Depois do gelo, Mantega convoca encontro para afagar empresariado
Ministro se reúne nesta quarta com presidentes da Vale, Gerdau e Odebrecht em primeiro encontro do ano para falar de "conjuntura econômica"
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, se reúne com representantes de grandes empresas brasileiras nesta quarta-feira em Brasília, em novo esforço do governo para se aproximar da iniciativa privada e recuperar a confiança dos agentes na política econômica. A agenda do ministro veio com uma novidade: a pauta do encontro – descrita de forma sucinta, porém com o mínimo de transparência. Em outras épocas, reuniões começariam e terminariam sem que se soubesse o assunto – a não ser que o tema fosse revelado por empresários durante o entra e sai da portaria do Ministério da Fazenda.
A pauta oficial do almoço com empresários, antes previsto para terça-feira em São Paulo, mas remarcado para hoje, é a avaliação da conjuntura econômica e a Medida Provisória número 627, que trata da nova proposta do Executivo de tributação do lucro de controladas e coligadas de multinacionais brasileiras no exterior.
Devem participar do encontro executivos da mineradora Vale, da construtora Odebrecht, da siderúrgica Gerdau e da fabricante de ônibus Marco Polo – pesos pesados de quatro dos principais segmentos da economia brasileira: mineração, construção, siderurgia e automotivo.
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O encontro é o primeiro do ano com representantes da iniciativa privada – e ocorre após um longo período de silêncio do Palácio do Planalto em relação ao empresariado. O ministro Guido Mantega, em especial, estava mais ocupado no ano passado em explicar a trajetória de deterioração das contas públicas e tentar driblar a disparada do dólar em meio às expectativas de redução dos estímulos do Federal Reserve (Fed). Deixou o setor privado à deriva. Agora, às vésperas do pleito eleitoral, o primeiro escalão de empresários foi chamado para conversar. A expectativa é de que, mirando as eleições, o tom do governo seja pra lá de amigável.
Tarde demais – Preocupado em recuperar sua imagem diante do investidor internacional, que se mostrava arredio, sobretudo, no interesse pelas concessões, o governo mudou o discurso no final de 2013 e se mostrou mais aberto ao setor externo. Mas os efeitos ainda não se mostram contundentes. Não só a bolsa de valores continua renovando mínimas, como o fluxo de dólares para o país decepciona. No primeiro bimestre, ficou negativo em 246 milhões de dólares.
Algumas reações positivas foram, contudo, notadas após o anúncio da nova meta de superávit primário para 2014, considerada mais “realista” que as metas dos anos anteriores. O problema é que os economistas garantem que, por mais que o choque de realidade tenha por objetivo resgatar a credibilidade do gerenciamento das contas públicas, não sinaliza uma mudança na política econômica. Com isso, o esforço torna-se inútil.
A capacidade de o governo manter a estabilidade da política fiscal foi desgastada desde o início de 2012, quando inúmeras medidas de intervencionismo e maquiagem contábil foram instauradas com o objetivo de abrir mais espaço para gastos públicos. Desde então, não só os principais indicadores econômicos se deterioraram, como também a imagem do próprio governo – especialmente a do ministro Guido Mantega, cujas previsões econômicas passaram a virar motivo de piada. Como resultado, duas agências de classificação de risco ameaçam rebaixar a nota do Brasil em 2014.
Trabalho interno – Após o anúncio da nova meta fiscal, o ministro se reuniu com economistas de instituições financeiras e analistas do mercado financeiro em São Paulo no fim de fevereiro, também para análise de conjuntura e avaliação sobre a capacidade de crescimento do país. Na sexta-feira, Mantega terá encontro com representantes do setor de varejo.
As reuniões com o setor produtivo estão sendo organizadas num momento em que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sinaliza o fim do atual ciclo de aperto monetário. No fim de fevereiro o Copom elevou a taxa a 0,25 ponto percentual, para 10,75%, reduzindo o ritmo anterior de alta de 0,5 ponto percentual.
O crescimento de 2,3% do PIB em 2013 veio dentro das expectativas, tranquilizando o mercado já acostumado com os indicadores decepcionantes dos últimos dois anos. Porém, o porcentual veio ainda muito abaixo do ritmo necessário para que o país se livre das amarras do subdesenvolvimento.