A farsa da pacificação: sabe como os policiais se referem à UPP? Sabe o que tem acontecido na Rocinha? Eu conto!
Em grupos de WhatsApp, os policiais do Rio de Janeiro costumavam chamar a UPP (que, oficialmente, significa Unidade de Polícia Pacificadora) de Unidade de Propaganda Política. Agora mudaram: chamam de Unidade de Perigo pro Policial.
Em ambos os casos, como este blog vem demonstrando, não se pode negar que tenham razão.
Veja como ficou a “base” da UPP do Morro dos Macacos após o ataque que deixou um PM ferido no último dia 4.
Agora veja o número de policiais feridos e mortos SOMENTE nas UPPs até quarta-feira, 17 de dezembro de 2014.
2008 – nenhum;
2009 – nenhum;
2010 – 1 ferido;
2011 – 5 feridos;
2012 – 9 feridos e 5 mortos;
2013 – 24 feridos e 3 mortos;
2014 – 84 feridos e 8 mortos.
Total – 123 feridos e 16 mortos.
Será que deu para notar o aumento do número de vítimas à medida que houve um crescimento desenfreado e político das UPPs?
Como eu havia resumido em novembro, no artigo “A farsa da pacificação no Rio de Janeiro“:
“Em vez de investir gradativamente em poucas e eficazes UPPs, que ocupem por completo o território das ‘comunidades’ com policiais militares experientes e treinados para isso, e que de preferência prendam os bandidos locais, o governo do Rio de Janeiro publicitariamente espalha UPPs cuja presença frequentemente tem apenas a dinâmica da ‘cabeça de ponte’ – o termo militar para descrever a situação altamente instável em que apenas um pedaço do terreno do inimigo foi conquistado -, deixando PMs recém-formados trabalhando em condições precárias à mercê dos ataques de traficantes armados com fuzis.”
Não é raro, atualmente, que a guarnição de uma UPP tenha de pedir a intervenção de unidades de elite para conseguir sair de sua base.
Dos 123 feridos desde 2008, 92 foram baleados só em 2014 e oito deles morreram. Isto nas UPPs, porque no total geral já são quase 300 policiais baleados, sendo 110 assassinados.
Enquanto isso, a turma dos “direitos humanos” liderada pela deputada Maria do Rosário está mais preocupada com uma frase de Jair Bolsonaro; e o secretário de segurança do estado do Rio, José Mariano Beltrame, blindado pela imprensa e craque em atribuir a culpa aos outros, dá declarações grotescas como esta recente ao Jornal Nacional:
“Com a história de abandono do Rio de Janeiro, eu acho que infelizmente nós ainda vamos perder talvez uma geração para que se chegue a dias melhores, mas posso dizer que esse caminho, essa caminhada começou.”
Repare que Beltrame não só culpa a herança maldita, embora esteja há 8 anos(!) no cargo, como também se previne contra críticas futuras admitindo que toda uma geração de policiais ainda poderá morrer. De fato, a única “caminhada” que começou foi a dos familiares dos policiais mortos, que protestaram no último domingo na Praia de Copacabana. E a julgar pelas declarações do secretário, o número de manifestantes vai continuar crescendo. (Será que o de assaltos também?)
A edição impressa de VEJA da semana passada mostrou que em Nova York, neste ano, nem um único policial havia sido morto a tiros por bandidos. Zero. Em todos os Estados Unidos, com quase uma vez e meia a população brasileira, haviam tombado baleados por bandidos somente 46 policiais, menos da metade do que os bandidos mataram em 2014 no Rio de Janeiro.
Só no conjunto de favelas do Alemão foram registradas quase duas centenas de tiroteios, escaramuças inconsequentes entre policiais e bandidos, sem que nenhum lado se declarasse vencedor.
Na famosa Favela da Rocinha, a presença constante de 700 policiais não consegue impor a ordem, tampouco impedir o tráfico de drogas e os crimes violentos associados a ele. Rajadas de fuzis automáticos cortam o céu noturno do morro que foi durante algum tempo a vitrine da política de pacificação na cidade.
E acrescento: os médicos e enfermeiros que trabalham na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Rocinha ficam cercados pelo tiroteio, impedidos de sair à rua, as refeições não podem chegar até eles, mas a Secretaria nega os fatos e não suspende os trabalhos!
Vai ver, o secretário acha que “infelizmente nós ainda vamos perder talvez uma geração” de médicos e enfermeiros também.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil
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