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Erick Barbi, 38: uma condição revelada por meio do cinema

Músico, empresário e publicitário, ele lançou mão de produções dos anos 1990 para autoconhecimento e para explicar aos pais o drama que protagonizava

Por Fernanda Bassette
Atualizado em 29 jan 2021, 10h41 - Publicado em 13 out 2017, 09h00

“Meu passado me condena. Sempre vai ter alguém que vai dizer: aquele homem era uma mulher. Mas isso pouco me importa.” É desta maneira que o músico, empresário e publicitário Erick Barbi, de 38 anos, define a sua vida após a transição de gênero feminino para o masculino. Ele, que se assumiu transexual aos 20 anos, faz terapia hormonal, já retirou as mamas, útero, trompas e ovários e já retificou o seu nome de registro civil há quase dez anos. Hoje é casado com uma mulher heterossexual e cria os filhos dela como se fossem seus. “Quer saber como é a vida de um homem trans? É ir buscar os filhos na escola todos os dias”, brinca, ao demonstrar que leva uma vida absolutamente normal.

Érick conta que a sua inquietação com o corpo feminino começou ainda na primeira infância, por volta dos 4 anos, quando dizia ao pai que queria ser menino, achava que o seu pênis ia nascer em algum momento e tentava fazer xixi em pé. Detestava usar vestido, laços, presilhas ou qualquer outro acessório que o deixasse parecido com menina.

Um dos principais escândalos que fez quando criança foi recusar-se a entrar em uma escola estadual vestindo o uniforme obrigatório das meninas, que naquela época incluía saia pregueada. “Agarrei no portão, chorava e dizia que não ia entrar. Meus pais foram conversar com a direção e, depois de muitas indas e vindas, várias reuniões, conseguiram mudar as regras e passaram a permitir que as meninas usassem bermudas em vez da saia. Isso foi um marco”, lembra.

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Apesar de ser uma criança que buscava a identidade masculina, Erick não se entendia e não se aceitava. Nem mesmo os anos de terapia foram capazes de ajudá-lo nessa fase de descoberta. Como muitas pessoas transexuais, Erick chegou a pensar que era uma mulher lésbica. “Eu não me encaixava nessa possibilidade. Achava que eu era uma aberração, um castigo de Deus.”

Quando entrou na puberdade, Erick pensou em se matar. Trancou-se no banheiro, chorou muito e pedia a Deus que o transformasse num menino. Sofreu violência verbal e física, chegando a ser espancado na rua. Para tentar se livrar de tanta angústia, dedicou-se aos estudos e mergulhou no mundo da música e do teatro – artes que foram fundamentais para a sua libertação.

Começou a pesquisar sobre o assunto e se descobriu transexual depois de assistir ao filme Meninos Não Choram (drama biográfico americano de 1999, dirigido por Kimberly Peirce). “Esse filme foi o divisor de águas da minha vida, ele me representa antes e depois da transição. Chorei de soluçar por duas semanas seguidas. Pensei: sou transexual, e agora, o que eu faço com essa informação?”, lembra.

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Meu passado me condena. Sempre vai ter alguém que vai dizer: aquele homem era uma mulher. Mas isso pouco me importa

Para contar aos pais sua condição e a decisão de iniciar a sua transição, Erick pediu que eles também assistissem a um filme chamado Minha Vida em Cor de Rosa (drama de 1997, dirigido por Alain Berliner, com produção francesa, belga e britânica), que conta a história de uma criança transexual. “Nesse dia, eu comecei a viver de verdade. Meus pais choraram muito, mas enfim entenderam quem eu era. Eles me aceitaram de um jeito maravilhoso e inesperado”, conta.

Erick diz que, apesar do apoio familiar, só passou a “existir” de fato depois de completar a sua transição com a retificação do nome de registro, em 2008. “Antes disso, a pessoa transexual não tem o direito de ir e vir, de ser quem é, de trabalhar. Mas todos somos humanos. E se fôssemos tratados assim, a vida ficaria bem mais fácil.”

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Conheça a história de dez transexuais


Ariadne Ribeiro
36 anos, pedagoga


Bruna Coutinho da Silva
52 anos, professora

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Erick Barbi
38 anos, músico, empresário e publicitário


Gabriel Graça de Oliveira
51 anos, psiquiatra e professor


Jordhan Lessa
50 anos, guarda civil

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Laura de Castro Teixeira
36 anos, delegada


Leona Jhovs
30 anos, atriz, produtora e apresentadora


Luca Scarpelli
27 anos, publicitário


Luiza Coppieters
38 anos, professora


Matthew Miranda Gondin
25 anos, auxiliar de escritório e empresário

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