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Frank Zappa para presidente!

Por que o guitarrista, morto em 1993, era uma solução melhor que Hillary Clinton e Donald Trump

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 21h23 - Publicado em 9 nov 2016, 12h44

 

UNITED STATES - JANUARY 01:  Photo of Frank ZAPPA; Frank Zappa performing on stage  (Photo by Richard E. Aaron/Redferns)

Frank Zappa, meu presidente!

 

 

A partir de hoje, pelo menos para mim, o presidente americano é Frank Zappa. Mas sem esse discurso “não reconheço governo golpista” ou qualquer outra palavra de ordem dessa categoria. Prefiro reconhecer Zappa como chefe do Estado americano porque não gosto da populista Hillary Clinton, tampouco acredito que aquele topete do Donald Trump seja uma mecha real de cabelo (ainda que Marcelo Marthe, meu companheiro de editoria de VEJA, tenha pego nos tufos que se refugiam no cocuruto do milionário e me garantido que ali havia sinal de vida – pouco – inteligente). O fato de Zappa estar morto há 22 anos – sucumbiu a um câncer de próstata no dia 04 de dezembro de 1993 – não tira meu convencimento de que ele é o sujeito ideal para o cargo. Basta colocar alguém para aplicar as ideias e a filosofia desse grande americano que tudo irá correr bem. E, sim, Frank Zappa não era político: era músico, compositor, band leader e agitador cultural. Suas credenciais, porém, era muito maiores do que a dupla que fez uma das campanhas mais sujas da história da república americana.

Nascido a 21 de dezembro de 1940 em Baltimore, cidade do estado americano de Maryland (onde, aliás, Hillary Clinton venceu Donald Trump por 25 pontos percentuais de diferença), Frank Vincent Zappa foi um democrata e tanto. Por exemplo, ele sempre acreditou em direitos iguais para todos. Direito a serem satirizados, claro. Zappa não perdoou ninguém: brancos, negros, índios, latinos, árabes, orientais, esquimós (!!), homens, mulheres, gays, hippies, pobres, ricos, democratas & republicanos foram espezinhados em mais de cinquenta álbuns – sem contar as compilações – lançadas ao longo de 27 anos de trajetória artística. “Música é sempre um comentário sobre a sociedade”, defendia. Boa parte desses insultos bem humorados saiu em Have I Offended Someone, lançado em 1997. Tem Bobby Brown, o machão que teve um “pequeno acidente” ao fazer sexo com uma lésbica chamada Freddie; Valley Girl, que ironiza a futilidade das meninas daquela região da Califórnia e Tinseltown Rebellion, uma crítica direta às bandas que tenta sucesso a qualquer custo e que são orientadas por executivos de gravadora pouco interessados em qualidade musical (Zappa sempre odiou a indústria fonográfica a ponto de criar seu próprio selo). O senso de humor do compositor nem sempre foi bem compreendido: Jewish Princess, canção que faz troça do estereótipo da mulher judia, sofreu uma “recomendação” para não ser tocadas nas rádios. Um boicote inútil, visto que ele nunca foi campeão de popularidade. “O personagem dessa canção, assim como o unicórnio, não existe”, esquivou-se o meu presidente. Zappa tinha uma visão política liberal, mas odiava hippies (massacrados em Flower Punk, faixa de We’re Only in it for the Money, sátira de Sgt. Pepper’s, obra prima dos Beatles) e nunca gostou de drogas. “Bolinhas vão fazer vocês ficarem iguais aos seus pais”, disse certa vez. Tampouco tinha ideais socialistas. “O comunismo não dá certo porque as pessoas gostam de possuir coisas.” Foi – ou melhor, é, porque para mim ele não morreu – um homem de poucos vícios. Era obcecado por música, amava tietes desinibidas (a ponto de criar uma banda formada por essas moçoilas de peito aberto), cigarros e café. Passava tantas horas no estúdio da gravação que sua filha, Moon Unit, só conseguia alguns momentos de diálogo quando colocava “conversa com os filhos” na apertadíssima agenda de estúdio do pai. A crença de Zappa na democracia e na liberdade fez com que ele lutasse contra o PMRC (Parentes Music Resource Center), uma criação de Tipper Gore, mulher do político democrata Al Gore, que defendia a censura prévia a discos e obras consideradas pornográficas. “As demandas do PMRC são equivalentes a tratar caspa com decapitação”, declarou. O senso de justiça de Zappa se mostrou relevante nas críticas que fez ao presidente americano Ronald Reagan. Uma delas foi em forma de música. Reagan at Bitburg é uma sensacional peça de música erudita do século XX que narra, em forma de sons atonais no sintetizador Synclavier, o horror da visita do ex-presidente americano ao cemitério alemão, onde estavam enterrados alguns oficiais do exército nazista.

