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Itália precisa de mais gerentes e menos políticos

Cenário de incerteza é tão grave que não basta a troca de governo para garantir que o país conseguirá controlar sua situação fiscal

Por Ana Clara Costa e Beatriz Ferrari
8 nov 2011, 18h22

A promessa de renúncia por parte do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, nesta terça-feira, coloca uma grande interrogação sobre o que ocorrerá com a economia italiana. Ainda que os mercados tenham se mostrado otimistas ante a troca de governo no país, isso não significa que os problemas italianos serão resolvidos. Berlusconi sai deixando um legado de controvérsias políticas, escândalos sexuais e contas públicas ruins – ainda que melhores que as da Grécia. Quem assumirá em seu lugar terá o desafio de conduzir o país a um patamar mínimo de estabilidade política, ao mesmo tempo em que deverá efetuar reformas impopulares para sanar a sangria na arrecadação nacional. Analistas ouvidos pelo site de VEJA apontam que um governo liderado por bons gerentes — técnicos com menor viés político que o atual premiê — é a melhor solução para a Itália.

Um governo do tipo terá a possibilidade de aprovar reformas junto ao Parlamento, sem que haja amarras políticas. Nos anos 1990, os governos liderados por Giulio Amato e pelos diretores do banco central italiano, Carlo Azeglio Ciampi e Lamberto Dini, passaram medidas do tipo e protegeram a Itália de crises mais agudas do que a atual. Agora, o grupo preferido pelos analistas é o liderado pelo ex-membro da Comissão Europeia, o economista Mario Monti.

Outra opção é convocar eleições antecipadas, que ocorreriam provavelmente em janeiro de 2012. “Essa saída seria ruim para o país, já que criaria um vácuo de decisões políticas de dois meses e causaria, provavelmente, muita volatilidade no mercado”, explica Alberto Gallo, economista do banco RBS.

No entanto, até o momento, uma terceira possibilidade tem maiores chances de se concretizar: a de que um governo aliado a Berlusconi assuma. Entre os nomes mais cotados estão o de Gianni Letta e Angelino Alfano, subsecretário do ex-premiê e ex-ministro da Justiça, respectivamente. Letta, de 76 anos, era um dos braços direitos de Berlusconi no governo, enquanto Alfano, de 41 anos, era visto como favorito pelo próprio ex-líder para assumir seu posto.

Na avaliação do mercado, esse cenário é negativo porque, sob o comando de Berlusconi, a Itália ainda não conseguiu levar a cabo as reformas sugeridas pelo Banco Central Europeu – e nada garante que seus aliados consigam mudar esta realidade. “Não há nenhuma certeza de que a saída de Berlusconi levará a Itália à escolha de um bom sucessor. Mas essa é mais uma razão para que o Parlamento pense além da questão Berlusconi. Precisa ficar claro para o novo governo que aprovar os cortes nos gastos públicos e aumentar impostos são as únicas maneiras de ganhar essa confiança de volta”, afirma o economista Charles Jenkins, da Economist Intelligence Unit (EIU).

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O tempo virou na Itália – Até algumas semanas atrás, a economia italiana representava um risco distante para a Europa. Com uma dívida de 120% do Produto Interno Bruto (PIB), taxa de desemprego de 8,3% e crescimento econômico de 0,6% em 2011, o país está longe de ser a economia mais saudável do continente, mas tampouco está em situação tão problemática como a Grécia, Portugal ou Irlanda. No entanto, diante das inúmeras dificuldades encontradas pela Europa para solucionar a questão grega – cujo PIB representa apenas 3% do total europeu -, analistas, economistas e investidores começaram a se perguntar sobre os riscos de uma crise da dívida italiana. Diferentemente do que ocorre com a Grécia, a Europa não poderá resgatar o país em caso de colapso das contas públicas, tendo em vista que se trata da terceira maior economia do bloco.

Se o caos italiano parecia um cenário longínquo, as coisas mudaram de figura nos últimos dias. O mercado passou a desconfiar da capacidade de Berlusconi honras suas sucessivas promessas de reforma econômica. Na semana passada, Christine Lagarde, diretora do FMI chegou a afirmar que “o problema da Itália é um problema de credibilidade”. No mesmo dia, o país havia pedido ao fundo que acompanhasse suas contas, na tentativa de resgatar a confiança.

Aliada a pronunciamentos que minimizavam os efeitos da crise na Itália, a atitude surtiu, porém, o efeito oposto: a desconfiança explodiu. A taxa de retorno sobre os títulos italianos atingiu 6,77% nesta terça-feira, um patamar recorde desde a criação do euro – se aproximando dos 7% da taxa grega.

A situação se tornou, então, insustentável para o premiê. “Berlusconi perdeu totalmente a credibilidade quando começou a diminuir os problemas italianos, em um momento em que era evidente que eles eram muito sérios. E é muito mais difícil recuperar a credibilidade, do que perdê-la”, afirma Charles Jenkins, da EIU.

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