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“Paes é arrogante e debochado”, diz Cesar Maia

Mentor político do prefeito nos anos 90, vereador aponta os erros da campanha de Pedro Paulo e projeta um 2018 difícil para o PMDB do Rio

Por Thiago Prado
Atualizado em 11 out 2016, 22h42 - Publicado em 11 out 2016, 19h37

Cesar Maia (DEM), de 71 anos, é respeitado na classe política por suas análises de conjuntura. Em ano de eleição, aumenta ainda mais a busca pelas opiniões daquele que administrou o Rio de Janeiro por três mandatos (1993-1997 e 2001-2007). VEJA conversou com o vereador – reeleito este ano com 71 468 votos -sobre o primeiro turno da disputa carioca. Cesar fala sobre os erros da campanha de Pedro Paulo Carvalho, a relação ruim com Eduardo Paes e as estratégias de Marcelo Crivella e Marcelo Freixo para as próximas semanas. Abaixo os principais trechos da entrevista:

Foi um erro Pedro Paulo ser candidato? Um erro abissal. Se Eduardo (Paes) comprasse o que vale e vendesse o que acha que vale, estaria rico. Achou que com a Olimpíada elegeria um poste qualquer. Interpretou erradamente o que fiz com o Conde em 2000. Também garantiu que resolveria a questão da ex-mulher. De fato, o fez apenas no Judiciário convencendo que uma mulher de 1,60 metro agrediu um homem de 1,90 metro. Mas na campanha não foi bem assim.

Houve erros na campanha também? Muitos. Avisei ao marqueteiro (Renato Pereira) em uma conversa por Whatsapp que tinha que botar o Eduardo mais vezes na TV. Os comerciais estavam mal gravados, alguns mostrando uma realidade que não existia. O Rio de Janeiro parecia um mundo encantado. Era tudo artificial, o Pedro Paulo aparecia andando em ruas onde ninguém caminhava, conversava com pessoas que eram claramente atores. Em um momento, cheguei a falar para os estrategistas de campanha: “Até quando vocês vão ficar com esse sorriso de Renata Vasconcellos na boca do Pedro Paulo?”.

No xadrez político fluminense, como fica Paes após essa derrota? No momento, parece que está abatido. Sinceramente não sei se estará no PMDB em 2018. Eduardo é inteligente e ambicioso. Neste momento, deve estar deitado na cama, tomando a cervejinha belga que tanto gosta, pensando: “Com o Aécio (Neves) ou com o (Geraldo) Alckmin, fica muito mais fácil fazer uma campanha no Rio”. Ele, que já foi do PSDB, sabe o quão pesado será carregar o PMDB daqui a dois anos. Como vai ser o candidato de um grupo que promoveu o caos no Rio?

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Há quem diga que o PMDB aposta em um desastre de um governo Crivella ou Freixo para se cacifar… Quem acha que fez um grande governo sempre considera que o sucessor poderá ser um desastre. FHC achou isso do Lula, Marcelo Allencar do Anthony Garotinho. Sim, o PMDB aposta nisso agora. Esquecem, no entanto, que Crivella e Freixo não são idiotas. O funcionário da prefeitura é de alto nível. Os dois podem dar conta do recado, especialmente se acertarem um bom nome para a secretaria de Fazenda.

Afinal, quem foi melhor prefeito, você ou Paes? São momentos diferentes. Recebi uma cidade em que avenidas da Zona Sul eram cobertas por camelôs. A entrada da Ilha do Governador era uma Calcutá. Fizemos a maior intervenção urbanística da história da cidade. O Rio Cidade e o Favela Bairro aproximaram a prefeitura das pessoas. O Eduardo teve bons projetos, mas que olharam apenas para os espaços públicos.

Por que você não gosta do Paes? Peguei ele menino terminando o curso de direito na PUC. Brizolista fanático, coloquei como subprefeito da Barra da Tijuca, onde fiz muitas obras. Ele deve toda a vida política a mim. Aí, em 2008, fez uma campanha para prefeito toda em cima da minha impopularidade e continuou com críticas durante o governo. É doença isso, querer renegar a sua origem.

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Rodrigo Maia em entrevista a VEJA afirmou que a Cidade da Música é a sua grande mágoa com relação ao prefeito… Ter a Cidade da Música e não usar em nenhum momento dos Jogos Olímpicos? Fechar o Engenhão dizendo que havia um risco da cobertura desabar? E agora a imprensa mostra que era tudo uma farsa porque a Odebrecht queria que os clubes fechassem contrato com o Maracanã. Essas coisas todas foram gerando uma mágoa. Mas é da vida.

Paes ainda pode ser presidente da República um dia? Tem que mudar muito. Ele é arrogante e debochado. Não tem capacidade de agregação. No prazo de 2018, nem pensar.

