Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

A Origem dos Bytes Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Filipe Vilicic
Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
Continua após publicidade

O brasileiro tido como um dos melhores designers do Vale do Silício

No Vale do Silício, o paulista Vitor Lourenço, de 28 anos, é tido como um exemplar talento do design. Sua carreira decolou em 2009, quando deixou o Brasil para trabalhar no Twitter. À época, a hoje famosa rede social de 140 caracteres era apenas uma startup promissora, não a gigante que se tornou hoje. “Fui […]

Por Filipe Vilicic Atualizado em 30 jul 2020, 23h13 - Publicado em 20 mar 2016, 10h47

SONY DSC

No Vale do Silício, o paulista Vitor Lourenço, de 28 anos, é tido como um exemplar talento do design. Sua carreira decolou em 2009, quando deixou o Brasil para trabalhar no Twitter. À época, a hoje famosa rede social de 140 caracteres era apenas uma startup promissora, não a gigante que se tornou hoje. “Fui o primeiro designer, contratado em um momento no qual a empresa contava com pouco mais de dez funcionários”, recorda. “Quando saí, em 2012, já eram mais de 3 000”. Lourenço deixou o Twitter com o que chama de “sorte”. “A empresa abriu seu IPO (a oferta pública inicial de ações na bolsa de valores), consegui ganhar bem com isso, e hoje sinto que preciso compartilhar essa sorte com outros, iniciantes, investindo e apoiando projetos tão inovadores quanto o Twitter”, completa.

Após o Twitter, ele primeiro fundou a Envoy, em 2013. O que ela faz: digitaliza todo o processo de recepção de uma empresa – o visitante se cadastra online e quem deve recebê-lo é notificado por uma mensagem no celular. A startup captou mais de 15 milhões de dólares em investimentos e hoje atua em 2 000 companhias, incluindo nos edifícios de marcas icônicas do Vale do Silício, a exemplo da Tesla, do Airbnb e do Uber.

“Só que não estava tão realizado, pois sentia falta de trabalhar com equipes pequenas, em negócios emergentes”, diz. Foi então que entrou na Expa, também em 2013. A empresa, criada pelo canadense Garrett Camp, um dos fundadores do Uber – Lourenço, aliás, participou de reuniões iniciais de onde nasceu esse hoje celebrado (e polêmico) aplicativo de contratação de motoristas –, se define como um “estúdio de startups”. “Em vez de apenas darmos dinheiro para a elaboração de um negócio, participamos de todo o processo, ajudamos a construir do zero”, explica o designer.

Lourenço concedeu a seguinte entrevista a VEJA, no escritório da Expa em São Francisco – em uma sala que dá vista para toda a cidade.

Continua após a publicidade

O que é, afinal, um estúdio de startups, como a Expa, onde trabalha? Trata-se de um novo modelo de negócios. Na Expa, procuramos boas ideias para investir nelas. Porém, fazemos muito mais do que um típico investidor. Participamos do dia a dia das operações, escalonamos o projeto para torná-lo o mais ambicioso e criamos os primeiros protótipos para testá-los, no mais rápido. Ocorre que, na real, muitos investidores tradicionais estão há um tempo fora do mercado. Logo, costumam dar o dinheiro, mas não conseguem, até por falta de tempo disponível, participar do desenvolvimento de cada startup que apoiam. Nós decidimos fazer esse papel. Por isso, nos nomeamos como um estúdio.

Qual é a sua função nesse estúdio? Sou um designer residente. O que seria isso? Ajudo a criar as empresas do zero. Sou o responsável pelo desenvolvimento da identidade visual, monto o primeiro time de especialistas da área, desenho os protótipos e por aí vai. Cumpro essa tarefa com uma de nossas startups, depois passo para a próxima e assim por diante. Como exemplo, uma das empresas que apoiamos é a Reserve, um serviço online pelo qual se consegue reservar mesas em restaurante, mesmo nos mais badalados. Caso o usuário esteja, por exemplo, em Nova York e queira jantar, no mesmo dia, em um estabelecimento onde é muito difícil conseguir reserva, ele pode utilizar o programa para tal. Para isso, terá de pagar uma taxa extra. Porém, não vai perder a oportunidade de ir onde quer ir. Para se ter ideia da dimensão de nossos negócios, o Reserve está dando certo e, depois de darmos o pontapé inicial, conquistou 15 milhões de dólares em investimentos.

