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Por Sérgio Martins
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Há algo de estranho com mister Santiago

Os Pixies lançaram um disco Head Carrier, no qual se mostram em boa forma. Já seu guitarrista...

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 21h29 - Publicado em 25 out 2016, 15h07
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Pixies: Paz Lenchantin, Dave Lovering, Joey Santiago e Frank Black

Creio que todo mundo que conheço já presenciou uma pessoa levemente, digamos, “alterada”. Minha estreia nessa categoria se deu em 1995. Eu era editor assistente da revista BIZZ e fui entrevistar o integrante de uma conhecida banda paulistana, que tinha lançado um disco solo e se notabilizou por compor hits para bandas de música pop e intérpretes de MPB. Às 10h, horário marcado para a entrevista, o sujeito chegou correndo e me deu a impressão que tinha virado à noite. E entre uma golada e outra na bebida isotônica que trazia às mãos ele falou, e falou, e falou, e falou… Recobrei essa sensação 21 anos depois, ao entrevistar – ainda que por telefone – Joey Santiago, guitarrista dos Pixies, um dos principais grupos do rock alternativo americano. Santiago, ao contrário do apressadinho brasileiro, me atendeu com a voz em rotação lenta, como se estivesse despertando de um longo período de hibernação. A pauta do dia era o lançamento de Head Carrier, novo – e ótimo – álbum do quarteto. “A principal razão do público tem recebido esse disco muito bem é porque finalmente voltamos a ser uma banda”, explica Santiago. O guitarrista se refere à partida da baixista e vocalista Kim Deal, em 2013, e sua substituição por Paz Lenchantin, que gravou Head Carrier (outra Kim, a Shattuck, assumiu o baixo por um período, mas foi demitida aparentemente porque seu jeito esfuziante de ser contrastava com a sisudez do outros três integrantes dos Pixies). “Kim Deal não estava feliz em tocar conosco. Paz, sim. Isso faz muita diferença”, sentencia.

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Santiago formou os Pixies em 1986 na cidade de Boston. Ao seu lado, o guitarrista, vocalista e compositor Charles Thompson (conhecido depois por Black Francis e hoje Frank Black). Kim Deal (baixo e celestiais vocais de apoio) e Dave Lovering (bateria) entraram logo depois. Em sete anos de atividade, o grupo se tornou uma lenda do rock alternativo dos Estados Unidos. Uma das marcas registradas dos Pixies era a criação de músicas que tinham uma dinâmica que começavam de modo explosivo, iam adquirindo um contorno suave e depois explodiam novamente. Essa fórmula foi assimilada, por exemplo, pelo Nirvana em Smells Like Teen Spirit (Kurt Cobain sempre declarou que seu maior sucesso era uma tentativa de criar uma boa canção dos Pixies). Outra especialidade do grupo eram as letras de Black, que podiam ir de uma homenagem a Alexandre Gustave Eiffel, criador da Torre Eiffel (Alec Eiffel), a referência à cena em que uma navalha corta um olho no filme O Cão Andaluz, do cineasta espanhol Luis Buñuel (Debaser). A pergunta mais óbvia é se alguma vez os integrantes dos Pixies estranharam os assuntos abordados por Black em suas letras. “Nunca. Mesmo porque a gente era tão doido quanto ele”, diz, um tanto bamboleante. Santiago tinha a função de polir as composições de Black e adicionar seu estilo pessoal de guitarra, muito influenciado pela surf music. “Sim, tem muito da surf music no meu estilo de tocar guitarra. Mas eu faço do meu jeito”, explica, colocando alguns decibéis a mais na voz. “Minha teoria é a seguinte: alguém cria o carro. Vem outro e cria a roda. Então, para que criar outra roda, entendeu?” Não, não entendi. “Seguinte, não é porque eu gosto de Jimi Hendrix que tenho de assimilar o estilo dele. Pego o que me interessa e pronto, crio um estilo meu”, resume. OK, Santiago, agora eu entendi.

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Cansados de serem mais sucesso de crítica do que de público, os Pixies encerraram as atividades em 1993. Thompson criou uma nova banda, Frank Black & the Catholics, Lovering tentou ser mágico e Kim deu prioridade às Breeders, projeto paralelo que criou em 1989 – e que a partir de 1992 contou com Kelley, irmã de Kim, na guitarra e nos vocais. Santiago passou a compor temas para o cinema e televisão. Tomou tanto gosto pela atividade que continuou a exercê-la mesmo depois que os Pixies retomaram suas atividades, no ano de 2004. Ele criou alguns temas de Weeds, seriado estrelado por Mary Louise Parker. Ele também estava escalado como ator para The Bridge, filme que contaria ainda com os roqueiros Joe Elliot (vocalista do Def Leppard) e Al Jourgensen, do Ministry. “A produção parou por falta de dinheiro. Eu interpretaria o gerente de um hotel vagabundo, mas nem cheguei a filmar nada”, revela.

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Head Carrier, novo disco dos Pixies, que chega agora às lojas brasileiras, é um belíssimo trabalho. Ele apresenta todas as fórmulas de composição do quarteto americano: de esquisitices como Baal’s Back e Un Chagga Lagga a Bel Spirit e Talent, canções de sonoridade pop e que pedem uma chance nas rádios. A minha predileta, no entanto, é All the Saints, cuja guitarra “chorada” me faz lembrar de Sleep Walk, sucesso dos anos 50 da dupla Santo & Johnny. “Sim, claro! E me inspirei também em Albatross, do Fleetwood Mac”, anima-se Santiago. A conversa termina com a promessa de mais uma visita ao Brasil – eles estiveram aqui três vezes: em 2004, 2010 e 2014. Quando terminei a entrevista, comentei com Costabile Salzano, assessor que agendou o papo com Joey Santiago que o guitarrista estava um tanto estranho. Três semanas depois, os Pixies anunciaram que Santiago havia sido internado numa clínica de reabilitação para tratar de problemas com álcool e substâncias químicas. Bem que eu percebi que havia algo de estranho…

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