Quem vai vencer o segundo turno no Rio, Marcelo Crivella ou Marcelo Freixo? Depende de como será a campanha. Tem vereador que me disse que até agora não foi procurado por nenhum dos dois para ajudar. Eles tem que saber que campanha não é só televisão.

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Qual a maior fragilidade de Crivella no segundo turno? A rejeição por ser bispo da igreja Universal caiu muito. A questão agora é a má vontade da Globo. Estão em jogo os negócios do Grupo que nem sempre são percebidos pelas pessoas. Nos últimos anos, eles passaram a se interessar muito pela área cultural, fortemente vinculada à prefeitura. A Fundação Roberto Marinho fez o Museu de Arte do Rio (MAR) e o do Amanhã. Para não afetar isso, a tendência deles é preferir que o Crivella perca. O Freixo a Globo acredita que disciplina em reuniões internas, regadas a um bom vinho tinto.

E a maior fragilidade do Freixo? Um provérbio chinês explica: “Você é dono da sua palavra antes de proferi-la. Depois é escravo dela”. No domingo depois da eleição, empolgado com o resultado, Freixo abriu o comício chamando o Michel Temer de golpista. Ele pode ser prejudicado pela própria boca neste segundo turno.

Em seu blog diário na internet, o senhor vinha elogiando a campanha de Jandira Feghali. O que aconteceu para ela despencar na reta final? A campanha dela tinha uma estratégia certa. Ibope e Datafolha diziam que 14% dos eleitores do Rio de Janeiro votariam no Lula de qualquer jeito. Ela focou neles, repetiu o “Fora Temer” e chegou a empatar com o Freixo. No último minuto da prorrogação, no entanto, acabou sendo vítima do voto útil no PSOL. Uma crítica concreta a ela: o desempenho da Dilma nos seus comícios foi lastimável. Ela falou de qualquer jeito, nem sabia direito o que dizer a favor da Jandira.

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E o Molon, por que não emplacou? Mesmo sendo o mais qualificado dos candidatos, ele é o anti-carisma em pessoa.Este dom faz o eleitor ser convencido a ponto de repetir nas ruas o argumento que ouviu do político. Molon não tem esse efeito nunca. Diz as coisas, mas nada repercute.

Por que a Marina Silva não transferiu votos para ele? Para ele e outros candidatos da Rede pelo Brasil. O tipo de política que a Marina faz é só para si própria. Ela é egocêntrica, não está preocupada em transferir votos. O (Leonel) Brizola por exemplo tinha um DNA que passou para mim, Marcelo Allencar e Luiz Paulo Conde. O próprio Freixo tem formado lideranças no PSOL agora eleitas para a Câmara de Vereadores do Rio. Já a Marina não tem ninguém.

Como explicar a votação dos Bolsonaro? Quando o Flavio desmaiou no debate da Band, sofreu um baque de imagem. Depois, também foi muito mal na entrevista ao RJTV, parecia um bobão. Mas o resultado acabou atrelado ao desempenho do pai nos últimos anos. Deu certo criar um discurso militarista de que “prende e arrebenta” associado a valores cristãos.

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Indio da Costa e Carlos Roberto Osorio saíram da campanha maiores ou menores do que entraram? O Indio fez uma campanha inteligente, focada na imagem. Usou uma camisa preta e repetiu exaustivamente que estava há 25 anos se preparando para ser prefeito. Fixou-se na cabeça do eleitor e deu sinais de que poderia chegar ao segundo turno. Já o Osório não, ficou em um discurso lengalenga que alcançou apenas uma alta elite da Zona Sul. Não tirou proveito da campanha na minha opinião.

Os dois tinham que ter formado uma chapa conjunta? Isso chegou a ser tentado. E a campanha mostrou que era o Indio que deveria ser o cabeça de chapa, até por ter mais tempo de voo na política.

Afinal, você votou no Indio para prefeito? Não declarei meu voto nesta eleição. O que posso dizer é que no Pedro Paulo não votei.

O que o senhor achou das novas regras eleitoras que baratearam as campanhas? Espetaculares. É a primeira campanha que termino sem dever nada a ninguém. Para o eleitor também foi positivo. Ele não recebeu papel o tempo todo nas ruas e a cidade ficou mais limpa. Com isso, candidatos com forte penetração na opinião pública foram beneficiados. Sem ajuda da máquina, Carlos Bolsonaro, Tarcísio Mota e eu conquistamos as maiores votações para a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.

Ajudou na votação o seu filho Rodrigo estar na presidência da Câmara dos Deputados? Claro. As pessoas elogiam muito o Rodrigo hoje nas ruas. Teve até um senhor na Zona Norte que me disse um dia: “Siga os passos do seu filho”. Ele desenvolveu duas capacidades raras em um político: sabe ouvir e conversar. Me superou 1000% nessas qualidades. Eu não visito a casa de ninguém há anos. Venho do meu trabalho para casa, não almoço e janto fora com ninguém.

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