A fala absurda de Lula: petista quer que eleitor seja o seu juiz
A afirmação é um despropósito sem tamanho. As eleições não existem para absolver as pessoas por seus crimes
Luiz Inácio Lula da Silva, o “sr. ex-presidente”, nunca foi um bobo. E é um erro estúpido, como tem sido, partir dessa premissa. A direita xucra estrila. Se entendesse o que escrevo e estudasse um pouco, não estrilaria — mas aí deixaria de ser xucra.
Vamos ver. Logo depois do depoimento, Lula fez um pronunciamento público que foi, de verdade, um comício. Tratou de sua candidatura à Presidência da República — aliás, ele a anunciou durante o depoimento. E aí disse algumas maravilhas.
Afirmou que está “vivo e preparado para ser candidato”. Falando a uma plateia de aproximadamente 5 mil pessoas, de acordo com estimativa da PM, o ex-presidente disse que, “se, um dia, tiver cometido um erro, quero ser julgado apenas pela Justiça, mas antes pelo povo brasileiro”.
Ah, essa é melhor de todas. Santo Deus! O meu artigo de estreia na VEJA imprensa, no dia 6 de setembro de… DOIS MIL E SEIS tinha o seguinte título: “Urna não é tribunal. Não absolve ninguém”. Reproduzo em outro post.
Como deve supor o leitor, eu me referia ao fato de que era certo que ele seria reeleito no mês seguinte e que tal sufrágio não representava a absolvição dos crimes seus e do PT.
Aliás, uma das coisas que lamento é o fato de isso tudo concorrer para criar um clima de conspiração contra o ex-presidente.
Convenham: um juiz se ver na contingência de explicar que nada tem de pessoal contra o presidente já é um despropósito. Obrigar-se a lembrar que as acusações não são suas, mas do Ministério Público, é uma aberração. E alcança as raias do surrealismo se ver compelido a desmentir que Lula seria preso durante a audiência.
Ocorre que isso era afirmado, com a convicção dos néscios, pelos fanáticos da Lava Jato. Muitas das páginas trazem a imagem de Moro como ilustração. Ele deveria pedir, então, que retirassem.
A propósito: a turma do “Lula vai ser preso amanhã” não vai bater em Sergio Moro? Por essa razão, seria injusto. Ele está apenas aplicando o Artigo 312 do Código de Processo Penal.
Estratégia
O problema é que as forças que depuseram Dilma, mesmerizadas pela Lava Jato, começaram a cometer erros em penca — oriundos, justamente, da falta de preparo intelectual. Lula, que errou feio durante muito tempo, voltou a se entender com o jogo.
Por que digo isso? Quando o presidente afirma que gostaria de ser julgado também pelo povo, não só pela Justiça, não deixa de haver aí a admissão de que, no segundo foro, a coisa seria mais difícil para o seu lado.
Eu acho que o apartamento é de Lula, sim. Mas a Lava Jato ainda não provou. O ex-presidente sabe que não há a menor chance de Moro absolvê-lo. E por que é assim? O juiz deixou claro, em desacordo com o que prescreve o devido processo legal, que ele está menos preocupado em saber se o tal imóvel pertence ou não ao petista do que fazê-lo chefe de uma organização criminosa — e isso é apurado no inquérito-mãe do Supremo.
A chance de Lula não poder se candidatar é gigantesca. Condenado por Moro, haverá o apelo ao TRF4, que tem endossado quase todas as decisões do juiz. Dada essa eventual condenação, nada de candidatura.
Que se reforce, então, as características do Lula como um perseguido. Isso rende dividendos políticos a ele e a quem quer que o petista venha a apoiar se candidato não for.
Nunca vi o país numa situação tão delicada.