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Deonísio da Silva: Suje-se gordo

Pois não é que na semana que findou, o conto de Machado foi levado ao palco do Brasil por outros personagens?

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h45 - Publicado em 10 set 2017, 11h27
(Reprodução/Reprodução)

O locador era o cunhado. O locatário era Machado de Assis, que sofria ameaças de despejo por atrasar o aluguel.

Sim, o maior escritor brasileiro mudou de residência várias vezes, em busca de um imóvel para morar. Por isso, de vez em quando é encontrado no Rio um lugar onde Machado morou. E ele povoou seus livros de personagens que trabalham demais enquanto seus patrões ou donos passam a vida sem nada fazer, apenas fofocando.

A Abolição e a República, os dois grandes temas da segunda metade do século XIX, viriam somente no fim do século. A Abolição de 1888 proclamou a República de 1889, por assim dizer.

Espelhando um Brasil que demorava a mudar suas estruturas, Machado escreveu romances e narrativas curtas, estas em forma de contos ou crônicas, dando os indícios, com a conhecida sutileza e sofisticação, dos movimentos subterrâneos que anunciavam as mudanças que a outros tantos pareceram abruptas, repentinas. Não eram. Estavam sendo preparadas há muito tempo.

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Num conto, intitulado Suje-se gordo, a narração é feita pelo presidente do conselho de um júri. Diz ele: “O primeiro réu que condenei, era um moço limpo, acusado de haver furtado certa quantia, não grande, antes pequena, com falsificação de um papel”.

 Um dos jurados, o mais exaltado em condenar, perora nestes termos, dando o título do conto: “O crime está mais que provado. O sujeito nega, porque todo o réu nega, mas o certo é que ele cometeu a falsidade, e que falsidade! Tudo por uma miséria, duzentos mil- éis! Suje-se gordo! Quer Sujar-se? Suje-se gordo!”.

 Já o narrador invoca mais de uma vez a recomendação do Evangelho: Não queirais julgar para que não sejais julgados”.

Passa-se o tempo e vem outro júri em que o réu não se sujou por quatro patacas, mas por cento e dez contos, uma enorme quantia para a época. Uma carta de sua lavra torna evidente o crime. Os jurados são doze. Nove deles votam pela absolvição. Apenas dois acompanham o voto do narrador para condená-lo.

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O nome do réu é Antônio do Carmo Ribeiro Lopes. A surpresa do desfecho: quando integrante do júri, foi dele o conselho “suje-se gordo”. E agora tornara-se réu.

Talvez o nome do personagem seja ironia adicional de Machado ao latinista Castro Lopes, com quem travou dura polêmica sobre neologismos. Pois Castro Lopes queria chamar abajur de lucivéu, repórter de alvissareiro, reclame de preconício, futebol de ludopédio, e turista de ludâmbulo, entre outras barbaridades.

Pois não é que na semana que findou, o conto de Machado foi levado ao palco do Brasil por outros personagens? Um duro crítico da corrupção, crime em que tantas vezes já incorrera no  passado, e, sem ironia nenhuma, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, já condenado à prisão, transformada em domiciliar, voltou à cela porque seguiu a recomendação do personagem machadiano e sujou-se gordo. Foram mais de R$ 51 milhões.

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