Direita xucra e esquerda acusam, juntas, complô para soltar Cunha
A tese não para de pé. Trata-se de uma das maiores falácias criadas, nestes tempos, pelos teóricos da conspiração
Numa coisa os esquerdistas e a direita xucra — ou melhor, em mais uma coisa — concordam: há um complô no Supremo para soltar Eduardo Cunha. Estariam envolvidos na suposta tramoia Gilmar Mendes, Dias Toffoli e o decano Celso de Mello. Sobre Ricardo Lewandowski, as insinuações são mais leves. Nada se diz a respeito de Edson Fachin.
A esquerda tem uma explicação para a sua tese conspiratória: caso Cunha permaneça em prisão preventiva, ele acaba fazendo delação premiada. Se o fizer, cai o governo Temer. Nessa hipótese, a eleição seria indireta. Mas é claro que se vai criar o movimento em favor das “diretas já” — e não apenas para mandato-tampão.
A tese conspiratória da direita xucra é mais complicada. Sim, os ministros estariam querendo preservar o governo Temer. Mas esses ilustres pensadores não dizem o que pode acontecer se o presidente cair. Não dizem porque têm medo da resposta: a esquerda vence. Assim, dão-se ao luxo de ser irresponsáveis para açular os ódios, mas se negam a desenvolver o raciocínio inteiro.
Há ainda uma outra suspeita nesses setores: os ministros também soltariam Cunha para desafiar a Lava Jato, entendem? Bem, mas por que ministros fariam isso? Não se sabe! A direita xucra, com alguma frequência, guarda para si as razões secretas. Apenas pede aos fiéis que acreditem nas ações do satanás.
Coisas espantosas
É um troço espantoso porque nada disso para de pé.
Em primeiro lugar, note-se que se dá de barato, à esquerda e à direita xucra, que permanecem as razões para a prisão preventiva de Cunha. Vale dizer: só uma decisão é legítima; só uma decisão é decente.
Mas isso ainda está longe de ser o mais estúpido. Vamos pensar. Qual é o caminho para Cunha ter uma pena leve? Resposta: fazer a delação premiada. Logo, não fazê-la implica uma pena longa, certo?
Os esquerdistas e os xucros sustentam que se quer tirar Cunha da preventiva porque, fora da cadeia, ele não faria a delação, certo? Ah, entendi. Ocorre que, se não o fizer, a pena será da pesada. Então, a suposta conspiração para beneficiar Cunha (e mais uma penca de políticos), tirando-o da cadeia, teria como corolário alguns… muitos anos de cadeia! Sem contar que nada impede que faça delação depois de condenado.
Até eu, segundo alguns bocós, sou um elo — certamente, o mais fraquinho — dessa conspiração para soltar Cunha. É verdade. Combinei tudo com ele. Disse assim: “Olhe, Cunha, eu vou falar que cabe, sim, habeas corpus no seu caso. Aí, por enquanto, você sai da cadeia. Mas sabe que será condenado por Sergio Moro rapidinho, né? E que a sentença deve ser confirmada na segunda instância. É isto, Cunha: eu quero soltá-lo agora para que você apodreça lá depois, ok? Você topa?”.
O que vocês querem que eu diga? Idiotas os há por aí às pencas. Acreditam nisso e em teses ainda mais mirabolantes. Só não se ocupam de ler a lei que trata das preventiva e as razões elencadas para mantê-la.
Fazer o quê? Dizer a verdade!
O que fazer num caso assim? Ora, dizer a verdade. Não existe conspiração nenhuma no Supremo para soltar Cunha, com intuito de salvar este ou aquele. Até porque sabemos todos que isso é impossível.
O mais fabuloso dessas “apurações” é que, em realmente tendo havido algum ministro da Corte que abordou o assunto com jornalistas, deve se tratar de alguém da Primeira Turma, né?, com certo ânimo para depredar colegas. Ou alguém imagina Mendes, Toffoli e Celso a combinar o resultado do jogo?
A tese da esquerda e da direita xucra não faz o menor sentido. Trata-se apenas da escandalização do nada.
Até porque, vamos convir: quer Eduardo Cunha solto quem torce por uma delação. É a única chance que ele tem de pegar uns dois ou três aninhos de cana.
Sabem o que é mais fabuloso nisso tudo? Ver alguns antipetistas bisonhos a brandir a tese que interessa às esquerdas.
Direita xucra!