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A dor que tem hora para acabar

Por Da Redação
13 nov 2008, 16h05

Foto: Marcelo Ferreira

Ezenete Rodrigues, a menina Lucélia e Marcos Rodrigues

É impressionante a capacidade que as críticas têm de nos abater. Eu gostaria que não fosse assim, mas acho que ainda estou crescendo e preciso aprender a “apanhar” sem esmorecer diante das falsas acusações. Afinal, enquanto tem gente por aí que parece viver para criticar, eu prefiro seguir fazendo o bem, e preciso continuar, porque as pessoas que Deus colocou em meu caminho para abençoar não têm nada a ver com os absurdos daqueles que só jogam pedras e tentam prejudicar o nosso ânimo.

Quando os jornais e TVs começaram a nos procurar sobre nosso envolvimento com a Lucélia, menina que foi liberta de um cativeiro em Goiânia e que está morando com a Pra. Ezenete e sua família, ficamos preocupados sobre como nossas palavras e atitudes seriam vistas, já que, infelizmente, muitas vezes a verdade é deturpada pelos veículos de comunicação. Mas, para nosso alívio, tanto a Globo quanto o SBT, Bandeirantes, e os mais influentes jornais impressos de todo o país, divulgaram a boa notícia de que agora, Lucélia encontrou uma família.

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Para nossa triste surpresa, esta semana a revista VEJA publicou uma matéria muito infeliz assinada pela repórter Ana Beatriz Magno. Infeliz porque não nos tratou com verdade. A matéria com o título “Dor sem hora para acabar” nos classifica como aproveitadores que exploram o sofrimento da menina, que segundo eles, parece não ter fim. É verdade que Lucélia sofreu pelo abandono de seus pais, sofreu nas mãos de Sílvia e sofreu diante de outros abusos também; mas o que ela está vivendo agora não tem nenhuma semelhança com nada disso. E a repórter Ana Beatriz Magno não teve ao menos a dignidade de me procurar para fazer qualquer pergunta, já que iria usar uma foto minha, que possuem em seu arquivo de uma antiga matéria que fizeram sobre o crescimento dos evangélicos no país.

Quando a repórter ligou para a Pra. Ezenete ela realmente não quis dar a entrevista. Ela tinha acabado de voltar de Portugal, onde mora um de seus filhos, e não tinha ainda nada acertado sobre o assunto, e muito menos conversado com a Lucélia. Aliás, ela nem tinha falado com o juiz, uma vez que a família ainda não tinha definido sobre a adoção. Sendo assim Ezenete pediu à jornalista Ana Beatriz Magno que nada fosse publicado ainda. Não havia definições. Mas assim que ela conversasse com o juiz, ela daria a entrevista com prazer. Porém, a repórter não voltou a procurá-la. Além disso, Ezenete tinha medo do que poderiam fazer com suas palavras naquele momento. E acho que ela tinha razão em temer a distorção. Uma das acusações da revista é de que a promessa de adoção não é tão certa assim. Naquela época, há mais de um mês, realmente não era. Mas nesse período muitas coisas aconteceram. O processo realmente é demorado, mas a Zê tem a guarda de Lucélia até janeiro, e conta com todo o apoio da direção do Cevam (Centro de Valorização da Mulher – instituição que abrigava Lucélia até ela vir morar em BH) e do juiz de Goiânia que tem acompanhado o caso da menina. Ou seja, tudo está caminhando bem, dentro do que nos foi orientado pelo próprio juiz, que acompanha a alegria de Lucélia com as notícias de sua nova vida.

Quanto à minha parte nesta história, desde o princípio tomei muito cuidado para não expor a Lucélia. Ela jamais subiu sequer no púlpito de nossa Igreja, e nem a nossa TV, a Rede Super, tinha feito qualquer matéria com ela, a não ser depois que todos os demais veículos começaram a nos procurar. Ou seja, não exploramos o fato de estarmos ajudando a Lucélia. Esse nunca foi nosso interesse. Depois do nosso primeiro encontro, no aeroporto de Goiânia, após o evento em que cantei ali, escrevi em meu Blog e coloquei uma foto do nosso abraço, com a menina de costas. Quando escrevi, foi para compartilhar sobre a experiência que mais me marcou naquela viagem: não foi a grandeza da multidão que encheu o ginásio, não foram as luzes do palco, mas o gesto de tocar uma pessoa que sofre. Minha intenção era, e continua sendo, não apenas “pregar” que nós cristãos devemos amar o nosso próximo, mas viver esta realidade. Testemunhei isso para incentivar as pessoas com o exemplo. Nem eu, nem a Ezenete, naquele momento, poderíamos imaginar que Deus tinha muito mais para nós fazermos pela Lucélia.

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Sugerimos que ela viesse passar uns dias BH. Temos um sítio muito bonito, um lugar de paz, de restauração, que é de responsabilidade de Ezenete e pensamos que seria bom para a Lucélia estar ali um tempo. Para nossa surpresa, as autorizações judiciais vieram rapidamente, e ela ficou em BH por 15 dias. Foi só então que a possibilidade de adoção passou pelo coração de Ezenete, de seu esposo e de seus filhos, pois conviveram com Lucélia e quando ela foi embora, sentiram sua falta como se já fizesse parte da família. Aliás, era a menina quem pedia todo o tempo para ser adotada por eles, e já de volta a Goiânia, dizia para todos que agora tinha uma família, e escrevia para a Zê pedindo para chamá-la de mãe. É importante dizer também que Eu mesma nunca falei em adotá-la. Essa foi uma história que foi desenvolvida entre ela e Ezenete. Tive somente o prazer de testemunhar um desfecho tão lindo para uma vida sofrida.

