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Mineiros é hoje uma cidade em pânico, com superpopulação de perus

Irresponsabilidade da PF paralisa unidade da BRF de cidade do sudoeste de Goiás, e 25 mil animais deixam de ser abatidos por dia

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 27 mar 2017, 13h41 - Publicado em 23 mar 2017, 16h57

Reportagem publicada pelo Estadão dá conta, agora com as tintas do surrealismo, da irresponsabilidade da Polícia Federal na divulgação da chamada Operação Carne Fraca. Como já escrevi aqui, a única carne que anda fraca no país é a da institucionalidade. Vamos falar de uma cidade que tinha uma economia regular, estável, que garantia aos moradores uma vida digna.

E, da noite para o dia, sobreveio o caos.

Estamos falando da cidade de Mineiros, no sudoeste de Goiás, com pouco mais de 60 mil habitantes. Parte importante do dinheiro que circula na cidade, da renda de sua população, de seu bem-estar, deriva da criação e abate de peru. Há nada menos de 219 granjas na cidade. Por dia, a unidade da BRF que foi interditada abatia 25 mil aves. 

Pois bem! Tudo parou. 

Os criadores não têm a quem vender os animais. Desde a patuscada estrelada pela Polícia Federal, 150 mil perus deixaram de ser abatidos. O problema é maior do que parece. Em razão de especificações técnicas da BRF e da exigência do mercado comprador, o peso máximo do animal tem de ser 25 kg. Acima disso, a empresa rejeita o animal. O peso médio de abate é, na verdade, 20 kg. 

Ocorre que os animais que já atingiram o peso continuam nas granjas. E continuam comendo. E ganham peso. Se passar dos 25 kg, o que é muito provável, a BRF já não poderá comprá-los. O frigorífico teve renovada sua licença sanitária em fevereiro, no mês passado. 

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Informa a reportagem que as granjas de Mineiros abrigam hoje 4,3 milhões de perus, que são mantidos em ambiente com ventilação constante de 27 graus.

Questão ambiental

Há ainda uma questão gravíssima, também ambiental. Os perus começam a morrer quando atingem 25 kg. Em mais alguns dias, esses 150 mil perus não poderão mais ser comprados pela BRF. Inexiste estrutura na cidade para fazer o abate e descarte dos animais. O que se fará com essa montanha de carne? 

Toda a cadeia 

O caso dos criadores de Mineiros é especialmente aflitivo porque os animais estão crescendo, eles precisam dar alguma destinação aos bichos e não se sabe o que vai acontecer. Mas as coisas vão além, não é?

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Caminhoneiros às pencas que faziam o transporte dos perus abatidos também estão parados. Produtores agrícolas de matéria-prima para ração também estão em desespero no Brasil inteiro. Como afirmou um ouvinte do programa “Os Pingos nos Is”, as despesas do produtor já foram contratadas.

A situação é, sim, muito grave. E é pouco o que o governo pode fazer. Barreiras sanitárias, uma vez impostas, demandam tempo até que sejam revistas. Há etapas técnicas que têm de ser cumpridas. 

Absurdo 

Mais passa o tempo, mais absurda a operação se mostra. Digamos que haja mesmo três dezenas de fiscais envolvidos com lambança. É claro que a PF deveria investigar. E que a informação viesse a público, mas de outro modo, não é?

A atuação da PF poderia ser exemplar na identificação das fraudes, mas para evidenciar que o setor continua comprometido com a excelência técnica. Em vez disso, anunciou-se ao mundo que o país vende carne podre, misturada a papelão, com produtos cancerígenos.

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Não tenham dúvida de que podem vir a público evidências de fraude aqui e ali. Nada, é evidente, que justifique aquelas barbaridades. 

Contratando clérigos muçulmanos 

Muita gente desconhece essa informação. Em algum momento, eu já esbarrara nelas, mas havia me fugido da memória. Conversava ontem com um empresário da área. Ele me pediu licença, por segundos, para dar uma resposta a alguém que lhe fizera uma indagação. 

Ao voltar, desculpou-se: “Tinha de resolver uma questão aqui com um clérigo muçulmano…”. 

E eu: “Clérigo muçulmano?”. 

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E ele me lembrou que, para ganhar o mercado internacional e ser líder, os empresários contratam, por exemplo, religiosos muçulmanos para que acompanhem o abate e processamento de animais. 

Sim, senhores! Há regras no Alcorão para o abate, e os frigoríficos contratam religiosos, como funcionários mesmo, para certificar que tudo é feito conforme a exigência. Chama-se abate “Halal”. 

Eis as regras:

– só se abatem animais saudáveis;

– antes do abate, dizer “frase “Em nome de Alá, o mais bondoso, o mais Misericordioso”;

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– a faca tem de ser afiada para que a sangria ocorra em uma só etapa: o corte tem de atingir traqueia, esófago, artérias e a veia jugular. Todo o sangue se esvai. Esse é considerado um método piedoso. Suponho que haja uma adaptação para a mecanização do abate;

– religiosos acompanham tudo para que a carne seja certificada e possa ser vendida a países muçulmanos. 

Por quê? 

Por que lembrei isso num texto que começa dando conta do risco que corre uma cidade em razão da irresponsabilidade da PF? Para demonstrar que existe um setor de excelência no Brasil, que vai a detalhes e cumpre exigências que são ignoradas por pessoas que não são da área.

Eis aí: homens de estado, que manipulam instrumentos de repressão e coação, segundo regras do estado democrático e de direito, não podem atuar ao arrepio da lei que os legitima.

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