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E havia a música… e que música. Frank Zappa possui uma extensa cultural musical, que vai da música barroca ao atonalismo de um Pierre Boulez (que, aliás, gravou um álbum no qual regia peças do americano), da surf music ao jazz rock, do pop descartável à música eletrônica. Ele teve um único grupo, o Mothers of Invention, que passou por inúmeras encarnações e sempre contou com o melhor time de músicos disponíveis e ávidos por tocar com mestre Zappa: os cantores Mark Volman e Howard Kaylan (dos Turtles, que assumiram o nome Flo & Eddie), Ray White e Ike Willis; os bateristas Aynsley Dunbar, Terry Bozzio, Vinnie Colaiuta e Chad Wackerman; os guitarristas Adrian Belew, Steve Vai, Warren Cuccurullo; os tecladistas George Duke, Eddie Jobson e Bobby Martin; o violinista Jean Luc Ponty… a lista é extensa. Zappa se orgulhava do time de músicos que ele montava e os testava até o limite. Certa vez, perguntei a Cuccurullo, então no Duran Duran, porque numa determinada música do disco Tinseltown Rebellion (1981), Zappa o obrigou a fazer tantos solos de guitarra. “Simples. Porque eu disse a ele que tinha uma certa insegurança de fazer solos. Zappa então testou meus limites”, respondeu (ah, e os solos são sensacionais). São tantos os discos e estilos que vai uma pequena dica: comece por algo mais acessível. A minha introdução ao mundo zappeano foi Sheik Yerbouti, de 1979, que tem as inacreditáveis Bobby Brown e Dancin’ Fool, que brinca com a moda das discotecas, ao lado de canções instrumentais fantásticas como Rat Tomago; passei depois para Tinseltown Rebellion (1981), com a mesma qualidade de música e insultos de Sheik e entrei de cabeça no jazz rock de Over-Nite Sensation (1973), Apostrophe (1974) e, acima de tudo, Hot Rats (1969). Devidamente entronizado no mundo particular de Frank Zappa, degustei discos mais humorísticos como o já citado We’re Only in it for the Money e Cruisin’ with Ruben and the Jets (ambos de 1968). Não sou muito fã de sua discografia na década de 80, período em que se encantou com o Synclavier e despejou um monte de álbuns com aquela sonoridade eletrônica. Recomendo, no entanto, Francesco Zappa (1984), onde ele tocou peças do homônimo compositor barroco italiano. Por um bom tempo – mais especificamente quando era um bebê – foi um dos álbuns prediletos do meu filho. E posso garantir que não houve nenhum efeito colateral negativo, somente a paixão pela música. Mas caso você queria uma plataforma de governo mais específica, recomendo Zappatite, uma coletânea com faixas de várias fases das carreira do roqueiro americano, que acaba de chegar às lojas brasileiras.

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Deus salve a América, Deus salve presidente Frank Zappa! Caso você ainda não tenha se convencido, aí vão algumas das plataformas políticas de Zappa e momentos de pura musicalidade.

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