Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Ator mais famoso da política matou Lincoln; outro foi Reagan

Um dia, atores convocam para a greve geral; quando menos se espera, podem estar fazendo companhia a John Wilkes Booth, Ronald Reagan e Tiririca

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 1 Maio 2017, 16h32 - Publicado em 30 abr 2017, 12h24

Tal como atores brasileiros que apoiaram a greve geral depois da aprovação das reformas trabalhistas e previdenciárias, John Wilker Booth chegou atrasado. A rendição dos estados confederados do Sul dos Estados Unidos havia sido assinada cinco dias antes.

Mas seu ato politico foi o maior jamais cometido por um integrante das artes performáticas: assassinou o presidente Abraham Lincoln em vingança pela terrível guerra civil em que o Sul escravagista havia sido derrotado. O herói da abolição da escravidão nos Estados Unidos, para Wilkes, era um vilão que havia sufocado um movimento separatista legítimo e constitucional.

O belo e algo preguiçoso Booth, de 27 anos, disparou sua pistola Derringer por trás da cabeça do presidente Abraham Linconl no camarote úumero 7 do teatro Ford, em Washington. Disse uma frase retumbante, que preserva sua carga de impacto163 anos depois: “Sic semper tyrannis”. Ou assim acabam os tiranos. “O Sul está vingado”.

Booth saltou do camarote, quebrou a perna, pegou um cavalo e fugiu na companhia de um comparsa. Conseguiu ser o foragido mais procurado da história dos Estados Unidos durante doze dias.

Cercado num estábulo em chamas, foi baleado através das frestas das tábuas. “A Providência me guiou”, disse Boston Corbet, o sargento da Décima-Sexta Cavalaria de Nova York que o matou, descumprindo ordens especifícas de que o assassino de Lincoln fosse capturado vivo.

Outros cúmplices foram presos, julgados e executados. A mãe de um deles, Mary Surrat, foi a primeira mulher condenada à forca nos Estados Unidos.

Continua após a publicidade

ALTAR DA COMÉDIA

As reações ao magnicídio cometido por Booth, famosamente antecipado pelo nome de seu pai, o ator inglês Junius Brutus Booth, foram sísmicas. Mas, em termos de história, o republicano Lincoln já havia cumprido seu papel titânico. O pior que aconteceu foi que o vice-presidente, o democrata Andrew Johnson, assumiu, esforçando-se para ganhar o título de um dos piores presidentes da historia dos Estados Unidos.

Nada que se compare ao efeito do mais famoso ator americano a participar da política. Ex-presidente do sindicato dos atores e ex-governador da Califórnia por dois mandatos – o que já dá um razoável currículo -, Ronald Reagan foi menosprezado, vilipendiado e chamado de cretino incapaz entre outras gentilezas quando se candidatou a presidente dos Estados Unidos.

Terminou os dois mandatos com as seguintes realizações: 34 milhões de novos empregos e imbatível política de rearmamento, acompanhada de diálogo constante, que acabou pesando para a dissolução da União Soviética e o tipo de imperialismo comunista que praticava,

PIADAS SEM GRAÇA

Também continuou a ser ridicularizado por humoristas e atores, tal como acontece hoje, em escala muito maior com Donald Trump. No jantar anual dos jornalistas que trabalham em Washington com o presidente, ao qual Trump muito espertamente não foi, o comediante Hasan Minhaj mostrou que não sabe aproveitar oportunidades.

Ao contrário de outros humoristas que praticamente renasceram com a oportunidades de ouro oferecida por Trump – depois de passarem oito anos fazendo piadas a favor de Barack Obama, um atestado de óbito para o humor -, Minhaj colocou a agenda política acima do sagrado altar da comédia.

Continua após a publicidade

Disse que Trump não havia ido ao jantar porque “mora na Rússia” e é longe. Chamou o assessor presidencial Steve Bannon de nazista. Três vezes. Alguém deve ter achado engraçado.

Não se conhece, evidentemente, nem uma única piada de Hasan Minhaj sobre Islã, Maomé e outros ideais inspiradores que levaram ao massacre de uma turminha francesa de colegas do comediante americano, o pessoal do Charlie Hebdo.

A lista de atores que não apenas falam de política como entram para ela é longa nos Estados Unidos. O senador Al Franken também saiu do celeiro do Saturday Night Live. Escrevia e subia no palco, com a mente agilíssima, o humor ferino e o timing arrasador que inspirou tantos seguidores. Encantou-se pela saída à Tiririca do mundo do show business.

Como senador por Minnesota, tornou-se uma vergonha. Exacerbado pelo anti-trumpismo, ele aparece em programas de televisão misturando piadas e declarações sérias. Disse que existem senadores republicanos convencidos de que Trump “não bate bem”.

De forma geral, comporta-se como o palhaço que nunca foi – formou-se em Harvard e sempre fez humor sofisticado, embora eventualmente prejudicado por ataques sexistas envolvendo fantasias de estupro, e não idiota como agora.

Continua após a publicidade

CÚMPLICE NA TOLICE

É interminável e em muitos casos risível a lista de atores americanos que se consideram imbuídos da missão divina de destruir Trump – atenção: destruir, não fazer oposição, criticar, ridicularizar etc etc.

Como vivem exclusivamente cercados por assessores, maquiadores, diretores, cabeleireiros, companheiros e jornalistas de aluguel que os exaltam constantemente como gênios incomparáveis, muitos atores nem sequer são capacitados para o debate. Aparecem, falam o que lhes passa pela cabeça, tuítam suas reações e pronto, assunto encerrado.

