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Febre amarela – por que o cenário atual é muito preocupante

A situação atual e preocupante reflete um complexo contexto, no qual interagem entre si uma ineficaz atuação do poder público e da sociedade em geral

Por Artur Timerman
Atualizado em 17 jan 2017, 12h24 - Publicado em 17 jan 2017, 12h24

 

Em 12 de janeiro deste ano o governo de Minas Gerais decretou situação de emergência em saúde pública por 180 dias nas áreas do estado onde há surto de febre amarela. O decreto contempla 152 cidades no entorno de Coronel Fabriciano, Governador Valadares, na região leste do estado, Manhumirim, na Zona da Mata, e Teófilo Otoni, no Vale do Jequitinhonha e Mucuri. Em Minas, trinta pessoas morreram com sintomas da doença neste ano.
A situação atual e preocupante das arboviroses no Brasil reflete um complexo contexto, no qual interagem entre si ineficácias gerais de atuação do poder público e da sociedade em geral.

Os condicionantes da expansão das arboviroses nas Américas e no Brasil são similares e referem-se em grande parte ao modelo de crescimento econômico implementado na região, caracterizado pelo crescimento desordenado dos centros urbanos.

O Brasil concentra mais de 80% de sua população em áreas urbanas, com importantes lacunas no setor de infraestrutura, tais como dificuldades para garantir o abastecimento regular e contínuo de água, assim como também é deficiente a coleta e destinação adequada dos resíduos sólidos. Outros fatores, tais como a acelerada expansão da indústria de materiais não biodegradáveis, além de condições climáticas favoráveis, agravadas pelo aquecimento global, conduzem a um cenário que impede, pelo menos a curto prazo, a proposição de ações visando à erradicação do vetor transmissor.

Dentro desse contexto, é com enorme preocupação que deparamos com as notícias que revelam o ressurgimento de casos de febre amarela em nosso país.

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Como apontado em Boletim da Organização Mundial da Saúde de maio de 2016, “grandes epidemias de febre amarela ocorrem quando pessoas infectadas introduzem o vírus em áreas densamente povoadas onde exista elevada densidade de mosquitos transmissores e onde a maioria da população apresente pouca ou nenhuma imunidade, tendo em vista a baixa cobertura vacinal. Sob tais condições, mosquitos infectados transmitem o vírus de pessoa a pessoa”.

Essa é situação prevalente no Brasil atualmente; conquanto os casos até agora relatados o tenham sido em regiões com densidade populacional inferior àquela de nossas grandes metrópoles, sabemos da facilidade de deslocamento das pessoas nos dias de hoje. E, caso pessoas infectadas nessas áreas menos povoadas venham à metrópole, vão encontrar ambiente totalmente favorável à disseminação do vírus da febre amarela. Lembremos que as outras arboviroses atualmente prevalentes em nosso meio (dengue, zika e chikungunya) também se originaram em ambientes rurais e atingiram a dimensão que conhecemos tendo em vista as condições supramencionadas que permitiram sua disseminação.

Nossa proposta para nos defrontarmos com esse grave problema tem por base as diretrizes estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde também em maio de 2016: “A rápida detecção de casos de febre amarela e uma rápida resposta através de campanhas de vacinação emergencial são essenciais para o controle de surtos.

Ressalte-se, não obstante, que nessas situações a subnotificação é preocupante e estima-se que o número real de casos seja dez a 250 vezes maior]] que o número reportado. A OMS recomenda que todo e qualquer país que se encontre sob risco de surto de febre amarela tenha ao menos um laboratório nacional de referência onde possam ser executados os testes laboratoriais que permitam o diagnóstico da doença. As equipes responsáveis pela investigação devem avaliar e responder ao surto tanto com medidas emergenciais como também com planejamento de longo prazo para incrementar a cobertura vacinal”.

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A vacina constitui-se o mais importante meio de combate à febre amarela; é produto seguro, eficaz e relativamente barato, sendo uma única dose suficiente para induzir imunidade de longo prazo. Para a prevenção de surtos em regiões afetadas, a cobertura vacinal deve alcançar ao menos 80% da população sob risco.
As recomendações da OMS em países onde há relatos de casos de febre amarela são enfáticas no que tange à indicação de imunização de toda a população com idade acima de 9 meses não previamente imunizada (em regiões epidêmicas há recomendação de vacinação acima dos 6 meses de idade, quando então o risco da doença é superior àquele do evento adverso da vacina).

No Brasil, vem sendo empregada a estratégia de “vacinação de contenção”, isto é, vacinação de toda a população em regiões onde foram descritos casos suspeitos e/ou confirmados de febre amarela. Como os dados relatados vêm evidenciando uma rápida progressão da doença, talvez essa estratégia não esteja se mostrando suficiente.
Precisaríamos ter uma vigilância epidemiológica atenta, com diagnóstico precoce dos casos; caso se mantenha esse panorama inicial verificado no Estado de Minas Gerais, certamente a abrangência da cobertura vacinal deveria ser ampliada, provavelmente atingindo todo o estado.

Importante também é a cooperação com serviços que monitorem de perto a mortalidade de macacos e outros animais silvestres em regiões silvestres periurbanas, que se caracteriza como “sentinela” quanto à proximidade da febre amarela dos centros urbanos.

Em resumo, temos de encarar o problema como sendo de enorme relevância; não podemos menosprezá-lo, sob risco de nos depararmos com mais um expressivo problema de saúde pública em nosso já combalido país.

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(Felipe Cotrim)
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