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ESTRADAS DA MISTIFICAÇÃO: O QUE EU DISSE E O QUE DISSERAM

Leram o texto acima, do Estadão, com aquela introdução que fiz? Pois é… Vocês sabem quem não me importo que lembrem as coisas que escrevi. Aliás, faço questão. Porque costumo lembrar o que os outros escreveram. Tenho memória boa. No dia 19 de outubro de 2007 (!!!), mandei ver sobre o modelo Dilma de privatização […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 15h32 - Publicado em 14 abr 2010, 06h37

Leram o texto acima, do Estadão, com aquela introdução que fiz? Pois é… Vocês sabem quem não me importo que lembrem as coisas que escrevi. Aliás, faço questão. Porque costumo lembrar o que os outros escreveram. Tenho memória boa. No dia 19 de outubro de 2007 (!!!), mandei ver sobre o modelo Dilma de privatização das estradas:

Na pantomima em curso sobre a superioridade do modelo petista de privatização de estradas – aquele que dará, se der, resultados dentro de uns 10 anos -, acreditem, os tucanos não conseguiram lembrar, por exemplo, que a segunda pista da Imigrantes, que leva ao Litoral, foi feita sem que o estado desembolsasse um tostão. Mas muito se fala do valor do pedágio. Jornalistas repetem bovinamente a pistolagem militante: vai-se pagar R$ 13,40 para andar 40 km na Imigrantes contra R$ 1,42 para transitar 100 km na (esburacada e assassina) Fernão Dias.
Quem já transitou na nova Imigrantes viu uma obra sem igual no Brasil e rara no mundo em segurança, engenharia e respeito ao meio ambiente. O caso nem sequer foi lembrado. Aliás, leiam as matérias, a quase totalidade pautada pelo PT, e tentem identificar qual é a porcentagem do texto dedicada à informação de que as estradas privatizadas em São Paulo nada devem às melhores do mundo.
Dilma Rousseff é um milagre da engenharia de estradas, já laureada pelo que ainda não fez. Agora, tentam transformá-la num milagre da engenharia política.

No dia 19 de outubro, fiz um outro texto, aí criticando um artigo de… Elio Gaspari. Eu já o aconselhava desde aquele tempo a parar com essa mania de usar a bola de cristal do Eremildo. E juro que o faço para o bem dele. Tivesse me escutado então, não teria previsto, dois anos mais tarde, o sucesso fabuloso de “Lula, O Filho do Brasil”…Assim eu apresentava um texto do articulista:Mas o que dizia ele sobre o Modelo Dilma? Isto:

