Brasil deixa de gerar 36% da energia prevista por atrasos em obras
Levantamento do ONS já desconsidera grandes empreendimentos cujos atrasos eram muito grandes
A frustração da entrega de energia prevista para este ano tem ajudado a complicar ainda mais a situação do setor elétrico, que tem se apoiado no acionamento pleno das usinas térmicas para garantir o abastecimento. Ao todo, 36% do volume total de energia que o governo esperava adicionar ao parque elétrico entre janeiro e julho de 2014 não se confirmou. Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), de janeiro a julho, entraram na rede brasileira apenas 2.417 dos 3.820 megawatts (MW) previstos de geração firme (carga que as usinas se comprometeram a entregar).
Os dados, compilados pela consultoria PSR, evidenciam a dificuldade do governo para cumprir metas de geração estipuladas no curto prazo – não entram nessa conta empreendimentos que já acumulam grandes atrasos.
Os atrasos têm obrigado o ONS a ser mais realista quanto ao início efetivo de operação das usinas, em vez de seguir os prazos apresentados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
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A distância entre as projeções dos dois órgãos federais pode ser verificado em quatro hidrelétricas em fase de construção, que ainda não acionaram nenhuma turbina. É o caso de Belo Monte (PA), Teles Pires (MT/PA), São Roque (SC) e Baixo Iguaçu (PR). No caso de Belo Monte, por exemplo, o início de operação da casa de força complementar da usina, previsto para março 2015, ocorrerá com um ano de atraso. Já Teles Pires, só deve entrar em operação em julho do ano que vem – no cronograma inicial era em abril.
Considerando o histórico de atrasos do setor, tanto em obras das usinas quanto na entrega das linhas de transmissão, Bernardo Bezerra, gerente de projetos da PSR, vê um grande risco de os prazos se dilatarem mais. De 36,4 mil MW de nova capacidade prevista para entrar no sistema até 2018, os riscos de atrasos já contaminam 9 mil MW, suficiente para abastecer 80% do consumo residencial do Brasil.
Os prejuízos financeiros causados pelos atrasos, segundo o Tribunal de Contas da União, chega a 8,3 bilhões de reais entre 2009 e 2013 e é o Tesouro que tem bancada grande parte dessa conta. Entre hidrelétricas, 79% das leiloadas entre 2005 e 2012 não cumpriram o cronograma, com atraso médio de oito meses. Nas eólicas, o índice de atraso chega a 88%, com média de dez meses. Nas térmicas, 75% atrasaram, em média, 11 meses. Nas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) – usinas de até 30 MW – o porcentual foi de 62% de descumprimento de prazo.
(Com Estadão Conteúdo)