Limbo político alonga horizonte da retomada econômica
Após manterem previsão de crescimento para 2017 em 0,50% durante fevereiro, analistas ouvidos pelo BC reduziram duas vezes seguidas a projeção, para atuais 0,35%
O agravamento da crise política, com crescentes incertezas sobre a permanência da presidente Dilma Rousseff no poder, tem contaminado as perspectivas para a economia brasileira não só para este ano, como também para 2017. Analistas ouvidos pelo Banco Central (BC), no boletim Focus, mantiveram durante fevereiro em 0,50% a estimativa de alta do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano que vem. Nas últimas duas semanas, porém, a projeção foi reduzida consecutivamente, primeiro para 0,44% e agora para 0,35%. Para este ano a pesquisa estima uma contração de 3,66%.
Especialistas ouvidos pelo site de VEJA apontam a instabilidade política como principal fator de pressão. “Não há hoje uma boa percepção sobre a situação política da parte dos investidores e dos empresários, nem mesmo dos consumidores. Isso porque uma perda de apoio do governo acelera a preocupação dos agentes de mercado na confiança, o que posterga investimentos, afetando a economia”, explica Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
Agostini pondera que uma alternativa para esse estado de “inércia política”, que freia avanços na economia, seria a saída da presidente, via impeachment ou renúncia. “Um novo governo poderia abrir uma expectativa de mudança. O ministro da Fazenda seria outro, assim como os dirigentes do BC, do Planejamento. O novo é algo melhor do que está posto.” As previsões da Austin Rating para este ano são de uma retração de até 4,5% e para o ano que vem uma queda de até 1%.
A troca de governo em si, no entanto, não melhoraria o cenário econômico, na avaliação presidente do Conselho Federal de Economia, Júlio Miragaya. “Na hipótese de Temer assumir, por exemplo, qual seria sua real condição de governabilidade?”, questiona. “O atual vice-presidente também pode ter sua legitimidade posta em xeque, já que o PMDB é um dos partidos envolvidos no escândalo de corrupção apurado pela Operação Lava Jato. É ilusório acreditar que haverá uma paz instantêna”, aponta.
Para Agostini, um novo governo teria de ser mais “pragmático”. “Teria de fazer o ajuste fiscal, a reforma da previdência, sentar com PMDB e o PSDB. Não dá pra ficar só no discurso, tem que ir para a prática”, ressalta.
Cláudio Considera, pesquisador do IBRE/FGV, diz que não tem perspectiva de a economia voltar a crescer. “Estamos no limbo político. Famílias com renda diminuindo, desemprego aumentando. Não há demanda. Só externa, com poucas exportações. Mas que não são suficientes para retomar o crescimento da economia brasileira. O país está parado”, alerta.
A reversão deste quadro de deterioração política, segundo o diretor de Operação da FN Capital, Paulo Figueiredo, passa pela mudança de prioridade: da política para a economia. “A primeira coisa a ser feita é focar na parte econômica. Priorizar o equilíbrio das contas, com o ajuste fiscal, tentar estimular a economia por meio de programas que diminuam o custo Brasil, ou que reduza a carga tributária”, sugere. ” O que vemos hoje, no entanto, é um foco em defender governo, lutar contra ou pelo impeachment, tanto pela parte da oposição quanto da própria situação”, acrescenta.
Mesmo as notícias na economia não têm sido favoráveis, sobretudo no âmbito fiscal. Na semana passada, o governo informou que vai pedir ao Congresso autorização para fechar o ano com um déficit primário de quase 100 bilhões de reais, em meio à frustração de receitas com a recessão econômica. Se isso ocorrer, o Brasil terminará o ano com terceiro rombo seguido nas contas públicas.
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Inflação – A piora nas projeções para o crescimento foi acompanhada de um alívio nas expectativas para a inflação. Para 2016, a expectativa do mercado, ainda segundo o Focus, para o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, caiu de 7,43% para 7,31%, no terceiro recuo seguido.
Já para 2017 a estimativa foi mantida em 6%, exatamente no teto da meta para o período, mas também da meta central de 4,5% estabelecida para o próximo ano pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).