Boa notícia: o eleitor cobrará pedágio

O TUCANO É UM animal estranho. Quando se discorda dele, repete a explicação. Afinal, se alguém ousa divergir, deve ter entendido mal.
Na semana passada, a empresa espanhola OHL arrematou cinco estradas federais num leilão de resultados surpreendentes. A concessão das rodovias saiu por cerca da metade do teto que a União aceitava. O tucanato odiou esse desfecho.
Dois hierarcas da equipe do governador José Serra criticaram o modelo seguido por Nosso Guia e previram o Apocalipse rodoviário. Carlos Dória, da Agência de Transporte do Estado, indicou que leiloará cinco estradas paulistas seguindo o tradicional modelo dos anos 90.
A principal diferença entre os dois métodos está nas luvas que São Paulo exige e o governo federal dispensa. Os tucanos que condenam esse caminho e o atribuem a Lula não fizeram a lição de casa ou, o que é mais comum, acham que os outros são bobos. Nosso Guia fez exatamente a mesma coisa que FFHH. Entre 1995 e 1997, o tucanato federal leiloou cinco concessões, entre as quais estavam a ponte Rio-Niterói e a Dutra. Foram ao martelo sem um ceitil de luvas.
Nunca será demais repetir que, se um cidadão viajar de Belo Horizonte para São Paulo, pagará à OHL R$ 1,42 para cada 100 quilômetros. Caso prossiga para o Rio, o pedágio sobe para R$ 7,58.
Não foi o governo federal quem fixou os pedágios baratos. Foram as empresas, na livre competição do mercado, que baixaram os preços. Se houvesse apenas dois interessados na Fernão Dias, um pedindo R$ 4,00 (o teto aceito pela União) e outro deixando os 100 quilômetros por R$ 3,99, o segundo ficaria com a concessão. A OHL ofereceu-se para operar a R$ 1,42 e levou-a.
No caso dos próximos leilões paulistas a situação se complica.
Primeiro, porque se o cidadão que veio pela Fernão Dias resolver ir a Santos, pagará R$ 13,10 para cada cem quilômetros. Certamente o governo de José Serra poderá destrinchar a oferta que fará ao mercado. Qual será o impacto das luvas sobre os pedágios? Assim, o sujeito saberá que pagará R$ 10, mas que 20% desse valor (pura hipótese) destina-se a novas obras. Trata-se de um imposto disfarçado, mas deixa pra lá.
Além disso, a patuléia poderá conhecer a taxa de retorno que o governo de São Paulo considerou razoável. Com um pouco de trabalho, pode-se desossar as cifras, de forma a tornar os dois sistemas tão comparáveis quanto possível. Estranho animal o tucano, cobra mais caro e ainda quer convencer a escumalha de que fazer comparações é coisa de imbecil.
Finalmente, um detalhe que foi decisivo nas últimas privatizações federais: qual a abertura para a entrada de empresas estrangeiras no leilão? Quando as sete rodovias vendidas por Nosso Guia estavam amarradas ao cartel de empreiteiras e concessionárias nacionais, a taxa de retorno andou em 18%, para não dizer 25%. Acabou em 9%.
Uma lei espanhola subsidia empresas que investem na América Latina. Para US$ 4 exportados, podem deduzir US$ 1 da base de cálculo de seu imposto de renda. O rei da Espanha subsidia, com dinheiro de seu tesouro, uma empresa do seu país para explorar a concessão de uma estrada no Brasil, cobrando pedágios baratos. Pode-se protestar, mas também pode-se sugerir que se mude o nome de uma estrada dessas para “Rodovia Rei Juan Carlos”.

Leitores petistas, claro!, me pedem que comente o novo panfleto de Elio Gaspari em defesa do modelo petista de concessão de estradas. Dizem que é uma resposta ao que escrevi. Não é. Trata-se de uma tentativa bisonha de contestar Carlos Alberto Sardenberg, que tratou do assunto no Estadão de anteontem. Temos, de fato, a mesma opinião. Embora o artigo de Sardenberg seja posterior ao meu e com idêntica conclusão, ele é melhor, mais técnico e mais rico em argumentos.
Gaspari escreve bem, sem dúvida. Mas não sabe fazer conta. Acha que pode substituir a lógica por diatribes vocabulares e gracejos. O título do texto já não deixa a menor dúvida: “Boa notícia: o eleitor cobrará pedágio”. Quando digo que seu artigo é panfleto eleitoral, não o é porque quero, mas porque Gaspari e a lógica querem. Observem:
– o modelo tucano é muito pior;
– o eleitor cobrará por isso, o que é “boa notícia”;
– a boa notícia da “cobrança” beneficia o PT.

O que mais me encanta é o misto de convicção e agressividade, que agora se revela CONTRA OS FATOS. Ok, Gaspari sempre poderá dizer que Dilma não aplicou direito o Modelo Dilma… No dia 14, antes do texto tresloucado de 17 de outubro de 2007, eu bem que tentei lhe dar a mão. Assim:

domingo, 14 de outubro de 2007 | 5:45

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O PT e a ministra Dilma Rousseff não precisam fazer campanha política – quiçá eleitoral – com a privatização das estradas federais. Elio Gaspari faz por eles com muito mais competência e estilo, pondo a serviço dos companheiros o seu estoque de metáforas. Como sabemos, Gaspari resume a política a um conflito entre o andar de cima e o andar de baixo. É assim um Romeu Chap Chap da ideologia. Andou incomodando os petistas aqui e ali, é verdade, mas só o fez porque julgou que, no andar de baixo, estavam fazendo a política do andar de cima. Escreve na Folha e no Globo deste domingo um texto deplorável porque não vai além da propaganda. E, pior, desinforma o leitor. Seguem um trecho do texto e o link. Volto depois.

