‘Clash’: drama contabiliza o saldo amargo da Primavera Árabe
Diretor e corroteirista Mohamed Diab faz filme febril e incessante
(Egito/França; 2016. Imovision) Em um dos primeiros dias de julho de 2013, com as ruas do Cairo tomadas por manifestantes em confronto com a polícia, umas duas dezenas de pessoas vão sendo empurradas aos poucos para a traseira de um camburão: jornalistas, gente que apoia a deposição do presidente Mohamed Morsi pelas Forças Armadas, partidários da Irmandade Muçulmana que clamam pela volta de Morsi — além de curiosos, desavisados ou ainda indignados em geral que se viram apanhados na confusão. Durante todos os 97 minutos de Clash, este filme febril e incessante, esses homens e mulheres, jovens, velhos e até crianças, permanecerão ali, digladiando-se, acompanhando a violência dos choques pelas janelas estreitas do veículo (ou às vezes correndo grande perigo, como quando o camburão é engolfado pelas balas e pedras que voam para todos os lados) e buscando maneiras de ser libertados. Entre os aspectos notáveis deste raro exemplar do cinema egípcio a ganhar distribuição por aqui, destacam-se a exímia movimentação da câmera nesse interior claustrofóbico e o rescaldo amargo que o diretor e corroteirista Mohamed Diab (de Cairo 678, sobre três mulheres vítimas de assédio sexual) faz da Primavera Árabe de 2011.