O pé esquerdo
Uma de duas: Raquel Dodge ou caiu numa armadilha ou participou deliberadamente de uma farsa.
A doutora Raquel Dodge definitivamente não estreou bem em suas andanças antes mesmo de tomar posse, daqui a 40 dias, como procuradora-geral da República. Iniciou a caminhada com o pé esquerdo ao aceitar um encontro noturno fora da agenda no Palácio do Jaburu o presidente Michel Temer, em cenário semelhante ao diálogo gravado entre Temer e Joesley Batista que sustentou a denúncia da PGR rejeitada pela Câmara, mas mantida como cadáver insepulto a ser ressuscitado ao fim do mandato presidencial.
De duas, uma: ou a futura chefe do Ministério Público caiu numa armadilha montada pelos artífices palacianos para conferir, por comparação, naturalidade ao encontro com Joesley ou participou deliberadamente de uma cena cujo caráter de farsa fica exposto na própria justificativa oficial para a reunião, a de que presidente e procuradora precisavam cuidar dos detalhes da cerimônia de posse.
Nenhuma das duas hipóteses fala a favor dos protagonistas. A Dodge faltou a cerimônia e o respeito indispensáveis ao cargo para o qual foi nomeada. A Temer assolou carência de senso do ridículo no preparo do ardil e criatividade na montagem da versão.