Na tarde de terça-feira concluiu-se no salão da Bolsa de São Paulo um bonito episódio de competência administrativa e de triunfo das regras do capitalismo sobre os interesses da privataria e contubérnios incestuosos de burocratas. Depois de dez anos de idas e vindas, o governo federal leiloou as concessões de sete estradas (2,6 mil km). Para se ter uma medida do tamanho do êxito, um percurso que custaria R$ 10 de acordo com as planilhas dos anos 90, saiu por R$ 2,70. No ano que vem, quando a empresa espanhola OHL começar a cobrar pedágio na Fernão Dias, que liga Belo Horizonte a São Paulo, cada 100 quilômetros rodados custarão R$ 1,42. Se o cidadão quiser viajar em direção ao passado, tomará a Dutra, pagando R$ 7,58 pelos mesmos 100 quilômetros. Caso vá para Santos, serão R$ 13,10. Não haverá no mundo disparidade semelhante.Se essa não foi a maior demonstração de competência do governo de Nosso Guia, certamente será lembrada como uma das maiores. Sua história mostra que o Estado brasileiro tem meios para defender a patuléia, desde que esteja interessado nisso. Mostra também que se deve tomar enorme cuidado com o discurso da modernidade de um bom pedaço do empresariado. Nele, não se vende gato por lebre. É gato por gato mesmo.

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Voltei
Gaspari sabe, mas finge ignorar (prefere falar, como ele costuma dizer, à choldra que também ignora) que o modelo de privatização das estradas paulistas difere do modelo federal. Em São Paulo, elas tiveram de pagar luvas ao estado. As federais saíram de graça. No preço do pedágio está embutido esse pagamento inicial.

O que é um preço abusivo de pedágio? Trafeguei neste sábado pelas exemplares Bandeirantes, Anhangüera, Washington Luiz e SP-225, duplicada e talvez a estrada mais bem-sinalizada do Brasil. Mesmo num sábado pós-feriado, estavam cheias. É caro andar nessas rodovias? Eu, por exemplo, não acho: avalio o que elas me oferecem em segurança; levo em conta as obras de duplicação – ou o novo trecho da Bandeirantes; considero a infra-estrutura que está à disposição dos usuários.

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No ano que vem, informa Gaspari, cada 100 quilômetros da Fernão Dias custará R$ 1,42. É verdade. Para o usuário andar no buraco, interrompido, às vezes, pelo asfalto. Quem disse que o modelo de Dilma já deu certo? Há, quando muito, uma expectativa gerada pela propaganda e pelos marqueteiros de ocasião. O consórcio vencedor vai tocar as obras de que a rodovia precisa? Em que velocidade? Não me lembro de nada parecido. Demoniza-se um modelo que, efetivamente, deu certo e se exaltam as glórias de uma escolha cujos resultados podem demorar ainda uma década. Como de hábito nos tempos de Lula, setores da imprensa acabam sendo os maiores aliados da empulhação e da vigarice.

Isto mesmo: declarar que o modelo de concessão das federais é superior àquele das concessões das rodovias paulistas é empulhação eleitoreira e vigarice intelectual. E a razão é simples: ninguém conhece o modelo federal na prática. Ademais, ainda que o leilão de Dilma venha a se mostrar uma revolução, as circunstâncias das concessões hoje são muito diferentes daquelas do passado.

Ora, bastava a Lula declarar bem-sucedida a sua escolha – ainda que ele não saiba no que vai dar – e pronto. Não! Ele e seu partido resolveram se dedicar a seu esporte predileto: demonizar quem veio antes. E, como se vê, com a ajuda de uma parte da imprensa.

Encerro
Por que esses erros monumentais, vexaminosos mesmo, acontecem? Porque algumas pessoas supõem exercer uma espécie de monopólio de amor pelo povo. Mesmo quando a matemática e a lógica insistem em demonstrar que estão erradas. Se preciso, acusam, então, a matemática e a lógica de “demofóbicas”.

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