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A dança do vulcão: Trump trava e não consegue sair do lugar

E não é um lugar bom, com a oposição dominando a narrativa de uma trama com os russos e o Partido Republicano incapaz de tocar reformas

Por Vilma Gryzinski 15 jul 2017, 14h38

“Você está muito bem”. Dito em público, na presença dos respectivos cônjuges, esse elogio é simpático e deixa a maioria das mulheres muito feliz.

É feito, em geral, por um conhecido que não vê há muito tempo e significa “o tempo tem sido amável com você”. Que mal há nisso?

Dito por Donald Trump a Brigitte Trogneux virou, na interpretação dos antitrumpistas, uma violência machista, uma referência grosseira à idade dela, 64 anos, em comparação com os 39 do marido, Emmanuel Macron, o presidente francês que resolveu seguir a tática da “simpatia é quase amor”.

É um bom exemplo da narrativa dominante, sobre um Trump grosseiro, tosco, incapaz. Vai acabar sofrendo impeachment, é a conclusão, num salto dramático.

Trump não só não está conseguindo inverter esta narrativa como, muitas vezes, a alimenta. Ele tem um evidente comportamento de risco, de quem gosta de dançar à beira do vulcão, de estontear o inimigo com golpes inesperados, quando não rasteiros.

As chances de que esse modus operandi perigoso dê resultados estão diminuindo, por dois motivos.

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REGIME DE ÓDIO

Primeiro, a extensão e a profundidade da rejeição que ele enfrenta. Para o Partido Democrata, os 25% dos americanos que se declaram liberais – hoje, equivalente a ser de esquerda -, (outros 25% que se consideram moderados, mas não votaram em Trump, oscilam) e 90% da grande imprensa, Trump é não só um adversário político, mas um inimigo a ser derrubado.

Não é difícil também fazer as contas dos interesses que Trump colocou em risco, dentro e fora da máquina do governo. Quando disse, por exemplo, que ia mexer no Nafta, o acordo de livre comércio dos países da América do Norte – Estados Unidos, México e Canadá -, Trump mexeu num negócio de mais de 600 bilhões de dólares por ano.

Americanos importam, por dados do último ano, 294 bilhões de dólares e exportam 230 bilhões – o déficit é o motivo das reclamações de Trump. Isso explica por que o presidente Ernesto Peña Nieto está bem quietinho desde a posse de Trump – e por que outros mexicanos, fora da massa da opinião pública, se dedicam ao regime de ódio em período integral.

E quando a indústria da energia alternativa, irrigada por muitos outros bilhões durante o governo Obama, vê Trump liberar extração de petróleo, de gás de xisto (ou folhelho, como avisam os especialistas) e de carvão?

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O poder energético pode ser o maior trunfo global dos Estados Unidos, com o país se tornando não só auto-suficiente como o maior exportador planetário. Mas é preciso tempo para que que os resultados se tornem visíveis mais além da bomba de gasolina. E tempo não é um ativo que esteja sobrando no momento para Trump.

CANETA RÁPIDA

A alternativa de Trump para equilibrar os interesses contrariados, e até conquistá-los, seria desregulamentar e desonerar as empresas em geral, liberando um crescimento econômico que chegasse aos prometidos 4% ao ano.

Isso nos leva ao segundo motivo da incapacidade de Trump, até agora, de inverter a narrativa negativa: as reformas não estão acontecendo. O que dependia da caneta, ele fez nas primeiras semanas de governo.

O que depende das negociações políticas e do Congresso, em especial a reforma do sistema de saúde, está paralisado. Mesmo majoritário, o Partido Republicano não consegue conciliar os interesses representados por suas diversas alas. Não adianta ser rápido de caneta e lento na condução política.

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“Nós nos tornamos uma das sociedades mais burocráticas, atrapalhadas e litigiosas do planeta”, disse o presidente do J.P. Morgan, James Dimon, num diagnóstico excepcionalmente franco para um banqueiro, atividade que demanda uma estudada neutralidade.

“Dá até vergonha viajar pelo mundo e ouvir as besteiras que temos que aguentar nesse país”. Parecia que ele estava falando sobre o Brasil, mas eram os Estados Unidos o assunto. A saída? “Esse governo pode avançar em matéria de impostos, infraestrutura e reforma fiscal”.

Detalhe: Dimon usou uma palavra um pouco mais forte do que besteiras.

PLANO MAQUIAVÉLICO

A muralha de ódio provocada por Trump também atrapalha, evidentemente, as negociações políticas.

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Os episódios da conexão russa tornam-se cada vez mais exaltados, exagerados – e obscuros. O jogo de espelhos vai criando cada vez mais vilões, em outra comparação nada alvissareira com o Brasil.

O encontro, em junho do ano passado, entre Donald Trump Jr. e uma misteriosa emissária russa, a advogada Natalia Veselnitskaya, virou um poço sem fundo de mentiras deliberadas e revelações, por enquanto, impossíveis de ser conectadas a uma única explicação.

A penúltima: participou da reunião, também, Rinat Akhmetshin, que foi do serviço militar de inteligência da Rússia, tornou-se cidadão americano e faz lobby para interesses variados, mas sempre alinhados com a política de Vladimir Putin.

A última: nesse encontro, Natalia passou um documento sobre doações comprometedoras ligadas a interesses russos para a campanha de Hillary Clinton.

Então está tudo explicado? O filho de Trump realmente participou de um plano maquiavélico dos russos para prejudicar Hillary e ajudar o futuro presidente?

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Que nada, a confusão continua imperando. Natalia Veselnitskaya e Rinat Akhmetshin fizeram lobby, declarada e comprovadamente, para derrubar a Lei Magnitsky, aprovada pelo Senado americano para punir autoridades russas relacionadas à morte de um advogado que investigava um grande caso de corrupção na Rússia.

DOSSIÊ SUJO

Quem mais participou dessa campanha? Exatamente a empresa de informações estratégicas chamada Fusion GPS, responsável por contratar um ex-espião inglês para fazer aquele dossiê cheio de sujeiras sobre Trump.

O leitor comum, que obviamente não consegue acompanhar tantas reviravoltas misteriosas, ouve “Trump” e “Rússia” martelados incessantemente. Se não for um trompista fiel, daqueles que falam “Louve a Deus e passe a munição”, é cada vez mais convencido de conluios bizarros.

Já sumiu, ou mal foi mostrada, a viagem cheia de rapapés de Trump a Paris, com Melania de Dior e Valentino, Brigitte de Louis Vuitton e Macron fazendo o amiguinho.

A maioria esmagadora da imprensa não vai parar de detonar Trump, com informações reais ou fictícias. As encrencas em que ele se meteu – dá para imaginar o filho agindo sem autorização? – não vão parar de vir à tona. Trump não vai parar de tuitar.

Assim como Brigite Trogneux não ficará mais nova, embora em ótima forma, a dança do vulcão tende a se tornar cada vez mais incandescente. Quem vai se queimar primeiro?

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