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Julgamento de Sócrates é recriado em Atenas para tirar lições sobre o presente

Por Por Anne-Sophie Labadie
25 Maio 2012, 14h30

Quase 2.500 anos depois da condenação de Sócrates por ter desafiado as leis da pólis, Atenas volta a “julgar” nesta sexta-feira o filósofo grego, para tirar lições à luz da crise atual.

“Aqui estamos falando de democracia contra oligarquia, de liberdade de expressão em tempos de crise nacional, da sabedoria dos eleitores contra sua não-sabedoria”, e graças ao processo fictício poderão ser “debatidos novamente todos estes temas”, comemora Loretta Preska, uma juíza nova-iorquina que nesta sexta-feira será a presidente do tribunal.

Sócrates se defendeu no século IV a.C. diante de 500 atenienses, cidadãos, juízes e jurados. Nesta sexta-feira, na fundação Onassis de Atenas, um painel de dez juízes europeus e americanos ouvirá os argumentos de advogados internacionais a favor ou contra sua condenação.

Os juízes e o público – 800 espectadores e os internautas que seguirão a audiência ao vivo (https://www.sgt.gr) – decidirão se Sócrates foi culpado de desafiar os deuses da pólis, introduzir novas crenças e corromper a juventude.

Traidor para uns, mestre para outros, Sócrates colocava em questão a “doxa’, a opinião comum, com base em perguntas com as quais levava seus discípulos a formular pensamentos que estavam latentes neles. O método é conhecido como maiêutica.

Suas lições, que nunca escreveu e foram preservadas por seu discípulo Platão, questionavam uma vasta gama de temas, entre eles a política e a moral, o que rendeu a ele muitos inimigos.

“Claro que há um vínculo entre o processo de Sócrates e a atualidade, mas não apenas a atualidade grega. O tema é diacrônico e intercultural”, explica Anthony Papadimitriu, presidente da fundação Onassis, organizadora do evento.

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Através de Sócrates, “é abordada a questão dos limites da liberdade de palavra e pensamento. Até onde pode ir o cidadão que está contra o regime? Quais são os direitos do regime democrático contra os cidadãos?”, explica.

“Também é levantada a questão da justiça. A ideia da inocência de Sócrates foi um pretexto para difamar a democracia ateniense. Trata-se de restabelecer a reputação da democracia grega”, afirma Papadimitriu, que defenderá a pólis de Atenas.

Patrick Simon, advogado francês, será um dos defensores de Sócrates.

“Deve a democracia ter medo das opiniões contrárias e do livre arbítrio? Deve-se condenar ideias?”, pergunta-se o advogado, feliz de poder participar do processo.

Os organizadores consideram que o processo fictício pode ser benéfico para uma Grécia em plena crise.

Nos últimos meses, a questão da democracia agitou o debate no país.

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A violência do Estado contra um povo enraivecido pelas duras medidas de rigor, como ocorreu nas manifestações contra os planos de austeridade, ou a questão da legitimidade do governo anterior de Lucas Papademos, não eleito, suscitaram muitas perguntas.

“A Grécia pode estar vivendo um período difícil, mas acreditamos que devemos superar esta fase, como superamos os romanos, os turcos, os alemães e a cicuta”, destaca Papadimitriu.

“Também espero que superemos a sabedoria dos eleitores”, ironiza, dias antes da realização no dia 17 de junho de novas eleições legislativas. Nas eleições anteriores, os partidos hostis à austeridade obtiveram maioria e não foi possível formar um governo de coalizão.

O voto dos gregos, que tem cores de referendo a favor ou contra o euro, é esperado com muita atenção no exterior.

Segundo as pesquisas, o partido mais votado será o de esquerda radical Syriza, que pede a anulação das medidas de austeridade impostas ao país em troca de ajuda financeira da UE e do Fundo Monetário Internacional.

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