O ator Lázaro Ramos comoveu e fez rir a plateia que acompanhou a noite de abertura da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) ao dar voz e corpo ao escritor Lima Barreto, homenageado do evento.

Acompanhado da narração de Lilia Schwarcz, biógrafa do pré-modernista, o ator intercalou a leitura de trechos do diário íntimo do escritor além de crônicas, críticas e obras clássicas como O Triste Fim de Policarpo Quaresma.

A mesa inicial deu o tom do que será a Flip que, segundo a curadora Joselia Aguiar, mais girou em torno do autor eleito como homenageado.

Lilia fez um apanhado de toda a vida do autor carioca. Desde sua origem como neto de escravos, passando pelo método de usar a educação para conquistar o que deveria ser a liberdade – em um período próximo da abolição da escravatura – até os dramas familiares e o grave problema com o álcool, que o levou à morte prematura, aos 41 anos.

No palco com a antropóloga, Lázaro declamou textos de tom cômico, políticos e de profunda dramaticidade, como quando o autor pensou em suicídio, ou relatou a vida no Hospital dos Alienados, onde foi internado duas vezes por surtos alcoólicos.

Coro contra Temer

Na Praça da Matriz, fora da igreja que recebe as mesas da Flip, Lázaro repetiu parte de sua apresentação – e engrossou o protesto de “Fora, Temer”. “Se Lima Barreto estivesse vivo, também gritaria fora Temer”, falou Lázaro.

Lima Barreto tentou estudar engenharia na Politécnica. Mas reprovou várias vezes e, com os problemas financeiros da família, se resignou com um trabalho de funcionário público por mais de 14 anos. No meio tempo, deu atenção à sua vocação de escritor. Publicou crônicas, ensaios, resenhas e folhetins. Nelas falou sobre temas sociais e raciais, enquanto alfinetava políticos, o capitalismo e até a Academia Brasileira de Letras.

Seu último livro, que não veria publicado em vida, foi o romance social Clara dos Anjos.

A Flip 2017 acontece até domingo, dia 30.