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A Parte e O Todo – “Nunca fui de esquerda”, diz Lula. E a imagem da semana

“O Mágico”, de Bosch: reparem na pinta do picareta, embora a elite esteja de coluna dobrada Marilena Chaui e Emir Sader, a esta hora, ou estão encharcados de lágrimas, sentindo-se traídos pelo Tiranete de Siracusa, ou estão comemorando o que consideram mais um truque do Babalorixá de Banânia. Em entrevista à Agência Reuters, Lula não […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 23h26 - Publicado em 15 jul 2006, 00h59
“O Mágico”, de Bosch: reparem na pinta do picareta, embora a elite esteja de coluna dobrada
Marilena Chaui e Emir Sader, a esta hora, ou estão encharcados de lágrimas, sentindo-se traídos pelo Tiranete de Siracusa, ou estão comemorando o que consideram mais um truque do Babalorixá de Banânia. Em entrevista à Agência Reuters, Lula não teve dúvida e mandou ver: “Nunca fui de esquerda”. Em certo sentido, ele tem razão. Começou a sua carreira sindical combatendo uma chapa infiltrada pelo antigo partidão. E a dele era infiltrada pelo SNI. Lula achava política meio nojenta e queria era brigar por colônia de férias em sindicato. De certo modo, realizou seu desejo. Até seu guri usa avião da FAB para levar os amigos para nadar na piscina do Palácio da Alvorada.

Ele nunca foi mesmo de esquerda porque isso requer certa complexidade mental, que ele não tem. O que não quer dizer que tal complexidade seja sinônimo de coisa boa. Lula é muito preguiçoso e indisciplinado para ser comunista. Também lhe falta aquele sentido de lealdade à causa. Podem ver: é só a chapa ficar quente, ele vai se livrando dos “companheiros”. Uma boa prova de seu êxito no mundo do individualismo é seu patrimônio — sonho de todo “operário” do ABC, que é o que ele ainda se diz.

Imagine Lula lendo aqueles textos intermináveis de Lênin. Cai no ronco antes da terceira linha. Não consigo vê-lo de posse dos discursos mais complexos de Trotsky, juntando variáveis culturais à luta política cotidiana. No terceiro paradoxo, começa a ter coceira no dedão e se distrai. Gramsci, então, Jesus! Tudo muito assistemático, às vezes quase cifrado. As análises políticas de dona Marisa Letícia, como ele já confessou outro dia, são muito mais eficientes. “Lula, tem muito buraco na estrada”. E ele manda tapar.

Lula não deve entender por que tantos se angustiam por bobagem. Seu mundo é simples. Diogo Mainardi revelou na sua coluna da Veja desta semana como ele foi escolhido para integrar a chapa do sindicato. Teve um psicodrama. Eles teriam de representar o que entendiam da luta. O seu concorrente montou nas costas de um colega. Era uma alegoria do capital e do trabalho. Lula fez uma roda, com todo mundo de mãos dadas. Lênin ou Trotsky o teriam fuzilado ali mesmo. Stálin talvez não. Sempre poderia ser útil para a causa. O cara do SNI que estava presente deve ter pensado: “achei”.

O Babalorixá não é de esquerda, é certo. Mas o PT é. E não vou agora fazer aqui a genealogia do partido. Do bolchevismo, herdou os métodos, o pensamento, o desprezo pela democracia, pela pluralidade. Ele não é um mero instrumento do partido. Ele sabe muito bem o nome do que pratica. Mas, com efeito, vem de uma outra vertente: representa a nova classe social que se foi incrustando na máquina do Estado da redemocratização a esta data. Trata-se de uma casta sindical, em busca de privilégios, que se espalha por todos os cantos. A velha gesta esquerdista é feita pelo partido nas políticas que os sindicalistas consideram periféricas: educação, cultura e assistência social.

No essencial, como Lula repete à Reuters, ele, com efeito, não quer papo com a esquerda e diz que vai manter a política econômica, que tanto encanta os mercados. Nem por isso é menos doloso para o país. Para que Lula mantenha essa disjuntiva — economia ortodoxa com populismo esquerdopático —, é preciso agredir firmemente as instituições. E isso ele também faz sem receio. Lula não é de esquerda, mas parte de seu governo é. De todo modo, a questão mais geral é outra: nem tudo o que não é de esquerda é bom para o Brasil. Lula é, antes de tudo, um ilusioniosta. Do ponto de vista da teoria política, é só um trapaceiro.

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