Foto: Marcelo Ferreira

Lucélia, Ezenete e Ana Paula Valadão

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Durante aqueles dias em BH aconteceu a gravação do DVD Crianças Diante do Trono ao vivo, Para adorar ao Senhor, na praça da nossa igreja. Milhares de crianças assistiram, e Lucélia estava na platéia. Em nenhum momento ela subiu no palco, apesar de gostar muito de cantar e dançar, e hoje eu agradeço a Deus por isso, porque eu seria muito mal interpretada se desse a ela essa oportunidade. Acredito que a repórter da Veja, que conversou com a Lucélia lá em Goiânia, tenha entendido mal o ocorrido na gravação. Lucélia voltou para o Cevam muito empolgada com todas as experiências que teve em BH, e deve ter dito que participou de uma gravação comigo. Sim, ela e milhares de crianças, e o rosto dela não aparece em nenhum momento no DVD, que ainda nem foi lançado.

Aliás, sutilmente fomos acusados de estarmos nos aproveitando da menina, porém a repórter não mencionou que ela mesma se aproximou da Lucélia como jornalista e amiga, entrando em contato diversas vezes para conversar de forma informal e oferecendo até mesmo o número do seu telefone para a garota. Todas as declarações citadas na matéria foram dadas por Lucélia à repórter Ana Beatriz na época em que ela esteve na Mabel, ou seja, antes do processo de adoção ser iniciado; o que mais uma vez comprova a ausência de uma apuração séria sobre um assunto tão delicado.

A promessa de que celebraríamos o seu aniversário em BH também foi deturpada pela matéria, que a menciona como uma troca, como uma promessa feita depois da gravação do clipe. Quanta maldade. Acho que a repórter Ana Beatriz está muito acostumada a lidar com gente ruim, a noticiar coisas perversas, e seus óculos a fazem enxergar tudo assim, deturpado. Sobre a inexistência do tal clipe eu já expliquei, o que torna infundada a acusação de troca barata. O que aconteceu é que durante os primeiros 15 dias aqui, Lucélia participou de um aniversário e ficou maravilhada. Ela nunca havia tido uma festa, então a Zê prometeu que independente de onde fosse, BH ou Goiânia, ela providenciaria um bolo para celebrar a data. Seria um presente da nova família. Sendo assim, fizemos o esforço para que ela viesse, a fim de realizar mais um de seus sonhos roubados pela infância sofrida. E a Ezenete fez sim, uma linda festa para ela, porque agora, Lucélia faz parte das nossas vidas, de nosso círculo de amigos, e está inserida em uma linda família que investe tempo, recursos, e muito amor para restaurar as feridas do seu passado.

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Lucélia está estudando e no primeiro dia de aula ela voltou para casa gritando: “Virei gente! Virei gente!” e está se saindo muito bem, pois é muito inteligente. Em breve ela vai estudar música, dança, inglês, enfim, terá oportunidades maravilhosas que não teria de outra maneira. Sua nova família está comprometida a dar a ela o melhor. Aliás, até mesmo em sua saúde será preciso auxílio, pois os maus tratos provocaram algumas seqüelas que cremos que serão solucionadas.

Sobre o passado? Às vezes ela fala uma coisa ou outra conosco, principalmente com a Zê, a quem ela já chama de mãe, mas ninguém “puxa” este assunto. Quando isso acontece, depois de ouvir com carinho, a Zê agradece a Deus junto com ela porque o sofrimento acabou, e jamais ninguém cometeria o absurdo de culpá-la pelo que passou. E foi aí que a jornalista errou de novo. A matéria coloca a expressão “aqui ela foi tocada por Jesus”, palavras que diz serem da Pra. Ezenete, com a frase que diz ser de Lucélia: “A culpada fui eu. Eu, que não estava tocada por Jesus”. Pois quem dizia isto pra ela era a Sílvia, argumentando que a menina tinha demônio, justificando suas torturas. E com esse astuto jogo de palavras colocadas, Ezenete e eu fomos comparadas, outra vez, com quem mais feriu Lucélia.

Decidi escrever para dar satisfação às pessoas que, com dignidade, desejarem nos ouvir quanto a essa infundada acusação. Peço apenas uma coisa. Deixem a menina viver sua nova vida em paz. Creio que todos os meios de comunicação já divulgaram a notícia de que agora ela tem uma nova família (apenas Veja, através da repórter Ana Beatriz Magno, parecia não saber disso muito bem), e o desejo da família Rodrigues é não ter que lidar mais com esse assédio público. Enquanto isso, vamos nos consolando com o exemplo do próprio Jesus, que, curando os enfermos e fazendo o bem, foi chamado de maioral dos demônios, incompreendido por muitos de sua época. E é assim que vamos prosseguir, pois apesar de “pedradas”, não podemos nos cansar de fazer o bem.

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Ah, e só mais um recado – A dor de Lucélia tem hora pra acabar sim. Nós estamos fazendo a nossa parte, mas saibam que ao ver a reportagem, ela ficou desesperada e sofreu outra vez. Por favor, se vocês não querem ajudar, ao menos não atrapalhem.

Indignada, mas tranqüila, respaldada pela verdade, e respondendo como o Senhor ao ser incompreendido: “A sabedoria é justificada pelas suas obras”,

Ana Paula Valadão Bessa

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