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Chá verde no combate ao câncer. Mito ou verdade?

Diversos tipos de infusão de ervas são amplamente utilizados na medicina em praticamente todas as culturas. A análise de componentes químicos que compõem essas bebidas tem nos revelado princípios ativos capazes de produzir medicamentos realmente eficazes. Os vários tipos de chá tradicional obtidos da Camellia sinensis – o chá preto, o chá verde, o chá branco e o […]

Por Bernardo Garicochea
Atualizado em 30 jul 2020, 21h35 - Publicado em 13 out 2016, 13h00

Diversos tipos de infusão de ervas são amplamente utilizados na medicina em praticamente todas as culturas. A análise de componentes químicos que compõem essas bebidas tem nos revelado princípios ativos capazes de produzir medicamentos realmente eficazes. Os vários tipos de chá tradicional obtidos da Camellia sinensis – o chá preto, o chá verde, o chá branco e o oolong, por exemplo, têm sido motivo para um detalhado escrutínio científico nas últimas décadas, já que seus poderes medicinais, tanto na proteção como no combate a doenças cardiovasculares e câncer são obstinadamente defendidos por praticantes de medicinas alternativas. Resolvi ir fundo nessa história.

Este artigo, inclusive, foi escrito em homenagem a um grande cientista e amigo dos meus tempos de Londres, Ling Fen, hoje um dos mais renomados pesquisadores de leucemia no mundo e um fã confesso dos poderes curativos da Camellia sinensis. Sempre questionei Lin sobre dados concretos relativos aos supostos benefícios do chá. Ele me explicava que a medicina chinesa tradicional se baseia em outros alicerces filosóficos e seria inútil buscar resultados como se faz na medicina ocidental, que depende de testes comparativos entre grupos. Há duas semanas, Lin me falou sobre a imensa quantidade de informações científicas que aparecem sobre o chá verde, especificamente, e mencionou um artigo chinês em que médicos acompanharam quase 200 000 pessoas por mais de vinte anos que bebiam chá verde regularmente. Li atentamente o trabalho e confesso que o resultado me pareceu bem desapontador: uma redução de 8% do risco de câncer no grupo que consome chá.

Campanhas contra o fumo devem ser bem mais eficazes. Além disso, o chá verde em questão era obtido da folha recém-seca, o que tornaria esse remédio relativamente caro. Procurando outros artigos no site do Pubmed (a coleção mais vasta de artigos científicos disponível), encontrei a monstruosidade de 1 320 trabalhos científicos sobre chá verde e doenças humanas. Ou seja, os cientistas ocidentais têm, sim, muito interesse nessa planta e vêm buscando respostas objetivas sobre a eficiência do seu uso em medicina.

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Corri para o site do National Institute of Health (NIH) dos Estados Unidos, em busca de alguma ajuda para não ter de enfrentar tal avalanche de informações. Em algumas linhas segue-se o que encontrei: o chá verde difere do chá preto pelo grau de oxidação da folha, que é máxima nesse último. Entre os principais componentes do chá estão os polifenóis e a cafeína. O chá verde tem cerca de um terço da quantidade de cafeína do chá preto, sendo portanto bastante seguro, mesmo em doses elevadas. A substância que seria a mais forte candidata a ter propriedades terapêuticas é um tipo de polifenol chamado catequina. Catequinas são antioxidantes e inibem os vasos sanguíneos dos tumores, reduzir a capacidade de deslocamento de células tumorais (metástases) e de forçarem essas células a acionarem mecanismos de morte. Claro, tudo isso em estudos laboratoriais e não em seres humanos diretamente.

E os estudos em câncer em humanos? Uma má notícia para o meu amigo Lin. Mais de cinquenta estudos, muitos deles com metodologia impecável, testaram o poder das catequinas em experimentos engenhosos, ou seja, no tratamento de lesões que antecedem certos tipos de câncer. A ideia é utilizar doses altas de catequina em situações como refluxo esofágico, lesões na boca que precedem câncer, hiperplasia de próstata, entre outras. Nenhum desses estudos, exceto dois, conseguiu demonstrar que houve redução de incidência de câncer em grupos que receberam catequina ou placebo. E os estudos que mostraram benefícios não eram muito animadores. Nesses casos, é possível saber se outros fatores não poderiam ter induzido os benefícios descritos.

Eu fiquei com a conclusão do NCI e acrescentei algumas minhas no e-mail que mandei para Lin: “Chá verde é delicioso e não contém cafeína em excesso. Para que a medicina ocidental possa determinar se o uso contínuo de chá verde ou de pílulas que contenham catequina de fato auxilia na prevenção e tratamento do câncer, precisamos ainda percorrer um longo caminho.”

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Mas, finalmente, os cientistas ocidentais estão seriamente procurando entender como diversos tipos de substâncias encontradas na natureza podem nos ajudar no combate à doença. Achar os compostos mais promissores e testá-los para saber se seu uso é seguro e  finalmente realizar estudos em humanos da maneira mais imparcial possível é o melhor caminho. Claro, na seleção de substâncias promissoras, que é a parte mais difícil, a sabedoria de culturas milenares, e o conhecimento de xamãs ou de grupos que dominam profundamente o bioma que os cerca, representam um passo importantíssimo.”

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