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Cantor de jazz para os novos tempos

José James, que faz uma única apresentação hoje à noite no Bourbon Street (São Paulo), foge do excesso de reverência e tempera o gênero com soul e hip hop

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 20h54 - Publicado em 15 Maio 2017, 19h51

 

Jose James 2016
© Divulgação (Divulgação/Divulgação)

 

 

O que é um cantor de jazz? Bem, atualmente, o detentor de tal epíteto é um personagem do passado. Ele se veste com ternos de cortes finos ou vestidos sinuosos e centra suas forças no repertório criado há pelo menos cinquenta anos. Quando tenta algo mais moderno – por exemplo, sucessos do pop e do soul dos anos 60 e 70 –, o intérprete dito jazzístico raramente sai do trivial: transporta essas canções para o seu mundo, dando a eles um verniz orquestral e uma interpretação reverente. Foi assim que Diana Krall, cantora e pianista canadense, se tornou uma campeã de vendas ao explorar o repertório da bossa nova. Foi assim que Michael Bublé, outro astro do Canadá, foi saudado como a o novo Frank Sinatra (1915-1998) ao se apresentar como uma versão domesticada do maior cantor americano. Por mais que os talentos de Diana e Bublé sejam evidentes – afinal, são vencedores num mercado disputadíssimo e restrito, se comparado às milhões da indústria pop –, a dupla passa longe do objetivo de um verdadeiro cantor de jazz, que é traduzir, sempre de maneira impecável, a música de seu tempo. José James, que faz hoje uma única apresentação em São Paulo, no Bourbon Street (rua dos Chanés, 127, Moema; ingressos disponíveis na bilheteria da casa ou pelo site https://www.ingressorapido.com.br) é um intérprete de jazz para os tempos de hoje.

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James, de 39 anos, não se contenta apenas em explorar as tradições do gênero, como demonstrou nos álbuns For All We Know, de 2010, e Yesterday I Had the Blues: The Music of Billie Holiday. A sua discografia comporta outros gêneros musicais, como a soul music, o funk e o hip hop. O cantor inclusive tem uma teoria sobre por que a prosa do hip hop seria uma evolução do jazz. “Basicamente, o cancioneiro americano é uma combinação do gospel, do blues, do jazz e do folk. O hip hop, claro, é um filho desses gêneros”, diz ele, que vê muito do jazz nas raízes dos versejadores. “O rap dos anos 90 era feito de samples de jazz e de soul e as batalhas dos MC’s trazem muito do espírito de improvisação típico do jazz”, professa. Anos atrás, James entrou numa ferrenha discussão com o trompetista Wynton Marsalis, defensor do jazz à moda antiga, sobre a importância do hip hop para a revitalização do gênero. Passaram horas até chegar a uma frustrante conclusão. “Nós concordamos que temos visões diferentes. A música e a sociedade passam por evoluções constantes, as quais temos de acompanhar.”

O mais recente lançamento de José James chama-se Love in Time of Madness. A princípio, ele foi concebido como um álbum duplo, sendo que um composto de canções de protesto e outro de baladas românticas. O cantor, no entanto, optou por um lançamento simples. “As pessoas não precisam ser lembradas das injustiças que ocorrem no país”, defende-se. Yesterday I Had the Blues, seu tributo a Billie Holiday, tinha produção de Don Was (Rolling Stones) e o acompanhamento luxuoso do pianista Jason Moran e do baixista John Patitucci. O novo álbum, por seu turno, namora com a sonoridade contemporânea. O produtor, Antario Holmes, tem no currículo trabalhos ao lado do rapper Flo Rida e a cantora canadense de R&B Melanie Fiona. Love in a Time of Madness explora a fundo as diferentes vertentes da black music americana. Por exemplo, as canções Live Your Fantasy e Ladies Man poderiam muito bem figurar num álbum do cantor, compositor e guitarrista americano Prince. James admite a influência. “Sou de Minneapolis e Prince foi como um Deus para mim. Ele é o maior guitarrista de todos os tempos depois de Jimi Hendrix”, alegra-se.

James cresceu cercado por discos do grupo de rock Nirvana e do trio de hip hop De la Soul até descobrir o jazz. Ele admite que foi um adolescente retraído e os álbuns de Billie Holiday lhe trouxeram conforto para superar as eventuais sessões de bullying. Em 2008, estreou com Dreamer, álbum lançado pelo selo do DJ inglês Gilles Peterson. Quatro anos mais tarde, James acabou contratado pela tradicionalíssima Blue Note, por onde lança suas intrincadas receitas musicais que, acredita ele, são dadas por uma entidade superior. “Obedeço aos sinais da minha musa inspiradora. Quando me interesso por uma cultura musical em particular, exploro todas as possibilidades. Por exemplo, se for um disco com influência de hip hop, testo mais de 100 batidas até achar a que melhor se adequa ao meu trabalho. Se for faz algo voltado para o jazz, entro no melhor estúdio que puder, peço um piano Steinway e microfones Neve.” E para James, o que significa ser um cantor de jazz? “Não faço a mínima ideia. Mas acho Cecile McLorin Salvant, uma intérprete de standards, uma verdadeira cantora de jazz”, esquiva-se. “Nos dias de hoje, é praticamente impossível classificar o que é jazz. O público prefere apontar o que não seja jazz, o que é praticamente o resto da música feita nos dias de hoje. Na minha opinião, isso é uma vergonha porque o gênero fecha as suas fronteiras para o diálogo.” Mas vamos combinar algo? José James está mais próximo do que um grande intérprete de jazz faria do que todos os tradicionalistas de hoje.

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