Mãe de jovem tatuado diz que perdoa agressores, mas pede Justiça
‘Eu sou mãe e não guardo rancor’, disse; segundo ela, filho de 17 anos já desapareceu outras vezes e passou por tratamento contra drogas ao menos três vezes
Vania Rocha, mãe do adolescente de 17 anos que teve a testa tatuada em uma pensão de São Bernardo do Campo (SP) depois de supostamente tentar furtar uma bicicleta, descreveu como “desumano” o crime cometido contra seu filho. “Ele não é boi para ser marcado, não é bicho. Quem marca boi é fazendeiro”, disse. Segundo ela, o jovem deve ser internado em uma clínica de reabilitação fechada para tratar a dependência química. Além disso, deve passar por exames para realizar o procedimento de retirada da tatuagem, que traz a frase “Eu sou ladrão e vacilão”, ainda esta semana.
“Muitas pessoas estão criticando ele. Mas é muito fácil julgar sem conhecer a história”, afirma Vania, que trabalha como auxiliar de limpeza em outra cidade. Segundo ela, o adolescente mora com a avó e o tio, que não têm renda fixa, e a família passa por grande dificuldade financeira. “Estamos passando aperto mesmo, de não ter o que comer. Tanto que meu filho falou pra mim outro dia: ‘Mãe, muitas vezes, meto a cara nas drogas porque vejo a nossa situação. Fico transtornado com tudo isso. Quando vou ver, já fiz’”.
O jovem estava desaparecido desde 31 de maio. A mãe reconheceu ele ao receber fotos e um vídeo de dois homens marcando sua testa. “Eu nem abri o vídeo. Quando eu vi a foto, joguei meu celular de lado e vim para São Bernardo”, conta. A polícia constatou que os dois agressores que aparecem nas imagens são Maycon Wesley Carvalho dos Reis, de 27 anos, e o vizinho dele, Ronildo Moreira de Araújo, de 29 anos. Ambos estão presos preventivamente desde sábado pelo crime de tortura. Além disso, eles podem responder por cárcere privado, humilhação e ameaça de morte.
Dependência
Segundo Vania, não foi a primeira vez que o jovem desapareceu sem dar notícias. Ela conta que o rapaz é muito agitado e “não para em casa”, além de ser dependente de drogas e ter problemas mentais – motivos pelos quais largou a escola na oitava série do ensino fundamental. “Quando ele some assim, a gente sempre vai atrás. Meu irmão me avisa e eu venho pra cá na hora. Não é simplesmente ‘espera que daqui a pouquinho ele aparece’”, diz.
Por causa da dependência química, o adolescente tem sido acompanhado pelo Conselho Tutelar e chegou a fazer tratamento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de São Bernardo do Campo. “Ele também já passou por duas clínicas evangélicas”, conta a mãe. “Houve uma pequena melhora, mas ele não parava. Ele queria sair, queria andar. Acho que no caso dele teria que ser um lugar fechado, para ficar internado. Se tudo der certo, a gente vai conseguir uma clínica para ele, porque ele realmente quer sair [das drogas]”.
Apesar da dor que o episódio causou para a família, Vania diz que perdoa os agressores. “Eu sou mãe e não guardo rancor. Jogue a primeira pedra aquele que nunca pecou. Eu lamento pela família deles, mas infelizmente a Justiça tem de ser feita. Eu perdoo eles, mas têm de pagar pelo crime que cometeram.”
“Diante dos nossos olhos e dos olhos da Justiça, meu filho é uma criança. Por que os rapazes não perdoaram e mandaram ele embora, ou chamaram uma viatura? Ele estava bêbado, subiu nessa pensão, esbarrou na bicicleta e, quando foi levantá-la os caras já pegaram ele e foram fazer a tatuagem. Isso não é digno de um ser humano”, desabafa. “Eu perdoo, porque não sou ninguém. Mas será que eles nunca pecaram para fazer com meu filho algo assim?”
Segundo a mãe, o jovem está muito abalado, assim como o resto da família, mas não pensa em desistir. “As pessoas dizem que estamos bem, que parecemos bem. Mas é porque a gente tem que se manter em pé, somos a estrutura dele. Se a gente cair, ele cai”, diz. “Meu maior medo era achar meu filho morto por aí. Ainda bem que ele está aqui com a gente, com a família. Por isso eu sei que ele vai se recuperar, vai ser internado e dar a volta por cima.”