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O homem que colocou o jazz na vida de David Bowie

O saxofonista Donny McCaslin foi uma das peças fundamentais de Blackstar, derradeiro álbum do popstar inglês

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 21h32 - Publicado em 19 out 2016, 18h41

Donny McCaslin 1 (c) Jimmy King (2)

No palco do Village Vanguard, em Nova York, o saxofonista Donny McCaslin está se apresentando à frente de seu quarteto, que tem entre seus integrantes o baixista Tim Lefebvre, o baterista Mark Guiliana e o pianista Jason Lindner. De repente, McCaslin pede a atenção da plateia e anuncia a presença do cantor inglês David Bowie – que desde novembro de 2006 não se apresentava ao vivo. O encontro, acredite, esteve próximo de acontecer. Bowie, que morreu em 10 de janeiro de 2016, dois dias após completar 69 anos, era admirador do trabalho do saxofonista americano. Tanto que o convidou para participar ativamente de Blackstar, seu álbum derradeiro. “Nos demos tão bem que me senti à vontade de convidá-lo para participar do meu show”, diz o músico de 40 anos. A parceria com o popstar inglês foi tão marcante que permeia boa parte de Beyond Now, novo disco de McCaslin, disponível nas melhores plataformas virtuais do mercado. Há duas releituras do repertório de David Bowie: A Small Plot of Land, álbum Outside (1995), e Warszawa, clássico instrumental de Low (1977), disco que marcou o início da famosa “trilogia de Berlim” (complementada por Heroes, também de 1977, e Lodger, de 1979). “Beyond Now é um trabalho que mostra o quão profunda foi a minha experiência com Bowie.” Ele diz que criou outra canção, uma sobra das gravações de Blackstar que foi retrabalhada pelo saxofonista. Ela fará parte da trilha de Lazarus, musical no qual o compositor inglês estava trabalhando e que foi encenado de novembro de 2015 a janeiro de 2016 na Broadway.

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A parceria criativa entre Donny McCaslin e David Bowie nasceu por intermédio da maestrina Maria Schneider. Ela foi responsável pelo arranjo de Sue (Or in a Season for a Crime), canção que entrou como bônus da compilação Nothing Has Changed. Sue rendeu uma incômoda comparação com Cais, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos – Maria se diz fã do Clube da Esquina, no entanto, diz não reconhecer essa influência no arranjo que fez para Bowie. Durante uma conversa com a maestrina, o popstar inglês confessou estar procurando músicos de jazz para seu novo projeto – que se tornaria o álbum Blackstar. Maria então recomendou o saxofonista por causa de Perpetual Motion (2010), álbum no qual adicionou sonoridades e efeitos eletrônicos ao jazz. Bowie gostou do que ouviu e no final de 2014 foi conhecer o músico numa apresentação dele no 55Bar, localizado no Greenwich Village, também em Nova York. “Fiquei muito nervoso. Vi Bowie sentado numa das mesas e até tentei disfarçar e manter o foco na música. Porém, a pressão foi por demais”, revela. David Bowie então convidou McCaslin e seu quarteto para participar de seu projeto jazzístico. A princípio, o músico queria escutar antigas gravações do inglês para ter uma ideia dos arranjos que faria para o álbum. Bowie, no entanto, foi taxativo: nada de música velha. “Ele me falava que iríamos fazer algo novo”, revela o saxofonista. Durante o processo de gravação, o roqueiro apresentava rascunhos de suas canções. A missão de McCaslin era criar arranjos para serem executados por ele, Guiliana, LeFevbre e Lindner. A única exceção foi Dollar Days, na qual Bowie, munido de um violão, tocou a canção inteira para a banda. Em uma hora, a faixa, um dos muitos destaques de Blackstar, estava pronta.

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McCaslin é um instrumentista versátil. Sua formação musical vai de Beastie Boys, grupo que marcou sua adolescência, até Hermeto Paschoal. Peraí, Hermeto? “Sim, ele é um dos meus favoritos!” De fato, Love is What is Mortal, do álbum Fast Future (2015), é um baião.

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Beyond Now, embora seja marcado pela homenagem de McCaslin a David Bowie, é marcado por diversas variações sonoras. Shake Loose, a faixa de abertura, tem um saxofone dissonante e ritmo funkeado, enquanto que Glory remete aos tempos da parceria do guitarrista Pat Metheny com o pianista Lyle Mays. A influência Maria Schneider, “patroa” do instrumentista (ele se divide entre o seu quarteto e a orquestra da americana, formada pelos melhores músicos de sopro dos Estados Unidos) se faz presente em na faixa-título, que traz ainda um solo endiabrado de Guiliana, e Bright Abyss, que depois se transforma num reggae com teclado psicodélico. A experiência de McCaslin com David Bowie, contudo, deixou marcas profundas. Em suas apresentações – como as que fez no Jazz na Fábrica, em São Paulo, no mês de junho – ele alterna suas criações com releituras de Look Back in Anger e Hallo Spaceboy, do popstar inglês. David Bowie pode não ter aparecido (por razões óbvias, claro) no show de Donny McCaslin no Village Vanguard, mas seu espírito inovador tomou conta da alma do saxofonista.
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