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Por Duda Teixeira
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Por que a ONU é incapaz de evitar guerras?

No preâmbulo da carta de fundação da Organização das Nações Unidas, de 1945, lê-se: “Nós, os povos das Nações Unidas, (estamos) resolvidos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que, por duas vezes no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade”. Nesse mesmo ano, quando representantes de vários países se reuniram no teatro […]

Por Duda Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 21h48 - Publicado em 20 set 2016, 10h57
Feridos e mortos são evacuados após bombardeio das forças de Bashar Assad no bairro Sahur, controlado pela oposição, na cidade de Aleppo, na Síria, em julho de 2016 (Crédito Ibrahim Ebu Leys/Anadolu Agency/Getty Images)

Feridos e mortos são evacuados após bombardeio das forças de Bashar Assad no bairro Sahur, controlado pela oposição, na cidade de Aleppo, na Síria, em julho de 2016 (Crédito Ibrahim Ebu Leys/Anadolu Agency/Getty Images)

No preâmbulo da carta de fundação da Organização das Nações Unidas, de 1945, lê-se:

“Nós, os povos das Nações Unidas, (estamos) resolvidos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que, por duas vezes no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade”.

Nesse mesmo ano, quando representantes de vários países se reuniram no teatro Opera House, em São Francisco, o mundo passava por uma fase de clareza moral. Todos queriam evitar os horrores que o planeta acabara de presenciar na II Guerra.

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Foi nesse contexto que a ONU surgiu. Seu grande inspirador foi Woodrow Wilson, que foi presidente dos Estados Unidos durante a I Guerra. Foi ele quem criou e disseminou a tese de que, se todos os países fossem democracias, eles não se meteriam em conflitos desnecessários devido a um princípio moral. Uma vez que todos os fatos de uma questão fossem conhecidos, os cidadãos comuns naturalmente optariam pela paz e seus governantes os obedeceriamPor garantia, um sistema de arbitragem internacional poderia resolver uma situação antes que ela evoluísse para uma guerra de fato. Wilson influenciou tanto o nascimento da Liga das Nações, após a I Guerra, como a criação da ONU mais tarde. 

Na II Guerra, o presidente dos Estados Unidos era Franklin Delano Roosevelt. Desde os anos 1930 ele já se entusiasmara com esses conceitos e foi o primeiro a cunhar o termo “Nações Unidas”. Também foi Roosevelt quem sugeriu formar um corpo internacional formado por “quatro policiais”: Estados Unidos Inglaterra, China e União Soviética. Se um agressor “tentasse pegar o território ou invadir seus vizinhos, as Nações o deteriam antes mesmo que ele começasse”. O plano foi concretizado com o Conselho de Segurança da ONU, incluindo a França.

Como Rossevelt morreu em 1945, quem comandou as reuniões que deram origem à ONU em 1945 foi Harry Truman. “Se nós não queremos morrer na guerra, então precisamos a aprender a viver juntos, na paz“, disse ele em São Francisco.

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Por que a ONU não conseguiu, então, cumprir com o que foi prometido? Três respostas:

1. O mundo não liga para os sonhos dos presidentes americanos

A noção de que é preciso espalhar a democracia pelo mundo para que todos possam viver em paz vem de uma das quatro correntes que influenciam a política externa americana, aquela que Walter Russell Mead chama de Wilsonianos, em referência a Woodrow Wilson. Quase todos os presidentes americanos desde então são tributários dele, incluindo George W. Bush e Barack Obama. Mas essa corrente não é consensual dentro dos Estados Unidos e tampouco é acatada por governantes de outros países, que têm seus próprios interesses e não necessariamente compartilham essa utopia. Um exemplo? No mesmo ano de fundação da ONU, o ditador da União Soviética Josef Stálin soltou essa aqui:

“Quem ocupar um território também imporá sobre ele seu próprio sistema social. Todos imporão seus sistemas até o ponto que seus exércitos alcançarem”

Acreditar que todo o mundo estava no mesmo espírito logo depois da fundação da ONU foi um erro grosseiro do Ocidente. A União Soviética não pensou duas vezes antes de intervir em eleições, enviar agentes secretos e tanques para anexar vários países da Europa Oriental após a II Guerra.

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2. As democracias são minoria no mundo

A União Soviética e a Arábia Saudita nada tinham de democracia em 1945. Mesmo assim, participaram da fundação da ONU. Apesar de não terem os mesmos valores que as democracias ocidentais, eles preferiram assinar os documentos a contestar a maioria composta por democracias. O critério para que entrassem na ONU não era baseado em princípios, e sim o de ter declarado guerra a um dos membros do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Com a inclusão de novos membros na ONU ao longo das décadas, a entidade ficou mais parecida com o mundo real. Em 1993, somente 75 dos 184 membros da ONU eram democracias livres, ou seja: 40%.

“De acordo com os padrões da ONU, um consenso de ditaduras é superior à decisão de uma democracia. Isso se reflete no problema fundamental da ONU em fazer julgamentos morais enviesados”, escreveu o diplomata israelense Dore Gold, no livro Tower of Bable. Quando uma agressão é relatada para a Assembleia Geral ou ao Conselho de Segurança, é quase impossível que esses órgãos saiam com uma decisão sobre o que é certo ou errado, muito menos com alguma punição para os agressores.

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3. Democracias também entram em guerra

Como o Conselho de Segurança da ONU é incapaz de fazer julgamentos acertados sobre agressões internacionais, as democracias passaram a se sentir livres para agir sem sua aprovação. Depois de uma conversa com George W. Bush em 1990 sobre a situação no Iraque, que invadiu o Kuwait, a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher considerou:

“Ainda que eu seja uma firme apoiadora da lei internacional, eu não necessariamente dependo das Nações Unidas, porque isso iria sugerir que um Estado soberano não tem autoridade moral para agir em seu próprio interesse. Se tornar-se aceitável que a força só possa ser usada em legítima defesa caso as Nações Unidas a aprovem, nem os interesses da Inglaterra nem os das justiça e da ordem internacional serão atendidos. A ONU foi útil para alguns interesses vitais, mas é raramente o núcleo da nova ordem mundial”.

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Com a pressão da opinião pública, é certo que democracias têm menos chance de entrar em guerra, mas a possibilidade existe. Sobre a I Guerra, diz o ex-secretário de Estado Henry Kissinger, em seu livro Ordem Mundial:

“Os países europeus que tinham entrado na guerra em 1914 eram todos munidos de instituições representativas com diferentes graus de influência (o parlamento alemão tinha sido eleito por sufrágio universal). Em todos os países a guerra foi saudade com entusiasmo universal, sem enfrentar uma oposição sequer simbólica em nenhum dos seus parlamentos”. 

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