A queda nos preços internacionais das matérias-primas agrícolas, metálicas e do petróleo deve tirar cerca de 20 bilhões de dólares das exportações brasileiras entre 2011 e 2013, nas contas da consultoria GO Associados. Em 2011, as vendas somaram 196,9 bilhões de dólares e em 2012 foram 183,7 bilhões de dólares. Para este ano, a previsão é de 176,9 bilhões de dólares, quase 7 bilhões de dólares menos de receita – em comparação ao ano passado – obtida com a venda de produtos básicos, que respondem por 70% das exportações brasileiras.

Praticamente todas as matérias-primas agrícolas e minerais estão com os preços em queda no mercado internacional por duas razões: o baixo crescimento dos países desenvolvidos e as incertezas sobre o desempenho da China, o grande comprador desses produtos. Entre 2011, ano de pico das cotações das commodities, e abril deste ano, os preços médios em dólar no mercado de commodities agrícolas, minerais e energéticas acumularam queda de quase 12%, segundo o índice CRB (Commodity Research Bureau), referência mundial.

Leia também:

Consumo fraco tira R$ 27 bilhões da economia brasileira

Indústria brasileira perde espaço na Europa

Aliança do Pacífico reduz tarifas de importação

Além dos reflexos negativos na receita de exportação e no saldo comercial do país, os preços em queda já começaram a ter impactos nos planos das empresas. A Vale, a maior produtora de minério de ferro do mundo, cortou em 7,8 bilhões de dólares os investimentos programados para este ano. O analista da corretora SLW, Pedro Galdi, lembra que a Rio Tinto também reviu investimentos. O minério de ferro responde por pouco mais de 10% das exportações totais do país, ou 30 bilhões de dólares.

Outro sintoma da mudança de humor das empresas ligadas ao setor de produtos básicos aparece nas consultas recebidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obter financiamento. No setor químico, por exemplo, houve queda de 51,6% no volume registrado no primeiro trimestre deste ano ante igual período de 2012. No segmento de celulose, o recuo foi de 7% em igual período.

Leia ainda: Balança comercial tem pior déficit da história para o mês de abril

Para Merkel, levará anos até zona do euro superar crise

Produção industrial da China cresce 9,3% em abril, abaixo das expectativas do mercado

“O cenário hoje é de queda de preço das commodities e isso pesa no saldo comercial”, afirma o diretor de pesquisa econômica da consultoria GO Associados, Fabio Silveira. Para este ano, ele projeta que as exportações brasileiras somem 235 bilhões de dólares, recuo de 3% sobre 2012 ou 7,6 bilhões de dólares menos. Dessa retração, 6,8 bilhões de dólares serão provenientes da queda nas vendas de commodities agrícolas e minerais e das quase commodities, como produtos intermediários, além do petróleo. Em termos de saldo da balança, Silveira calcula que o superávit este ano caia mais da metade: de 19,4 bilhões de dólares em 2012 para 8 bilhões de dólares. A retração será em boa parte provocada pelas commodities, além do aumento das importações.

Déficit – O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acredita que a queda nos preços das commodities deve subtrair entre 7 bilhões de dólares e 8 bilhões de dólares das exportações brasileiras este ano. Além disso, Castro considera que a balança feche 2013 no vermelho, mas ainda não arrisca fazer projeções sobre o tamanho do buraco. Se a previsão se confirmar, será o primeiro déficit desde 2000. “Estamos no fio da navalha do déficit.” No ano, até a terceira semana de maio, as exportações somam 84,1 bilhões de dólares e as importações, 89,2 bilhões de dólares. O déficit é de 5,095 bilhões de dólares, segundo o Ministério da Indústria e Comércio.

(com Estadão Conteúdo)