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Sem verba, Denise reformou berçário e deu mais autonomia a bebês

Finalista do Prêmio Educador Nota 10, Denise Rodrigues de Oliveira diminuiu o choro e ajudou alunos a ganharem confiança com mudança estrutural do ambiente

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 out 2017, 15h10 - Publicado em 12 out 2017, 22h18

Criatividade e reciclagem foram os dois ingredientes principais de Denise Rodrigues de Oliveira, 37 anos, que reformulou todo o berçário da creche pública Escola Municipal de Educação Infantil Floresta Encantada em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. A mudança, aparentemente simples, mexeu com um tabu, já que consistia especialmente na retirada dos berços que abrigavam dez bebês.

“Eles incomodavam, ocupavam muito espaço, impedindo as crianças de se locomoverem de forma adequada”, conta Denise. A principal preocupação, contudo, era com a segurança dos pequenos, observados por duas professoras. Quando alguns deles acordavam da soneca, logo tentavam sair do berço, e choravam, acordando outras crianças, que também escalavam as paredes do móvel. A dupla de educadoras tinha que correr para que nenhum acidente acontecesse.

“Conversamos com a direção, que nos permitiu fazer a mudança, mas pediu que provássemos o resultado”, conta Denise. Segundo ela, foi fácil mostrar a melhora no convívio dos bebês, que ficavam em tempo integral na escola. “Eles ganharam uma nova autonomia nas atividades, na locomoção e mais espaço para brincar. O berço é uma maneira de trancar o bebê e faz com que ele dependa ainda mais do adulto.”

A mudança pensada por Denise foi inspirada na abordagem Pikler-Lóczy, fruto do trabalho de Emmi Pikler, pediatra austríaca que deixou um legado no trato e educação de crianças de até 3 anos. Seu principal mote era o respeito à individualidade de cada bebê e o livre brincar como parte do desenvolvimento da independência.

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“O adulto tem que ser mediador da organização do espaço, auxiliando na higiene e alimentação, sem ficar muito em cima, fixado na ideia de que o bebê é frágil”, analisa Denise, que se aprofundou na obra da médica e assistiu aos vídeos do trabalho deixado por ela na Hungria para se inspirar.

A retirada dos berços veio seguida de outro desafio: falta de verba para a reforma do ambiente. A opção foi lançar mão de materiais reciclados, provenientes de doações e garimpo das educadoras, além de criatividade. Pneus encapados se tornaram pufs. Uma passarela de madeira foi feita também com o auxílio de dois pneus revestidos, um de cada lado. Caixotes de feira se tornaram armários e mesa de apoio. Canos de PVC adquiridos pela escola foram encaixados formando um corredor de apoio, para que as crianças caminhem pelo espaço. Pequenas garrafas PET com a tampa furada foram preenchidas com temperos e chás, para os pequenos experimentarem novos cheiros. E calças jeans receberam preenchimento de retalhos, tecidos e espuma para ganhar a função de almofadas.

Berçário após retirada dos berços em projeto proposto por Denise Rodrigues de Oliveira (//Divulgação)

Os bebês receberam bem a mudança. Constantemente, os objetos eram mudados de lugar na sala, o que atiçava a inventividade deles para interagir e brincar de maneiras diferentes. “Uma menina que engatinhava costumava chorar muito por não conseguir andar. Só brincava com o que era entregue na mão dela. Com a mudança, ela conseguiu ficar em pé apoiada nos pneus. Ela ficou tão feliz que abanou a mão para a gente, sorrindo. Eles superaram limites.”

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A hora da soneca também ganhou com a transformação. Os pequenos passaram a dormir no chão, em colchonetes. “Podíamos deitar perto, fazer cafuné. Eles acordavam sozinhos e decidiam se queriam continuar deitados mais um pouco ou se levantavam para brincar. Existia a autonomia para escolher o que fazer.”

Denise, que tem dezoito anos de experiência, afirma que sempre amou ser professora, mas sua paixão aflorou mesmo com o trabalho em berçário, iniciado há quatro anos. “ Eu me encontrei com os pequenininhos. É desafiador, pois eles não podem dizer o que querem. Precisei aprender a me comunicar”, conta. Para o futuro, ela planeja ampliar esse conhecimento. “Meu sonho é abrir minha própria escola para utilizar a abordagem Pikler em tudo.”

Denise conquistou com a iniciativa um lugar entre os dez melhores professores do ano pelo Prêmio Educador Nota 10, promovido pelas fundações Victor Civita e Roberto Marinho. Ela agora tem a chance de ser vencedora do título Educador do Ano na cerimônia que acontece no dia 30 de outubro, em São Paulo.

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Conheça os dez indicados


Denise Rodrigues de Oliveira
Novo Hamburgo – RS

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Di Gianne de Oliveira Nunes
Lagoa da Prata – MG


Diogo Fernando dos Santos
Pindamonhangaba – SP


Flávia Roberta Alves Costa
Recife – PE

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Gislaine Carla Waltrik
União da Vitória – PR


Luana Viegas de Pinho Portilio
Embu das Artes – SP


Rosely Marchetti Honório
São Paulo – SP

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