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Por Coluna
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Entrevista: Gary Oldman

“Sem Churchill, não teríamos escapado do mundo tenebroso do nazismo”, diz o ator inglês, favorito ao Oscar deste ano

Por Isabela Boscov Atualizado em 12 jan 2018, 15h31 - Publicado em 12 jan 2018, 15h30

Tive a sorte de já ter conversado algumas vezes com Gary Oldman – um fera como ator e um doce como entrevistado, sempre empenhado em ser atencioso e em dar a melhor resposta possível a qualquer pergunta. Mas acho que nunca o havia visto tão apaixonado por um personagem quanto pelo primeiro-ministro Winston Churchill, que ele interpreta em O Destino de uma Nação (leia aqui a resenha). Acho que Oldman, como eu e muita gente mais, está horrorizado com o baixíssimo nível das lideranças americanas e europeias (e isso que nem ele imagina o que rola por aqui), de maneira que se torna irresistível a ideia de um chefe de Estado lúcido, capaz, com visão e coragem, e acima de tudo com um senso de responsabilidade maior ainda que o desejo de sobrevivência política. É fascinante a história de como, em três semanas apenas de 1940, Churchill transformou medo e derrota em orgulho e determinação, e assim impediu que Adolf Hitler ganhasse a II Guerra menos de um ano depois de tê-la iniciado. Eu, pessoalmente, adoraria ver um filme também sobre o Churchill da blitz – a chuva de bombardeios alemães sobre Londres –, o líder incansável e invencível que liderou a Inglaterra dia após dia em um dos momentos mais assustadores da guerra. E, naturalmente, já tenho ator para o papel. Quem mais se não Oldman?

Leia a seguir a entrevista com ele:


Um Dínamo de Sorriso Malandro

As indicações ao Oscar só serão conhecidas em 23 de janeiro, mas já é dado como líquido e certo que Gary Oldman estará à frente da disputa pela estatueta de melhor ator – e se ganhar será a primeira vez que a Academia premiará seu trabalho. A seguir, ele conta como se preparou para encarnar Winston Churchill.

Gary Oldman
Gary Oldman como Winston Churchill (Universal/Divulgação)

Conhecemos o primeiro-ministro Winston Churchill não só de imagens da época, como de tantos filmes e séries em que ele foi interpretado por outros atores. Como se destrincha um personagem assim?

De fato, um ator que aceita o papel de Churchill não está sendo chamado só a interpretar aquela que talvez seja a maior personalidade britânica de todos os tempos; requer-se também que ele mate um dragão – todos os outros atores que já encarnaram Churchill e deixaram impressões tão fortes. Psicologicamente, começa-se caminhando por um campo minado antes mesmo de “atacar” o personagem. Quase todos nós temos uma imagem de Churchill como aquele velho rabugento, com o charuto e o uísque, e a verdade é que já não sabemos mais dizer se ela vem dos cinejornais ou se é uma contaminação, por assim dizer, criada por tantas interpretações dele. Além disso, há um outro Churchill ainda na nossa imaginação: o homem que colocamos sobre um pedestal.

Por onde o senhor começou?

Pela leitura extensiva sobre ele, primeiro, e depois pelos cinejornais. O que me chamou a atenção é que ali estava um homem de 66 anos saltitando com o ânimo de um jovem de 20. Ele tinha também uma centelha impressionante – olhos tão joviais, tão vivos, e um sorriso malandro de querubim que deixava transparecer um senso de humor quase infalível. Ou eu havia notado isso algum dia e então esquecido, ou nunca havia sequer percebido como ele era espirituoso. Foi por aí que encontrei onde me agarrar no personagem: ele era um dínamo, incessantemente alerta e pronto para o ataque. Ali, sim, estava o líder monumental da Inglaterra.

Há também a parte documental da atuação – aparência, postura, gestos, tiques, modo de falar.

Sim, é claro que eu não estava improvisando. Estava firmemente ancorado na figura física de Churchill e no roteiro – e amparado pela maquiagem. Mas creio que a parte relevante do trabalho não é essa. É a maneira como se faz com que as falas soem vivas, e não decoradas de uma página; como se localiza o espírito do personagem e se dá carne, osso e alma a ele. Tive uma vantagem inestimável: um prazo de quase um ano para pensar em Churchill e em como interpretá-lo, mais quatro semanas de ensaios com os outros atores. São luxos de que raramente um ator dispõe no cinema, e que me proporcionaram a chance de transformar o personagem numa segunda natureza antes que a primeira câmera tivesse sido ligada.

Qual cena, para o senhor, melhor ilumina Churchill?

Aquela em que ele deixa uma reunião do comando de guerra para encontrar os membros menos graduados do gabinete e falar a eles sobre os ingleses se afogarem no próprio sangue, se necessário. É algo que vem das vísceras dele, por estar se sentindo acuado pela facção que desejava negociar a paz com a Alemanha e ao mesmo tempo saber que Hitler era uma personificação do mal, e que qualquer hipótese de convivência com ele seria impensável – e impraticável. Foi um rompimento sofrido com seu gabinete, mas só ele teria coragem de provocá-lo. Churchill lutou na I Guerra Mundial; imagine se uma bala perdida o tivesse atingido e não houvesse um Churchill em 1940. Em que mundo tenebroso teríamos vivido desde então? Se há algo que aprendi com O Destino de uma Nação é quão perto passamos disso. E que diferença fazem a lucidez e a convicção de um só homem. Churchill não escondeu dos ingleses que haveria morte, dor, perda. Ele os liderou em meio ao sofrimento. Não há dúvida, é preciso ter algum ego para almejar uma responsabilidade tão esmagadora. E Churchill sempre a almejou, e se expôs a todas as oportunidades de alcançá-la.

Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista Veja em 10/01/2018
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2018

 

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