A linda Scarlett Johnson, por exemplo, parodiou Ivanka Trump no Saturday Night Life. Com sua voz capaz de lançar dez mil navios aos mares, anunciava um perfume chamado “Cúmplice”, criando a ideia de que Ivanka é uma “participante ativa” nas atrocidades praticadas pelo pai – atrocidades, evidentemente, existentes só na expectativa dos anti-trumpistas.

O problema é que não acabou aí. Scarlett levou as críticas a Ivanka para a vida real. Defendeu um argumento sem pé nem cabeça de que Ivanka, ao dizer que preferia agir nos bastidores como assessora do pai, estava defendendo o tradicional “por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher”.

A posição de destaque dada por Trump à filha e ao genro, Jared Kushner, é uma das mais criticáveis e potencialmente intratáveis atitudes do presidente. Nada a ver com as bobagens faladas por Scarlett, que agora deu de falar tudo o que não comentou quando foi tripudiada nas redes sociais por fazer publicidade para uma fábrica israelense de máquinas de refrigerantes que operava em território ocupado da Palestina.

Continua após a publicidade

Os críticos podem ficar tranquilos: a fábrica, boicotada internacionalmente, saiu de lá e os funcionários palestinos perderam os empregos. Scarlett Johanson, que é judia por parte de mãe, de uma família emigrada da Polônia e da Bielorrússia, não abriu o adorável biquinho a respeito.

Mas ainda poderemos ouvi-la em outras oportunidades. Parece que a atriz tem ambições de carreira politica, tal como o irmão gêmeo, Hunter, que trabalhou na campanha de Barack Obama em 2008 e em outras causas.

IVANKA EXPLODE

Ivanka Trump também não tem do que reclamar. Aliás, como dizem os americanos, está morrendo de rir enquanto vai para o banco. As vendas da marca dela de roupas, acessórios e perfumes, da qual se afastou agora que assessora o pai, subiu 346% depois que alguma grandes lojas aderiram ao boicote de tudo o que é Trump.

Na China, virou celebridade chamada de “deusa I Van Ka”. Saiu-se razoavelmente bem na Alemanha, onde alguns participantes a vaiaram quando defendeu o pai – um espanto: defender o pai – durante um encontro sobre empreendedorismo feminino.

O caso ganhou destaque na Alemanha porque a mediadora, Miriam Meckel, fez uma pergunta sobre declarações e atitudes condenáveis a respeito de mulheres de presidente no passado – uma perguntinha amena, nada da agressividade dos jornalistas americanos contra tudo que passe perto de Trump. Jornalistas alemães acharam que Ivanka nunca, jamais havia sido exposta ao contraditório.

Continua após a publicidade

A pergunta também teve o propulsor adicional de ter sido feita por Miriam Meckel, que é diretora de redação de uma revista de economia. Ela ficou muito conhecida depois que assumiu a relação com uma famosa jornalista da televisão alemã, Anne Will. Elas são bonitas e usam roupas elegantes e sexy, uma combinação em geral intrigante.

É claro que Ivanka Trump e Jared Kushner querem muito mais do que dinheiro, artigo que jia têm bastante embora sejam da turma que nunca acha que esse negócio é demais: reconhecimento social e respeito.

Vão ter que mostrar serviço para isso e provavelmente nunca terão uma aprovação generalizada, por causa da imagem de riquinhos privilegiados. Ao contrário de Trump, que tem o toque populista e a chance revolucionária de fazer a economia crescer. E de dar um castigo daqueles em Kim Jong-un, nunca é demais lembrar. Sua popularidade, naturalmente, aumentaria muito, muito, muito – mas precisa passar pelo teste da realidade.

SUICÍDIO ASSISTIDO

Aos atores lacrimejantes que não dominam os recursos básicos do debate público sempre terão a oportunidade de aprender mais. Dotados de um tipo especial de inteligência emocional, quando são bons e não produto do teste do sofá, os praticantes das artes performáticas oferecem generosamente ao público retratos da vastidão dos sentimentos humanos que muitos de nós jamais veríamos diante de nossos olhos.

O lampejo muito bem escondido de fragilidade por trás das maldades de uma Carminha de Adriana Esteves revela uma humanidade perturbadora. Da mesma forma que o olhar de Ricardo Darín ou o mais leve movimento de ombros de Helen Mirren quando a inspetora de polícia durona vai direto para a garrafa proibida, soterrada pelo mundo por si mesma.

Essa sensibilidade especial não costuma fazer bem para a vida emocional de artistas em geral. Uma pesquisa da Universidade de Bristol concluiu que o índice de suicídio de homens que trabalham no meio artístico, em comunicações e outras atividades criativas é 20%. Entre mulheres, o aumento é espantoso: 69%.

Já assistimos inúmeros desses casos de suicídio. O mais famoso provavelmente continua sendo o de Marilyn Monroe. Mas nem tudo é tragédia. Joseph Estrada, ator que virou presidente das Filipinas, sofreu impeachment, saiu na onda de fúria de protestos populares e acabou condenado a prisão perpétua por corrupção – coisa de 80milhões de dólares. Anistiado, hoje é prefeito de Manilha.

Vemos, assim, que atores envolvidos em política têm um amplo leque de opções. Podem escolher a morte certa, como John Wilkes Booth sabia que aconteceria ao assassinar Lincoln; seguir carreira política convencional ou apenas aprender a debater um pouco melhor, fora da bolha de bajulação em que vivem. Ou fazer uma opção preferencial pela roubalheira, como Estrada.

Qual será a opção de tantos atores brasileiros envolvidos com quebra-quebras, destruição de patrimônio público, negação de direitos que afetam as classe menos favorecidas, defesa de corruptos ou apenas biquinhos emburrados aconselhando todo mundo a ficar trancadinho em casa como forma de protesto?

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.