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Real forte é uma realidade que veio para ficar

Desenvolvimento econômico traz um novo cenário, em que as manobras cambiais para conter a queda do dólar são custosas e ineficientes. Só as reformas tornarão a produção do país mais competitiva

Por Beatriz Ferrari
19 jan 2011, 15h45

O BC não tem poupado esforços para conter a apreciação do real. Contudo, alta dos juros, prevista para esta quarta-feira, vai na contramão destas tentativas

O Banco Central não tem poupado esforços para conter a apreciação do real em relação ao dólar. Só no governo Dilma, foram anunciadas três medidas consecutivas no mercado de câmbio. O mercado, contudo, já espera que o órgão anuncie nesta quarta-feira uma medida que vai na contramão destas intervenções. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deve elevar a taxa básica de juros, atualmente em 10,75% ao ano, para combater a escalada de preços. A principal aposta é que a alta será de 0,5 ponto percentual. Com investidores externos com o ‘bolso’ cheio de dinheiro e à procura de locais para aplicar – tendo em vista que os países desenvolvidos, como os Estados Unidos e os europeus, encontram-se com juros perto de zero e dificuldades para crescer -, o Brasil é candidatíssimo a continuar recebendo fluxos expressivos de dólares; ainda mais após um aumento dos juros. Diante deste quadro, a avaliação dos economistas ouvidos pelo site de VEJA é que não há remédio: o país precisa se acostumar ao real forte. A saída não é focar o combate à valorização da moeda, mas, sim, fazer as reformas necessárias para que o setor produtivo nacional – que luta para se impor ante importações crescentes e ganhar mercado no exterior – ganhe competitividade.

Cristiano Souza, economista do Banco Santander, avalia que é natural a apreciação do real na medida em que o país se torna mais confiável e produtivo. “O câmbio é uma resposta às condições econômicas. Países que se desenvolvem tendem a ter apreciação da moeda porque começa a existir mais demanda pelos ativos nacionais. Vamos ter que conviver com câmbio mais valorizado no longo prazo”, conforma-se. “A indústria reclama da taxa de câmbio, mas o problema não é a moeda, é a competitividade”, completa. Para o analista, as soluções para tornar o setor produtivo nacional mais competitivo incluem redução de carga tributária, além de pesados investimentos em infraestrutura e educação.

Movimento internacional – O professor de Economia e Ciência Política de Berkeley (Universidade da Califórnia), Barry Eichengreen, alerta para mudanças expressivas que ocorrerão no sistema monetário internacional nos próximos dez anos. Em seu novo livro “Exorbitant Privilege: The Rise and Fall of the Dollar and the Future of the International Monetary System”, ele prevê que o dólar deixará de ser a moeda dominante nas transações internacionais, cedendo parte de seu espaço a outras divisas. Deverão ganhar maior participação o yuan e o euro.

Einchengreeen explica que o movimento é reflexo do fato de os EUA não serem mais dominantes no PIB global, nem em produção industrial, nem em exportação. A ‘queda’ da moeda americana tem sido, inclusive, acelerada pelo próprio processo de desvalorização ‘forçada’, engendrado pelo governo Obama, que usa injeções de dólares na economia para reativá-la. O problema é que, quando isso acontece, nem todos os dólares vão para o aquecimento da economia. Grande parte desse volume de moeda vai para investimentos em outros países – no Brasil, esse é mais uma pressão de queda para a moeda norte-americana no mercado interno.

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O analista do Santander também avalia que o reequilíbrio das moedas globais espelha uma nova configuração de forças da economia internacional. Neste sentido, Einchengreeen vê que a rúpia indiana e o real brasileiro terão papel de destaque.

Contribuição do setor público – Na opinião de Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra, há um ajuste de médio e longo prazo que pode ajudar a amenizar esta inevitável valorização do real: a contenção das despesas públicas. A redução da gastança do governo contribuiria para o controle da demanda doméstica, o que poderia aliviar a alta dos preços e permitir com que o Brasil trabalhasse com taxas de juros menores – já que este é o instrumento principal de combate à inflação. Com juros mais baixos, a entrada de capital estrangeiro tenderia a perder força e, logo, contribuiria menos para a queda do dólar. Além disso, juros menores estimulariam o investimento de longo prazo, tão necessário para destravar os gargalos de infraestrutura e ampliar a competitividade brasileira.

A despeito do compromisso do governo Dilma de contingenciar o orçamento de 2011, para que o corte de gastos seja efetivo no longo prazo, ele precisa ser estrutural e duradouro. Na visão de Maristella, é preciso realizar reformas abrangentes para conter o gasto público. “Só um ajuste fiscal de fato, com reformas previdenciária e tributária, vai fazer com que a gente seja mais competitivo no longo prazo e permitir crescimento maior que 4,5% ao ano sem gerar inflação”, explica.

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