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Por Vilma Gryzinski
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Sobe e desce na França: Macron, caindo, pode virar ‘Micron’?

Faltam apenas quatro dias para a eleição e a vantagem do candidato favorito ainda é grande: 59%. Mas dinâmica, abstenção e arrogância não ajudam

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 2 Maio 2017, 13h46 - Publicado em 2 Maio 2017, 08h21

Os black  blocs franceses são tão fenomenalmente cretinos quanto os brasileiros. Mas criam frases mellhores. “Nem um nem outro, muito pelo contrário”, dizia um cartaz levado pela turma que botou para quebrar no Primeiro de Maio em Paris, honrando uma tradição de grandes palavras de ordem.

Um e outro, obviamente, são Emmanuel Macron e Marine Le Pen.  O favorito saiu do primeiro turno com 65% das preferências e caiu para 59% – segundo alguns pesquisas, recuperou um pontinho. Ela orbita nos 40%, uma barreira importante. Amanhã à noite, vão querer arrancar sangue – e pontos – no último debate.

A rejeição pesada de uma parte da esquerda francesa à ideia recorrente da “frente republicana” para derrotar Le Pen – seja o pai, seja a filha – é um dos fatores que desfavorecem o candidato favoritíssimo e um tanto equivocado na etapa final para o segundo turno.

Jean-Luc Mélenchon, que está ficando cada vez mais interessante depois de uma consagradora derrota com 19,5% dos votos no primeiro turno, se recusa inabalavelmente a endossar Macron, embora seja da turma do “Marine jamais” . Astutamente, disse que seus amigos se dividem em três grupos: os que vão votar em Macron, os que vão votar em branco e os que preferirão se abster. E ele compreende as razões de todos.

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IMPOSSÍVEL OU INCONCEBÍVEL?

A simples conjectura de que Macron possa não sair ungido no domingo provoca alucinações entre uma outra parte da turma que ainda se lembra do “sejamos realistas, exijamos o impossível”, o mais memorável dos slogans de maio de 1968.

A queda de seis pontos nas pesquisas desde o primeiro turno é resultado do lado “micron” – como o apelidam os adversários – de Macron. Ele tem agido como se estivesse convencido demais da própria genialidade.

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Sair de quase nada e chegar, sem partido, na porta do Palácio do Eliseu aos 39 anos é realmente de deixar qualquer um convencido. Mas Macron precisa disfarçar melhor.

Ele também parece seduzido pelos bajuladores que o comparam constantemente a Barack Obama. Um certo exagero, pois Obama pelo menos tinha sido eleito senador antes de chegar à Casa Branca e Macron nunca passou por um único teste de urna.

Arrogância antes de uma eleição, mesmo que pareça garantidíssima, nunca é uma boa ideia. O fator entusiasmo – acompanhado de um aumento de 6% nas pesquisas – também pesa a favor de Marine Le Pen.

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O discurso dela, de que Macron é o candidato dos bancos e da oligarquia, pega bem nas pequenas cidades, regiões periféricas mais distantes e áreas rurais, embora seja abominado nos grandes centros. Em Paris, por exemplo, ela teve menos de 5%. Ao todo, agora, 53% dos eleitores dizem que jamais votariam nela.

TRÊS SELFIES

Macron disse que não será agressivo no debate de amanhã. Uma amostra de sua contenção: “O que me deixa indignado é que ela se alimenta da revolta das pessoas, sem oferecer soluções”. Exemplo que deu disso: Marine Le Pen foi a uma fábrica de secadoras de roupa ameaçada de fechar para falar com os funcionários sob risco de perder o emprego e “não deu respostas”  a eles.

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“Ela aparece no estacionamento para fazer três selfies, fica dez minutos e vai embora”, reclamou. Foi um exemplo errado. Marine falou com a peãozada – populismo, lembram-se? -, enquanto Macron se reunia com dirigentes sindicais numa sala fechada bem longe do chão de fábrica. Adivinhem quem se saiu melhor?

Marine Le Pen provavelmente esperava mais do que os 21,3% dos votos que teve no primeiro turno.  Se chegar a 45% dos votos no segundo, já estará muito bem posicionada para 2022 – sim, políticos, só pensam naquilo. Se passar, tudo é possível.

CASAIS ESTRANHOS

Enquanto roem as unhas, franceses escolados nos labirintos do jogo político, um vício que aumenta no mundo inteiro por causa das recentes reviravoltas das quais Donald Trump é maior encarnação, pensam em quem vai ser o primeiro-ministro do presidente Macron.

Não imediatamente depois da presumida vitória no domingo – para esta vaga,  Christine Lagarde, a diretora do FMI que usou centenas de milhões de euros do povo para pagar uma indenização furada a um milionário,  esta no alto das apostas.

O que interessa é quem vai ser primeiro-ministro  depois das eleições legislativas de junho. Na França, os deputados da Assembléia Nacional são eleitos também em dois turnos.

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François Baroin, ex-ministro da Economia do governo Sarkozy, já se ofereceu nobremente para o sacrifício. Ele parte do princípio de que o partido da direita tradicional vai recuperar a maioria no legislativo e obrigar Macron à desconfortável coabitação: presidente de um partido, primeiro-ministro de outro, politicamente oposto.

É uma característica do sistema misto francês, com presidente forte e primeiro-ministro relativamente fraco – quando ambos são do mesmo partido. Quando não são, os estranhos casais convivem como cônjuges separados forçados a morar sob o mesmo teto e contribuem para a sensação de paralisia que parece sufocar a França, levando parte de seus cidadãos a procurar alternativas menos convencionais.

Se Macron for eleito, cair na coabitação e não aplicar as propostas já relativamente modestas de seu programa de governo, a França pós-Hollande vai jogar mais cinco anos fora. Será outro Micron.

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