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Esquerda desnorteada, direita perplexa e outros efeitos Trump

Tomahawks contra Síria acertaram bem no centro de várias narrativas sobre o presidente americano: a mais importante delas é a relação com a Rússia

Por Vilma Gryzinski
Atualizado em 30 jul 2020, 20h57 - Publicado em 8 abr 2017, 08h27

Lembram-se de quando Donald Trump era praticamente um agente russo infiltrado por Vladimir Putin na Casa Branca?

Bum, bum, bum. Podemos continuar contando até 59, o número de Tomahawks disparados pela Marinha americana contra a base aérea síria de onde haviam decolado os aviões que lançaram gás sarin contra uma área dominada por rebeldes da linha Al Qaeda.

As imagens das crianças mortas, sem nenhum ferimento evidente, fora algumas que tinha uma espuma branca saindo pelo nariz, encerram a questão da necessidade de punir um crime ignominioso e avisar que o castigo será pior da próxima vez. Se houver próxima vez, evidentemente.

 

OPÇÃO LIGHT

É importante lembrar que a única ofensiva americana na região atualmente é contra o Estado Islâmico, sob a forma de treinamento e suporte para as forças iraquianas em terra e cobertura aérea. O ataque contra a base síria foi pontual e era o mais light do menu de opções apresentado pelo Pentágono.

 

O que Trump poderia ter feito, mas não fez. Primeiro, ataques concentrados contra Bashar Assad e outros figurões do regime sírio diretamente envolvidos no crime de guerra, com inevitáveis “efeitos colaterais”: parentes, agregados e outros inocentes.

 

Segundo, varrer a Força Aérea síria do mapa: explodir todas as bases e os aviões de combate. Acabar com a Força Aérea síria não é exatamente difícil. No primeiro dia da Guerra dos Seis Dias, que em junho vai completar cinquenta anos, a Síria tinha 62 aviões. No último, zero. Com menos de um terço de aeronaves de guerra (196), Israel destruiu 452 aviões e helicópteros dos cinco países árabes que o atacaram: Egito, Síria, Iraque, Jordânia e Líbano.

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É claro que, com a expansão da intervenção russa na Síria, para evitar o desmoronamento do regime de Assad, seria uma operação muito mais complicada. Talvez tivesse funcionado no começo da guerra civil, inclusive permitindo a criação de zonas de proteção aérea onde refugiados de guerra, dos dois lados, estariam em relativa segurança.

 

ADIVINHEM QUEM DISSE

 

“Eu realmente acreditava e continuo acreditando que deveríamos tirar todos os campos de pouso dele para evitar que continue atacando civis inocentes”. Sabem quem disse isso? Hillary Clinton, em declarações publicadas exatamente no dia do ataque dos Tomahawks. Os deuses não são graciosos com quem tem pouca sorte.

 

Tem muita gente da turma de Hillary comendo o chapéu, como dizem os americanos. A seco. A imprensa anti-Trump, corretíssima em vigiar todos os seus problemas e erradíssima em se deixar cegar pelo ódio infantilizada ao presidente, ficou desnorteada com o ataque à base síria e a reação brava – mas nem tanto –  de Vladimir Putin.

 

Como encaixar o ataque na narrativa de que tudo o que Trump fez e faz decorre de um acordo espúrio e criminoso com Putin? É isso que dizem os grandes jornais, os principais canais de televisão e o Partido Democrata em peso.

 

Os contatos de pessoas na órbita de Trump como representantes russos ainda precisam ser investigados e explicados. Mas a ideia de que o presidente foi um “candidato da Manchuria” plantado por Putin atingiu níveis que ultrapassam o mais extremo ridículo.

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A COISA CERTA

 

Observar os malabarismos conceituais e a desonestidade intelectual dos comentaristas anti-Trump é divertido, mas também triste. Ou patético, como no caso de Frank Bruni, colunista do New York Times que, sob o título tolo “O enigma do ataque de Trump à Síria”, escreveu: “A agonia de Donald Trump – bem, uma das agonias -, é que às vezes ele na verdade faz a coisa certa, ou pelo menos uma coisa defensável”.

 

Daria pena se Bruni não fosse tão tolamente dominado pelo tipo de ódio político que paralisa mecanismos cerebrais habitualmente operacionais.

 

A outra turma que ficou chapada com a saraivada de Tomahawks foi a que vai da direita isolacionista à extrema-direita conspiracionista ou abertamente simpática a Putin e Assad.

 

A lista de críticos de Trump nesse campo inclui Nigel Farage, criador do partido anti-União Europeia na Grã-Bretanha; Marine Le Pen, candidata a presidente da França (com perspectivas maiores do que as pesquisas levam a concluir); Robert Spencer, o supremacista branco que apoiou Trump e a loura provocadora Ann Coulter.

 

A COISA ERRADA

 

As consequências do bombardeio a base síria ainda estão se desdobrando. Saudado como Abu Ivanka Al-Amerki, o codinome afetuoso (ou de guerra) dado aos homens mais velhos, na condição de pai (conta a filha mais velha) e americano, Trump tem que tomar cuidado com a súbita popularidade no mundo árabe anti-Assad.

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Não por causa do oftalmologista que virou monstro, evidentemente, mas pelo que representa. O regime de Assad tem o apoio não só de sua própria minoria, os alawitas (uma pequena seita religiosa que, por motivos políticos, é hoje considerada xiita), como dos diferentes cristãos sírios e até de uma parte dos sunitas.

 

Todos sabem que seriam massacrados, expulsos ou escravizados se os grupos rebeldes fundamentalistas – hoje, todos, em graus apenas ligeiramente variados – derrubassem  o regime e tomassem o poder.

 

A maior complicação da guerra civil na Síria é encontrar uma saída que garanta a sobrevivência e a segurança da maioria sunita e das muitas minorias. Depois de fazer a coisa certa, dando um belo de um chega pra lá em Assad, Trump não pode fazer a coisa errada e entregar as minorias sírias a um destino infernal.

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