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O teclado endiabrado de Lonnie Smith

Um dos mestres do Hammond B-3, o americano de 73 anos é destaque do Ilhabela In Jazz, festival que acontece na próxima semana no litoral norte de São Paulo

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 20h44 - Publicado em 2 out 2017, 18h55

 

Lonnie Smith, a princípio, queria ser cantor: nos anos 50, ele atuava como vocalista numa banda que formou ao lado dos irmãos. O teclado – que por cinco décadas tem se tornado sua marca registrada – se resumia aos solos de órgão que escutava na missa dominical de Buffalo, cidade do estado de Nova York onde passou a infância. Certo dia, o dono de uma loja de instrumentos musicais, cansado de vê-lo parado à frente do estabelecimento, o presenteou com um órgão Hammond B-3. “Quando escutei o som que saía daquilo, pensei: ‘Era o que eu estava procurando!’ Para mim, foi como se fosse uma mensagem dos anjos”, diz o tecladista e compositor de 73 anos, em entrevista exclusiva à VEJA. Smith e o Hammond B-3 são uma das mais perfeitas simbioses musicais da história da música: seu toque funkeado, seu gosto pela improvisação e seu repertório inusitado se destacaram não apenas na carreira solo, mas também nos discos do guitarrista George Benson, do saxofonista Lou Donaldson e até no último lançamento da cantora Norah Jones – ele é um dos convidados do álbum Day Breaks (1966), ao lado do saxofonista Wayne Shorter e do baterista Brian Blade. Smith é uma das atrações de peso do Ilhabela Jazz, festival que acontece na cidade do litoral norte de São Paulo entre os dias 11 e 14 de outubro, e que traz ainda os nacionais Yamandu Costa, Philippe Baden Powell, Carlos Malta e Pife Muderno, além do pianista Uri Caine. A performance de Dr. Lonnie Smith deverá incluir algumas surpresas, como faixas de seu novo álbum, que tem lançamento previsto para janeiro. “Será interessante sentir a reação do público às novas composições.” Ah, sim. Os shows são gratuitos.

 

A empresária do tecladista deu ordens expressas para que não se fizessem perguntas sobre o turbante colorido de Smith e suas crenças religiosas – ele é adepto do siquismo, uma religião do século XV que tem fundamentos do islamismo e hinduísmo. O assunto, no entanto, pouco importa quando se tem pela frente (ou melhor, na linha telefônica) uma personalidade como Dr. Smith. Ou sua participação na banda do guitarrista George Benson, num período em que ele não tinha se rendido totalmente ao pop – que, diga-se rendeu também discos belíssimos. “Benson foi outra conexão divina. Eu o conheci quando ele fazia parte da banda do tecladista Jack McDuff e eu fazia parte da banda do guitarrista Grant Green”, lembra. Benson entrou criou um quarteto de jazz e Smith se tornou seu tecladista de confiança. A contratação dos jazzistas pelo selo Columbia se deu por meios um tanto, digamos, inusitados. “A gente trabalhava numa boate, fazíamos a trilha para as meninas dançarem. Um dia, o produtor John Hammond foi ao clube em que a gente tocava e gostou mais da nossa música do que das meninas”, brinca Smith. Lonnie Smith participou de dois grandes discos de George Benson, The George Benson Cookbook e It’s Uptown, ambos de 1966. A parceria, no entanto, não dá mostras de acabar. “Todo dia ele me liga pedindo para a gente gravar um disco novo. É bem capaz que façamos isso”, entrega.

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O mais recente lançamento de Dr. Lonnie Smith chama-se Evolution. Saiu no início de 2016 e marcou o retorno dele ao Blue Note, selo pelo qual lançou trabalhos históricos como Think, de 1966, e Live at Club Mozambique, de 1970. A produção ficou a cargo de Don Was, executivo da companhia, e cujo currículo traz desde Rolling Stones ao cantor de jazz José James. “Ele conhece e respeita o meu trabalho” elogia Smith. Evolution é uma obra que se equilibra entre faixas ousadas (Play it Back, que abre o álbum, tem participação do pianista Robert Glasper e dura 14 minutos) e standards bem azeitados de Thelonious Monk (Straight no Chaser) e My Favourite Things, de Oscar Hammerstein e Richard Rodgers, que ganhou inusitados toques de bossa nova. “Sim, tem um pouquinho ali”, concorda. Outro destaque de Evolution é Afrodesia, regravação de uma música de 1975, e que traz o mesmo saxofonista da versão original – Joe Lovano. “Gosto dessa ideia comum da música erudita, de revisitar um ciclo de sinfonias. Porque a nossa visão sobre a obra muda, sabe?”, teoriza. “Lovano era um menino quando gravou comigo. Aliás, acho que a estreia dele em disco se deu em Afrodesia.

Nos últimos dez anos, Lonnie Smith visitou o país duas vezes. Ele se apresentou no Bridgestone Festival, em 2008, e no Jazz na Fábrica, em 2013. Ambas foram inesquecíveis. O show de Ilhabela, garante ele, não será diferente. “Sou inspirado pelo público. Quanto mais quente ele é, mais me animo a fazer coisas diferentes do que registrei em disco”, diz. “É uma eletricidade, uma chama, que vai queimando dentro de mim e me incentivando a dar o meu melhor.” O público do Ilhabela em Jazz, portanto, pode se preparar para uma outra noite memorável.

 

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