O que o levou a abandonar o Twitter, em 2012, para se dedicar a projetos menores? Eu sentia muita falta de trabalhar com times pequenos de profissionais e de participar da concepção de novos negócios. Queria novamente passar por aquela sensação de “o que vamos fazer agora e daqui para frente?”. Foi ótimo meu período no Twitter, onde tive a oportunidade de participar de toda a criação do design do site. Quando deixei a empresa, em 2012, fui junto a muitos elogios, como os de Evan Williams, fundador do Twitter e quem me contratou pela primeira vez. Porém, depois de um tempo a companhia cresceu muito. Saí de lá quando 3 000 funcionários já trabalhavam para a rede social. Havia muita burocracia, como em toda grande companhia.

Como conseguiu a vaga de primeiro designer do Twitter e, assim, se mudou para o Vale do Silício? Comecei remotamente, como autônomo, ainda no Brasil. Foram seis meses assim. Depois desse teste, eles decidiram me contratar e me levar para o Vale. O Evan Williams, fundador do Twitter, conheceu um projeto que desenvolvi em cima dos padrões de programação do site e me convidou para trabalhar com ele. Saí muito cedo do Brasil. Cheguei nos Estados Unidos com 21 anos. Por pouco nem poderia pedir uma bebida no bar. Quando comecei no Twitter, era uma empresa ainda muito pequena, de uns 10 funcionários. Trabalhava lá até Kevin Systrom, como estagiário. Esse é o cara que depois veio a fundar o Instagram, ao lado do brasileiro Mike Krieger.

Continua após a publicidade

Hoje, após anos de glória, o Twitter é visto como uma incógnita. Em crise, não se sabe se ele será vendido, ou se irá se reinventar para voltar a conquistar usuários. Como avalia essa má fase? É preciso retornar ao início da empresa para compreender a situação. No começou, não se sabia direito como o negócio ia funcionar, nem sua provável dimensão. Só que, mesmo assim, ele explodiu em todo o mundo. E esse sucesso foi quase que um acidente. Aí o grande problema interno que surgiu é que não se tinha certeza dos motivos que levaram a tanta fama. Por isso, ninguém arriscava, não se tentava mudar a fórmula. Afinal, não queríamos ser taxados como aquelas que transformaram tudo e acabaram por errar. Só que, justamente por não mudar, acabamos por não acompanhar algumas novidades do mercado. Como a ascensão das rede sociais de compartilhamento de fotos. Por isso, fomos passados para trás pelo Instagram em número de usuários. Para superar a atual má fase é preciso rever o conceito de não mudar. Acredito, por exemplo, que virão transformações importantes na rede social, como o inevitável aumento do limite de 140 caracteres para escrever, o que já é uma demanda dos usuários. Contudo, é preciso lembrar que o Twitter também acabou por criar outro produto, inovador, que se adequa muito bem às necessidades contemporâneas. É o Periscope, que aposta em vídeos, dentro de um modelo de rede social. O investimento nesse novo produto também pode ser chave para escapar bem do atual cenário negativo.

Por você ser próximo de Garrett Camp, chegou a presenciar como nasceu o Uber, a startup do momento? Nunca me envolvi oficialmente com a empresa. Mas acompanhei o Garret, um dos fundadores, desde o início. Até participava de reuniões de brainstorming para dar ideias para o aplicativo. É curioso notar que tudo começou por uma necessidade pessoal dos fundadores, que notavam o quanto era difícil conseguir um táxi em São Francisco. Daí eles idealizaram um aplicativo pelo qual era possível contratar motoristas de carros de luxo. Só que o que era um fenômeno local acabou logo se expandindo, ganhando adeptos e lançando versões mais populares. Foi um crescimento impressionante.

Por que, além de todas as suas funções atuais, decidiu também por ser investidor de startups, colocando seu próprio dinheiro nelas? Ainda estou começando nesse ramo. Juntei-me com outros ex-funcionários do Twitter, do Facebook e de outras empresas de calibre similar para fazer a Specialized Types, um grupo que apoia projetos incipientes.

Mas o que te levou a esse caminho, mesmo com uma vida financeira já bem saudável? Há uma ideia prevalente no Vale do Silício de que aqueles que tiveram sorte devem devolver essa sorte para que outros possam construir ideias novas e promissoras. Esse é o principal, quase único, motivo.

Continua após a publicidade

Para acompanhar este blog, siga-me no Twitter, em @FilipeVilicic, e no Facebook.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.