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Belgas queriam desfazer negócio com a Petrobras já em 2006

Gastança e planos mirabolantes para a refinaria assustaram a diretoria da Astra, que já articulava o fim do negócio no mesmo ano em que ele foi fechado

Por Ana Clara Costa
4 abr 2014, 19h43

A lua de mel entre a Astra Oil e a Petrobras após a assinatura do acordo de acionistas para a compra da refinaria de Pasadena durou poucos meses. O memorando de entendimentos entre as duas empresas foi assinado em março de 2006 e o acordo foi fechado em setembro daquele ano. Contudo, já em dezembro, diretores da Astra trocavam e-mails apontando diferenças estratégicas irremediáveis entre ambas e a necessidade de saída da companhia belga do negócio.

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A troca de mensagens consta de documentos obtidos pelo site de VEJA na Justiça do Texas e aponta que a diretoria da empresa belga se articulava um mês antes da reunião de diretores da refinaria (que ocorreria em janeiro de 2007 e contaria com a participação da Petrobras) para pensar numa estratégia de saída do negócio. Em e-mail enviado ao presidente da Astra, Mike Winget, e ao brasileiro Alberto Feilhaber, ex-funcionário da Petrobras e então diretor da empresa belga, o diretor Tom Nimbley afirmava que “as profundas diferenças culturais e filosóficas entre as duas empresas” dificultavam a criação de uma parceria de longo prazo construtiva. “Nós devemos considerar seriamente a execução de uma estratégia de saída que atenda aos interesses da Astra”, escreveu o executivo.

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E-mail Astra Oil
E-mail Astra Oil (VEJA)

De acordo com as mensagens trocadas entre os executivos, a Petrobras havia assumido a operação da refinaria e, de forma arbitrária, teria redesenhado a estratégia do negócio sem levar em consideração os anseios da empresa belga. O principal ponto de discordância estava na intenção de ampliar a capacidade da planta – e nos gastos que sua execução implicaria. Com a modernização, a Petrobras vislumbrava que a produção de Pasadena saltaria de 100 mil barris por dia para 200 mil. A ampliação da capacidade, segundo os diretores, seria “jogar dinheiro fora”. Os executivos apontavam que o refino do petróleo do campo de Marlim, no Golfo do México, seria mais dispendioso do que havia sido previsto – e que mesmo diante desta informação, a Petrobras insistia em levar adiante a ampliação da capacidade. Nimbley afirmou que tal estratégia fazia parte de “uma agenda política da Petrobras” que não era, necessariamente, a melhor escolha para Pasadena.

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Ao insistir na ampliação, a Petrobras colocava em risco justamente o retorno anual de 6,9% à Astra nas operações de refino, previsto na cláusula Marlim. Em resposta, o diretor Terry Hammer afirmou que o aumento dos custos criava “um abismo” entre a forma como a Astra enxergava o negócio e a visão da Petrobras. “Nós simplesmente não temos os mesmos objetivos. Enquanto nós estamos lutando para ganhar alguns dólares otimizando a refinaria, a Petrobras é uma empresa completamente integrada que está olhando para os números de forma muito diferente”, escreveu Hammer.

Para o executivo, os gastos eram o último item da lista de preocupações da estatal. “Como Alberto (Feilhaber) disse tantas vezes, a Petrobras não tem nenhum problema em gastar dinheiro”. O executivo relata uma conversa que teve com o então presidente da Petrobras América, Renato Bertoni, em que perguntou se Pasadena era o projeto mais caro da estatal no exterior. Bertoni negou e disse que o plano estratégico para a produção de petróleo no exterior custaria 5 bilhões de dólares apenas na primeira fase. Em documento enviado ao Comitê de Investimento Estrangeiro dos Estados Unidos (CFIUS, na sigla em inglês), a Petrobras se comprometeu a investir, no mínimo, 2 bilhões de dólares em Pasadena.

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Tom Nemley respondeu afirmando que a estatal seria uma fonte constante de perda de recursos e capital humano – e que negociar a venda da participação da Astra a um valor “aceitável” era a melhor saída, permitindo à empresa belga buscar outras oportunidades “mais alinhadas aos seus interesses”. A briga judicial que colocou fim à sociedade se iniciou apenas em 2009 e durou mais de dois anos, com a Petrobras assumindo um rombo total de 1,18 bilhão de dólares pela compra de 100% da refinaria.

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