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Marcos Troyjo: EUA, China e a ‘Armadilha de Tucídides’

No campo econômico, é mais nítida a transformação da ordem no topo do mundo. Os EUA continuam protagonistas, mas não hegemônicos

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h43 - Publicado em 14 out 2017, 23h46

O texto de estreia desta coluna há exatos quatro anos, intitulado “As globalizações do G2”, projetava um acirramento da competição entre EUA e China no palco mundial. Isto só tem se confirmado. Para muitos analistas, tal rivalidade — de grande escala e espraiada em múltiplos setores das relações internacionais — convida a cenários de elevado potencial fragmentário.

O historiador grego Tucídides argumenta em seu clássico “História da Guerra do Peloponeso” que o movimento de ascensão de certas potências torna os conflitos inevitáveis. No antigo quadro de cidades-Estado gregas, o poder militar estabelecido de Esparta passou a temer que sua supremacia estivesse ameaçada pela emergência, também bélica, de Atenas. De tal temor resultaram conflitos que acabaram por desmantelar o mundo grego.

Tal dinâmica — a da inevitabilidade de confrontos quando se observa a arremetida dramática de potências como a questionar o caráter preponderante de determinado arranjo de poder– recebeu portanto a denominação “Armadilha de Tucídides”.

No cenário contemporâneo, estaríamos testemunhando o risco de se cair novamente em tal armadilha com a irresistível ascensão da China e o suposto declínio relativo dos EUA. Este é o tema de recente livro de Graham Allison, professor de Harvard, ominosamente intitulado “Destinados à Guerra: Conseguirão EUA e China Escapar à Armadilha de Tucídides?”.

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De fato, no campo militar, Pequim vem robustecendo os músculos. Sua Marinha terá tonelagem multiplicada algumas vezes nos próximos dez anos. Em outras áreas relacionadas à Defesa, como aviação, satélites ou capacidade cibernética ofensiva, também a China parece clonar forma de incentivo econômico aplicada nos EUA durante a administração Reagan — fenômeno que alguns economistas chamaram de “keynesianismo militar”.

No entanto, um chinês despende em Defesa algo como US$ 90 por ano. Um norte- americano, US$ 1.800. Mesmo em se considerando que a população chinesa é quatro vezes maior que a dos EUA, a desproporção é brutal. E tal diferencial de capacidade militar seria, ele próprio, inibidor de conflitos militares.

Já no campo econômico, é mais nítida a transformação da ordem no topo do mundo. Os EUA continuam protagonistas, mas não hegemônicos. A China é maior nação-comerciante do planeta. A arquitetura de Bretton Woods (FMI, Banco Mundial, etc.) hoje coexiste com uma família de instituições econômicas multilaterais (Novo Banco de Desenvolvimento, Banco Asiático de Infraestrutura e Investimento, etc.). lideradas por Pequim.

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A China tornou-se a segunda maior (atrás dos EUA) depositante de patentes na OMPI (Organização Mundial da Propriedade Intelectual). O norte-americano “FAGMA” (Facebook, Apple, Google, Microsoft, Amazon) ladeia-se com o chinês “BART” (Baidu, Ali Baba, Ren-Ren, Tencent) e oferece a dimensão da escala da competitiva no universo das gigantes tecnológicas.

Ainda assim —e não obstante Trump haver feito sua campanha à Casa Branca vociferando que adotaria uma série de medidas protetivas e retaliatórias contra a China, é pouco provável que se desencadeie uma “guerra fria comercial” entre as superpotências. Ao contrário do que havia durante o período de confrontação bipolar EUA-URSS, a interdependência econômica entre EUA e China é enorme. O comércio bilateral EUA-China é o dobro do que representa o intercâmbio comercial entre China e os demais Brics. Os EUA são o principal destino do investimento estrangeiro direto (IED) chinês, e vice-versa.

Por isso, apesar dos assustadores precedentes históricos de confrontos militares quando há “movimentos de gangorra” no cume do poder mundial, a elevada interdependência econômica talvez represente uma espécie de “seguro”. Ela é a melhor garantia de que, desta vez, as potências dominantes conseguirão evitar a “Armadilha”.

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*Esta coluna é dedicada à memória do grande internacionalista — e querido mestre e amigo — Fernando Augusto Albuquerque Mourão.

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