Os misteriosos corretores da redação do Enem
Os 11 600 profissionais não podem ter a identidade revelada, nem parentesco direto com nenhum candidato
O Enem guarda dois segredos a sete chaves. Um é o tema da redação. O outro é a identidade dos integrantes do pequeno exército convocado para corrigi-la. Este ano serão 11.600 profissionais, cada um deles encarregado de avaliar entre 74 e 100 textos por dia. Gasta-se em média 3 minutos por prova, 3 segundos por linha. A missão é nobre — ajuda a decidir o futuro de milhões de jovens –, mas também é cansativa e ocupa boa parte dos meses mais festivos do ano, novembro e dezembro.
A remuneração tabelada pelo Inep, o órgão do Ministério da Educação responsável pelo Enem, é considerada razoável. Os avaliadores recebem no mínimo 4,47 reais por redação corrigida, o que soma pouco menos de 500 reais por dia antes dos descontos. “É uma trabalheira infernal, com uma responsabilidade imensa”, resume Rafael Pina, que já foi corretor de redações do exame. “A gente sente os olhos cansados e chega exausto ao fim do processo. E pode ter certeza: ninguém avalia da mesma forma a primeira e a última redação do dia”, completa.
Há regras de correção, uma tentativa de minimizar a subjetividade da tarefa. Cada redação é corrigida por duas pessoas. Se a diferença entra os dois resultados for superior a cem pontos, um terceiro examinador é automaticamente convocado para avaliar o texto. A nota final, neste caso, será a média entre o grau dado pelo terceiro corretor e o mais próximo ao dele assinalado pelos dois primeiros avaliadores. Os terceiros corretores recebem um pouco mais pelo serviço, 5,85 reais.
Partem também do Inep os critérios de seleção dos examinadores. Eles passam por provas objetivas e discursivas e curso de treinamento específico para o trabalho. Exige-se que sejam formados em letras, com pós-graduação em língua portuguesa, literatura ou linguística. Não podem ter parentesco direto com nenhum candidato e devem comprovar experiência de cinco anos na avaliação de redações em larga escala.
No exame do ano passado, mais de 40% dos corretores tinham entre 30 e 40 anos e quase 80% eram mulheres. A correção ocorre em uma plataforma virtual, criada especialmente para o trabalho. Os examinadores recebem pacotes online com cinquenta redações de cada vez e só têm acesso a um novo pacote quando terminam o anterior. “Fui avaliadora no ano passado e gostei. Além da boa remuneração, ganhei uma experiência enorme em ritmo de correção”, diz uma avaliadora, professora de escola pública no Rio de Janeiro.