 out 2010, 08h04

Sem falar em demônios, espíritos ou outras obras do Além, Valter da Rosa Borges garante: todos esses fenômenos são perfeitamente normais – e muito mais comuns do que imaginamos

Portas que se abrem e fecham sem ninguém por perto, garrafas vazias voando, luzes que se apagam subitamente, ruídos estranhos e figuras fantasmagóricas. Essas foram algumas das imagens que os espectadores de Atividade Paranormal 2, de Oren Peli, puderam conferir no fim de semana de estreia – na sexta-feira (22) – da sequência de um dos maiores fenômenos de bilheteria da história do cinema. Orçado em 15 mil dólares, o primeiro filme da série arrecadou 107 milhões de dólares ao redor do mundo. A continuação do suspense – que custou 3 milhões – faturou 41,5 milhões de dólares em três dias só nos Estados Unidos.

O primeiro filme conta a história de Katie (Katie Featherston), que desde criança convive com ruídos e sussurros assombrosos. Ao mudar-se para a casa do namorado, Micah (Micah Sloat), e depois que os dois decidem comprar uma câmera para registrar esses acontecimentos, as coisas evoluem até tornarem-se insuportáveis. Irmã de Katie, Kristi (Sprague Grayden) é a protagonista do segundo filme. Ao lado do marido, Daniel (Brian Boland), e de dois filhos, ela chega um dia à casa de campo e a encontra completamente revirada. Daniel decide investir em um sistema de segurança e instala câmeras em diversos cômodos e no lado de fora da casa. É por essas imagens que os espectadores acompanham a maior parte dos eventos sobrenaturais.

No Brasil, quem quiser contemplar cenas aterrorizantes da ficção pode se encaminhar a uma das 165 salas em que o filme estreou. Já se quiser entrar em contato com o assunto, pode, também, fazer uma visita ao Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas (IPPP), no Recife, e conversar com o professor Valter da Rosa Borges, um de seus fundadores. Sem falar em demônios, espíritos ou outras obras do Além, Borges garante: todos esses fenômenos são perfeitamente normais – e muito mais comuns do que se imagina.

Inaugurado em 1973, o IPPP não poderia estar localizado em um lugar mais adequado. Uma das cidades brasileiras mais férteis em assombrações, a capital de Pernambuco teve parte de seus mistérios revelados no clássico Assombrações do Recife Velho, de Gilberto Freyre – também transformado em peça de teatro. O IPPP, uma das instituições especializadas em parapsicologia mais renomadas do Brasil, também organiza simpósios internacionais e cursos de formação e pós-graduação na área. Em 1985, foi declarado de Utilidade Pública Estadual pela Lei nº 9714 e, um ano depois, de Utilidade Pública Municipal pela Lei nº 14.840.

Enquanto Freire conta em seu livro histórias como a do barão perseguido pelo diabo, a do sobrado da Estrela e a do papa-figo, Borges tem em seu enorme catálogo o episódio do Edifício Paris, considerado “o mais famoso dos ‘poltergeist’ que investigou”.

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Ao contrário do que se imagina, raramente o poltergeist é uma figura visível. No livro Fenomenologia das Aparições, Borges revela que sua manifestação mais comum é pelo “movimento, aparecimento e desaparecimento de objetos, móveis que se quebram o se incendeiam, objetos que voam, pedras arremessadas aleatoriamente, água brotando de lugares onde não há encanamento e pessoas agredidas por algo invisível com dentadas e bofetadas”.

Os eventos começaram em dezembro de 1985, logo depois da morte por atropelamento de uma criança que morava no apartamento número 301, do Edifício Paris, na Avenida Cruz Cabugá, bairro de Santo Amaro, Recife. “Durante vários dias, garrafas vazias voavam pelo apartamento e caíam na área externa o prédio”, descreve Borges. Os moradores também presenciaram a combustão espontânea de objetos, a quebra de vidraças, o tilintar de panelas e outros barulhos bizarros.

A primeira reação da família foi pedir socorro a um padre. Depois de constatar a presença de um demônio e de benzer a casa, o clérigo se foi sem resultados a festejar. Chamado em seguida, o pastor fez que com todos “aceitassem Jesus”, mas não conseguiu convencer as assombrações a fazerem o mesmo. A mãe de santo cobrou 1.500 reais para despachar o Exu, que preferiu ficar, e um médium espírita decidiu: era o espírito da menina atropelada tentando se comunicar.

Depois de algumas perguntas à família, Borges concluiu que o estopim dos eventos era uma das empregadas da casa, uma garota de 12 anos, que testemunhara o atropelamento. Segundo acredita ele, por estar em transição da infância para a adolescência, a moça tornara-se ainda mais vulnerável e, inconscientemente, provocou os fenômenos paranormais. “Algumas pessoas, em vez de implodirem um turbilhão de sentimentos, explodem”, diz Borges. Passado algum tempo, o poltergeist desapareceu sem se despedir.

“A grande pergunta é: o que é a mente humana?”, intriga-se Borges. “Não sabemos o limite dela. Quando você diz que determinado evento é a ação de um fantasma, você faz uma economia de hipóteses. Eu trabalho com uma quantidade ilimitada delas. Não me restrinjo a uma verdade, a um dogma”. Assim, Borges e outros parapsicólogos estão mais preocupados em estabelecer o que produz os fenômenos paranormais, do que em determinar como eles são produzidos. “Pode ser a ação da mente e pode ser algo que não explicamos”.

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Entre outros eventos, Borges presenciou a queda brusca de temperatura em ambientes fechados, flores caindo do teto, perfumes misteriosos, uma televisão ligada sem estar conectada na tomada e centenas de poltergeists – sua especialidade.

Segundo o professor, a maioria das pessoas já foi testemunha – ou será – de um evento paranormal durante a vida. O mais comum é a telepatia. “Quando você pensa em uma pessoa e o telefone toca, isso é uma relação mente a mente”, esclarece.

Nada que signifique, entretanto, a presença de demônios ou casos que terminem em morte. Em 37 anos de trabalho com a parapsicologia, Borges presenciou apenas um episódio com vítima: um pintinho atingido por uma pedra. Ao contrário dos filmes de terror que geralmente abordam o tema, a atividade paranormal made in Brasil é bem mais pacífica.

A seguir, confira uma galeria de filmes de terror clássicos.

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